A transformação digital tornou-se uma realidade ubíqua no cenário social e organizacional moderno, moldando, entre outros, comportamentos, interações sociais, economias e funcionamento das organizações, impulsionando a inovação. Vivemos hoje rodeados de tecnologia de informação, desde os smartphones até ao armazenamento de dados na nuvem. E quem está por trás de toda esta infraestrutura digital? São engenheiros informáticos. Estes são os responsáveis, não só pela escrita de código – como numa primeira abordagem se pode pensar – mas por todo o processo de planeamento, desenvolvimento e manutenção de sistemas de software complexos. Os engenheiros informáticos são responsáveis por garantir que grandes sistemas funcionem de forma eficiente, eficaz, confiável e segura permitindo que governos, organizações e indivíduos aproveitem na plenitude as oportunidades proporcionadas pela era digital.
A Engenharia Informática está na vanguarda da inovação. O exemplo mais recente, mais atual é constituído pelo fenómeno emergente da inteligência artificial, área das ciências informáticas que procura desenvolver sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana. E, dentro do campo da IA, a IA generativa representa uma área particularmente promissora. Esta forma de IA permite que os sistemas aprendam, se adaptem e gerem novos conteúdos de forma autônoma, incluindo a geração de código. E é neste ponto que se pode questionar, “para quê a engenharia informática, se a AI pode desempenhar esse papel?”.
A resposta à questão num primeiro momento pode ser catastrófica: a Engenharia informática e em particular os programadores, vai desaparecer ou ter um papel pouco relevante na era digital. Mas, se refletirmos um pouco, rapidamente encontramos uma outra linha de pensamento: a IA generativa é um “colaborador” da Engenharia Informática. A corroborar esta ideia temos Sundar Pichai, atual CIO da Google, que afirma que “para os engenheiros informáticos, há duas coisas que também serão verdadeiras. Uma é que algum do trabalho pesado que se faz como parte da programação vai melhorar. Assim, talvez seja mais divertido programar ao longo do tempo – tal como o Google Docs torna mais fácil escrever. Por isso, se é um programador, com o tempo, ter estas IDs colaborativas com a assistência incorporada vai facilitar as coisas”. Em suma, embora a AI generativa possa alterar a natureza do trabalho dos engenheiros informáticos, é improvável que os faça desaparecer. Em vez disso, é mais provável que os dois trabalhem em conjunto de uma forma complementar para impulsionar a inovação e avançar no campo da tecnologia da informação.
A Engenharia Informática é mais do que uma disciplina académica ou uma profissão; é um catalisador para a transformação digital, um motor para a inovação tecnológica. Só investindo na educação, na inovação e na colaboração em engenharia informática podemos aproveitar ao máximo o potencial transformador da tecnologia digital.
Maria João Ferreira é Professora Associada da Universidade Portucalense, e Coordenadora do Mestrado em Engenharia Informática e Computação