“Metaverso morto, longa vida à computação espacial”

A computação espacial tem o potencial de revolucionar vários sectores, desde a educação e os cuidados de saúde até ao entretenimento e ao comércio.
27 de Março, 2024

No início da década de 2020, o conceito de metaverso, popularizado pelo romance “Snow Crash” de Neal Stephenson, de 1992, conheceu um ressurgimento de popularidade. No livro de Stephenson, o metaverso era descrito como um espaço virtual partilhado onde os utilizadores podiam interagir uns com os outros e com objectos digitais de uma forma aparentemente real. Esta ideia captou a imaginação de entusiastas da tecnologia como Mark Zuckerberg que, em 2021, anunciou que o Facebook passaria a designar-se Meta, foi então que o mundo assistiu a um aumento do interesse pelo tal metaverso. O conceito de um espaço virtual partilhado, onde os utilizadores podiam interagir, trabalhar e divertir-se, parecia ser a próxima grande novidade tecnológica. As empresas apressaram-se a investir nesta nova realidade, na esperança de garantir o seu lugar no futuro digital.

No entanto, o impulso do metaverso foi “sol de pouca dura”. Em novembro de 2022, o surgimento da inteligência artificial generativa no designado chatGPT, liderado pela OpenAI do também entusiasta Sam Altman, captou a atenção do mundo. A capacidade de criar conteúdos, como texto, imagens e vídeos, utilizando algoritmos de IA, foi recebida como um milagre tecnológico. De repente, o metaverso passou para segundo plano e houve mesmo quem o proclamasse morto.

Mas a história do metaverso estava longe de ter terminado. No incio de 2024, a Apple coloca em comercialização a ultima e mais aguardada inovação, o Apple Vision Pro. Este inovador dispositivo de realidade extendida deu uma nova vida ao conceito de metaverso ou, como agora se chama, de computação espacial. O Vision Pro promete misturar na perfeição os mundos virtual e real, oferecendo aos utilizadores uma experiência imersiva que ultrapassa as limitações dos ecrãs tradicionais.

O renascimento do metaverso através da computação espacial é impulsionado por vários factores. Em primeiro lugar, os avanços no hardware, como os oculos de realidade mista e os dispositivos de feedback háptico, tornaram possível criar experiências virtuais mais realistas e imersivas. Em segundo lugar, a crescente procura de ferramentas de trabalho e colaboração à distância pôs em evidência o potencial da computação espacial para aumentar a produtividade e a comunicação. E não podemos deixar de parte toda a industria de video jogos, que vêm nestas plataformas mais um canal de distribuição dos seus conteúdos.

Além disso, a computação espacial tem o potencial de revolucionar vários sectores, desde a educação e os cuidados de saúde até ao entretenimento e ao comércio. Imagine assistir a uma aula virtual onde os alunos podem interagir entre si e com objectos digitais como se estivessem no mesmo espaço físico, ou explorar uma loja virtual onde pode examinar produtos em 3D antes de fazer uma compra.

É claro que ainda há desafios a ultrapassar. O custo do hardware de computação espacial e a necessidade de uma infraestrutura robusta para suportar estas experiências podem limitar a adoção inicial. As questões de privacidade e segurança também têm de ser abordadas para garantir que os dados pessoais dos utilizadores são protegidos nestes ambientes virtuais.

Apesar desses desafios, o renascimento do metaverso através da computação espacial é uma prova da atração duradoura do conceito. À medida que a tecnologia continua a evoluir e mais empresas investem neste espaço, podemos esperar o aparecimento de uma nova era de interação digital. O metaverso pode ter sido negligenciado durante algum tempo, mas está longe de estar morto. Em vez disso, está a renascer como uma realidade mais imersiva, integrada e prática através do poder da computação espacial.

Ricardo Abreu é Docente universitário no IPAM Lisboa

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