Julian Assange: Finalmente em liberdade

Chegou ao fim uma saga que começou em 2010, quando o WikiLeaks divulgou centenas de milhares de documentos militares confidenciais dos EUA sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque, incluindo telegramas diplomáticos.
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Após 14 anos de uma odisseia jurídica complexa e controversa, Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, vai ser libertado. Esta decisão segue-se ao acordo judicial que Assange aceitou, declarando-se culpado de uma única acusação de conspiração para obter e divulgar documentos confidenciais de defesa nacional dos Estados Unidos.

Julian Assange, de 52 anos, concordou em declarar-se culpado perante o Tribunal Distrital dos EUA para as Ilhas Marianas do Norte. A escolha deste tribunal deveu-se à sua localização geográfica, próxima da Austrália, país natal de Assange, e ao facto de ele não querer viajar para o continente americano. Assange será condenado a 62 meses de prisão, pena que já cumpriu em grande parte.

Assange deixou a prisão de Belmarsh, no Reino Unido, na segunda-feira e foi libertado sob fiança pelo Supremo Tribunal do Reino Unido, embarcando num voo nessa tarde. Segundo uma declaração da WikiLeaks publicada na plataforma X, este desfecho é fruto de uma campanha global envolvendo ativistas, legisladores, líderes políticos e organizações como as Nações Unidas.

De volta a casa

Num vídeo publicado pela WikiLeaks, Assange é visto a assinar documentos antes de embarcar num jato privado da VistaJet. Após a audiência em Espanha, marcada para a próxima quarta-feira, espera-se que regresse à Austrália. A sua mulher, Stella Assange, expressou imensa gratidão a todos que apoiaram a causa ao longo dos anos.

Reações internacionais e processos judiciais

O governo australiano, liderado pelo primeiro-ministro Anthony Albanese, tem sido um defensor constante da libertação de Assange. Apesar de evitar comentar diretamente os processos judiciais em curso, um porta-voz afirmou que o encarceramento prolongado de Assange não serve nenhum propósito útil.

Jameel Jaffer, diretor executivo do Knight First Amendment Institute da Universidade de Columbia, destacou que, embora o acordo evite um cenário devastador para a liberdade de imprensa, o facto de Assange ter cumprido cinco anos de prisão por atividades jornalísticas comuns lança uma sombra sobre o jornalismo global.

A história de Assange e do WikiLeaks

A saga de Assange começou em 2010, quando o WikiLeaks divulgou centenas de milhares de documentos militares confidenciais dos EUA sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque, incluindo telegramas diplomáticos. Estas divulgações, feitas com a ajuda de Chelsea Manning, uma antiga analista dos serviços secretos militares dos EUA, foram consideradas as maiores violações de segurança da história militar dos EUA.

As acusações contra Assange têm gerado controvérsia global, com muitos defensores da liberdade de imprensa argumentando que criminalizar Assange representa uma ameaça direta à liberdade de expressão.

Anos de confinamento e luta jurídica

Assange foi detido pela primeira vez em 2010, na Grã-Bretanha, devido a um mandado de captura europeu relacionado com alegações de crimes sexuais na Suécia, que mais tarde foram retiradas. Para evitar a extradição para a Suécia, refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, onde permaneceu por sete anos. Em 2019, foi removido da embaixada e preso por não pagar a fiança. Desde então, esteve na prisão de alta segurança de Belmarsh, em Londres, em luta contra a extradição para os EUA.

A libertação de Julian Assange marca o fim de uma longa batalha jurídica e política. Enquanto alguns veem esta decisão como uma vitória para a liberdade de imprensa, outros ainda questionam as implicações para o futuro do jornalismo e da divulgação de informações confidenciais. Seja como for, Assange regressa agora à Austrália, encerrando um capítulo significativo na história do ativismo digital e da liberdade de expressão.

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