Bosch mantém resultado positivo em Portugal com vendas acima dos dois mil milhões de euros 

Transformação do portfólio da unidade em Braga, produção de bombas de calor em Aveiro e novas áreas de competência em Lisboa para responder aos desafios do futuro.
23 de Maio, 2024
Carlos Ribas e Javier Gonzalez

A Bosch terminou o ano fiscal de 2023 com vendas no valor de 2,1 mil milhões de euros em Portugal, incluindo vendas e serviços a empresas do Grupo Bosch. A empresa registou um ligeiro crescimento de 1,7 por cento relativamente ao ano anterior. No mercado local, a Bosch registou vendas consolidadas de 383 milhões de euros, 5,2 por cento acima do nível de 2022. “Apesar de estarmos a viver um ambiente global desafiante e de alguma incerteza, 2023 foi um ano positivo para a Bosch em Portugal. Para este ano, estamos alinhados com as perspetivas gerais da Bosch, e por isso as nossas previsões são moderadas, tendo em conta o atual cenário económico e também a transformação do negócio que a empresa está a realizar a nível global”, afirma Javier González Pareja, Presidente do Grupo Bosch em Portugal e Espanha.

Os resultados alcançados em 2023 mantêm a Bosch como um dos maiores exportadores do país, com um nível de exportação superior a 97 por cento, com mais de 50 países em todo o mundo a importar soluções produzidas em Aveiro, Braga e Ovar, e serviços prestados a partir de Lisboa para o mundo. Estes números reforçam a importância da Bosch no total de exportações do país (cerca 1,7 por cento), traduzindo-se num impacto de cerca de 1% por centro do PIB de Portugal.

Também no que ao número de colaboradores diz respeito, a Bosch continua nos lugares cimeiros dos maiores empregadores do país. A 31 dezembro de 2023, a empresa contava com pouco mais de 7.000 colaboradores em Portugal, um aumento significativo em relação ao ano anterior (cerca de 8 por cento). “Ao longo dos anos, temos vindo a assistir a um crescimento sustentado da Bosch em Portugal, que só possível graças à dedicação e ao profissionalismo dos nossos colaboradores. É nesse caminho que nos queremos manter, conscientes de que o futuro já está a trazer desafios para o negócio da Bosch”, afirma Carlos Ribas, responsável da Bosch em Portugal e Diretor Técnico da Bosch em Braga.

Relativamente às perspetivas para o corrente ano, a Bosch espera uma ligeira evolução positiva em Portugal, tanto a nível de volume de negócios como de colaboradores. “Apesar de um ambiente económico e social que se mantém exigente, as nossas expetativas para 2024 são de um ligeiro crescimento das vendas em todas as localizações em Portugal”, explica Carlos Ribas.

Desenvolvimento das áreas de negócio em Portugal

No setor da Mobilidade, a Bosch está a avançar com decisões estratégicas globais que visam o crescimento futuro deste negócio. “A Bosch definiu a mobilidade sustentável como uma das suas áreas de crescimento, com especial foco para a condução eletrificada e automatizada. Esta estratégia implica uma nova organização no setor empresarial da mobilidade na Bosch a nível global, com a aposta em novas tecnologias e soluções e reforço de algumas tecnologias nas quais já vínhamos a trabalhar. Esta transformação terá o seu impacto no portfólio de produtos e, consequentemente, no negócio da unidade em Braga”, explica o responsável da Bosch em Portugal. 

No caso da unidade de Braga, a reorganização da mobilidade na Bosch irá traduzir-se numa transformação do portfólio de produtos, que passará gradualmente dos sistemas de infotainment para soluções como computadores de bordo, câmaras e sensores. A Bosch está a focar os seus esforços de desenvolvimento e produção de tecnologias essenciais para as necessidades atuais e futuras dos veículos, que irão contribuir para uma mobilidade mais segura, confortável e sustentável. A Bosch em Braga está a receber algumas dessas tecnologias e continuará a desempenhar um papel importante o futuro da mobilidade tanto a nível de desenvolvimento como de produção.

Mais do que nunca, as inovações na área automóvel acontecem por através de bits e bytes. Os veículos definidos por software oferecem duas vantagens notáveis. A primeira é a velocidade de desenvolvimento: em vez de levar anos, a implementação de novas funções em sistemas existentes será, no futuro, apenas uma questão de dias. A segunda é a dissociação do desenvolvimento de software e hardware, o que significa que os automóveis vão parecer novos por mais tempo graças às atualizações de software. A Bosch está com esta transformação a responder a essa tendência de engenharia automotiva baseada em software. Além disso, a empresa estima que impulsionado por esta tendência, o mercado do software automóvel deverá atingir um volume significativamente superior a 200 mil milhões de euros até 2030, o que significa três vezes mais do que em 2020.

A área de negócios de Energia e Tecnologia de Edifícios, na qual estão inseridas as atividades das unidades de Aveiro e de Ovar, atravessam momentos diferentes no âmbito da estratégia global da Bosch. O ano de 2023 foi de grande importância para a unidade da Bosch em Aveiro, que reforçou a sua posição enquanto localização estratégica para a produção e desenvolvimento de bombas de calor dentro do Grupo. Para 2024, as expetativas são cautelosamente positivas, nomeadamente com o aval por parte da casa-mãe para avançar com a instalação da segunda linha de produção de bombas de calor. “Para a Bosch, as bombas de calor são um componente fundamental de edifícios neutros em carbono. Embora o mercado tenha estagnado em toda a Europa em 2023, a Bosch conseguiu fazer crescer o seu negócio em quase 50 por cento e prevê continuar a crescer mais rápido do que o mercado neste segmento. Nesse sentido, a previsão é de continuar a investir não apenas na capacidade de produção, mas também na expansão do nosso portfólio de produtos, nomeadamente com bombas de calor que não são apenas silenciosas e eficientes, mas também económicas”, explica Carlos Ribas

No caso da unidade de Ovar, conforme já anunciado, a empresa decidiu realinhar a sua divisão Building Technologies com a venda da maior parte do negócio de produtos desta divisão. Isso inclui as unidades de negócios de Vídeo, Acesso e Intrusão e Comunicação, que também irá afetar esta localização. “A Bosch Portugal está empenhada em reforçar as suas atividades noutras áreas estratégicas, como soluções de mobilidade e bombas de calor, e em atingir os seus objetivos de negócio, apesar da venda planeada e do impacto esperado no nosso volume de negócios local”, afirmou Carlos Ribas.

Na sua unidade em Lisboa a Bosch mantém a aposta na ampliação do seu portfólio de serviços, na diversificação das suas áreas de negócios, com novas áreas de competência em funções de administração, e também no potencial aumento das suas equipas multiculturais que colaboram em diferentes projetos internacionais do Grupo Bosch, perfazendo atualmente um total de 39 diferentes nacionalidades, e que reforçam a posição de Lisboa como um hub para prestação de serviços a nível global. Dentro desta unidade, está também a equipa da Service Solutions, dedicada à prestação de serviços nas áreas de experiência de cliente, mobilidade, monitorização e processos de negócio, que tem vindo ainda a contribuir fortemente para o crescimento da Bosch em Portugal.

Por fim, a área de Bens de Consumo, que engloba os eletrodomésticos e as ferramentas elétricas, embora tenha passado por alguma restruturação a nível do Grupo, em Portugal a sua atividade e estrutura manteve-se estável contribuindo, igualmente, para os resultados positivos no país.  

Grupo Bosch: perspetivas para 2024 e rumo estratégico

O Grupo Bosch aumentou as suas vendas e lucros em 2023 e está a implementar com sucesso a sua estratégia de crescimento, apesar de um ambiente difícil. Segundo Stefan Hartung, presidente do conselho de administração da Robert Bosch GmbH, “no ano fiscal de 2023, atingimos os nossos objetivos financeiros e reforçámos a nossa posição de mercado numa série de áreas de negócio, desde semicondutores a sistemas de construção integrados”. A empresa aumentou as suas vendas em 3,8 por cento em comparação com o ano anterior, para 91,6 mil milhões de euros, apesar das condições económicas e de mercado desfavoráveis. Com 5,3 por cento, a margem EBIT das operações foi 1 ponto percentual superior à do ano anterior. Foi, portanto, superior ao esperado, mas ainda inferior à meta de margem de pelo menos 7 por cento exigida a longo prazo. A Bosch pretende alcançar este objetivo até 2026. No primeiro trimestre de 2024, as vendas caíram mais de 0,8 por cento em termos anuais; após o ajuste dos efeitos da taxa de câmbio, isto equivale a um aumento de 2,7 por cento. No entanto, a empresa espera que seja difícil aumentar a margem EBIT das operações em comparação com o ano anterior. 

Além do ambiente de mercado moderado e do esperado aumento adicional de investimentos iniciais em áreas de importância estratégica, a reestruturação e as melhorias de processos terão também um impacto negativo no início, com o seu efeito positivo a surgir apenas mais adiante. Mesmo que o ambiente económico e social continue exigente, a Bosch pretende figurar entre os três principais fornecedores nos seus principais mercados em todas as regiões do mundo. “Estamos à procura de inovações, parcerias e aquisições para garantir que cresçamos à medida que as nossas indústrias se transformam – apesar dos ventos económicos contrários”, afirma Hartung.

No seu negócio principal de mobilidade, por exemplo, a Bosch está sistematicamente a impulsionar decisões estratégicas para o crescimento futuro. Só este ano, está lançando cerca de 30 projetos de produção de veículos elétricos. Na área de crescimento do hidrogénio, a Bosch reafirmou as suas expectativas de negócio: até 2030, as suas vendas com tecnologia de hidrogénio poderão atingir os 5 mil milhões de euros. Além disso, a Bosch explora sistematicamente oportunidades de crescimento na área da tecnologia de aquecimento. Para além disso, poderá haver uma ligeira melhoria nos mercados de bens de consumo após dois anos de contenção. A Bosch espera que o seu próprio negócio se estabilize, para o qual deverão contribuir as inovações, bem como a expansão da sua presença internacional. No geral, a ação climática continua a desempenhar um papel central para a Bosch. Na opinião de Hartung, oferece grandes oportunidades de crescimento, mesmo que mercados como o da eletromobilidade não estejam a desenvolver-se tão rapidamente quanto o esperado. No entanto, a Bosch continua a fazer grandes investimentos iniciais em tecnologias para um futuro neutro em carbono, a fim de ajudar a moldar esta transformação a partir do topo. “Há pressão para cortar subsídios para tecnologias eficientes em termos de CO2. Mas a ação climática requer investimento sustentado – do governo, das empresas e de cada um de nós”, reforça o CEO da Bosch.

Opinião