João Miguel Mesquita
Nos últimos meses, o mercado bolsista americano tem sido dominado por um fervor em torno da inteligência artificial (IA), evocando memórias da bolha das “dotcom” que estourou no início dos anos 2000. O índice S&P 500 atingiu novos recordes este ano, após uma impressionante recuperação de mais de 50% desde o seu ponto mais baixo em outubro de 2022. Paralelamente, o Nasdaq Composite, focado em tecnologia, subiu mais de 70% desde o final de 2022. Este cenário tem suscitado questões sobre se os preços das ações estão, mais uma vez, inflacionados pelo otimismo em relação a uma tecnologia revolucionária.
A atual febre da IA, combinada com uma economia resiliente e lucros corporativos robustos, impulsionou o crescimento das avaliações das ações. Apesar disso, muitos gigantes da tecnologia hoje apresentam uma situação financeira muito mais sólida em comparação com as empresas “dotcom” do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. No entanto, algumas medidas, como o otimismo dos investidores, ainda não atingiram os níveis extremos observados na virada do século.
A grande preocupação é que o entusiasmo atual em torno da IA possa culminar num colapso semelhante ao da bolha das “dotcom”. Entre 1997 e 2000, o Nasdaq Composite quadruplicou, apenas para despencar quase 80% entre março de 2000 e outubro de 2002. Da mesma forma, o S&P 500 duplicou durante um período semelhante, antes de cair quase 50%. Embora empresas como a Amazon tenham sobrevivido e prosperado após o estouro da bolha, muitas outras nunca se recuperaram.
O setor de tecnologias da informação representa agora 32% do valor total de mercado do S&P 500, a maior percentagem desde 2000, quando alcançou quase 35%, segundo a LSEG Datastream. Além disso, apenas três empresas — Microsoft, Apple e Nvidia — correspondem a mais de 20% do índice, sublinhando a concentração de valor em poucas mãos.
Esta situação levanta questões sobre a sustentabilidade do atual rally do mercado. Embora as condições económicas e financeiras sejam diferentes das da bolha das “dotcom”, as comparações são inevitáveis. A história pode não se repetir exatamente da mesma forma, mas os investidores e analistas estão cautelosos. O impacto disruptivo da IA na economia e nos mercados financeiros ainda está por ser completamente compreendido e internalizado.
À medida que o entusiasmo com a IA continua a crescer, a prudência é aconselhada. Os investidores devem estar cientes dos riscos potenciais e lembrar-se das lições do passado. Embora a IA tenha o potencial de transformar várias indústrias, a trajetória futura do mercado é incerta, e o otimismo desmedido pode levar a uma correção dolorosa. A recuperação do mercado bolsista americano, alimentada pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial, está a levantar alertas de uma possível nova bolha, semelhante à das “dotcom”. Enquanto a tecnologia avança e promete revolucionar inúmeros setores, os investidores devem manter uma abordagem cautelosa, lembrando-se das lições do passado e permanecendo atentos aos aos riscos inerentes a este novo boom tecnológico.
Com informação Reuters
