Maioria das empresas não domina ferramentas de IA generativa

As empresas com melhor desempenho em IA Generativa têm vantagem devido à ligação clara ao desempenho do negócio, à aposta em infraestruturas tecnológicas modernas, à existência de boas estruturas de gestão de dados, ao apoio por parte da liderança e à construção de uma base sólida de IA responsável.
12 de Março, 2024

A Inteligência Artificial (IA) Generativa tem vindo a crescer no ecossistema empresarial, porém, e por ser uma tecnologia emergente, 90% das empresas ainda não a conseguiu dominar e capitalizar. Destas, 40% não adotou qualquer ferramenta desta natureza e 50% está em fases iniciais da sua implementação, segundo o estudo “What GenAI’s Top Performers Do Differently”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG). Em oposição, apenas 10% das empresas já opera correntemente pelo menos uma ferramenta de IA Generativa em toda a organização, conduzindo a ganhos de eficiência, a uma melhor experiência do cliente e a um aumento da receita.
A consultora estima que, para uma empresa com uma receita de 20 mil milhões de dólares, a IA Generativa pode gerar lucros entre 500 milhões e mil milhões de dólares, sendo que quase um terço surge nos primeiros 18 meses.

“As empresas que têm adotado a IA Generativa mais lentamente ou que ainda não a introduziram de todo devem arriscar mais, tomar medidas decisivas e aumentar as suas aspirações em relação à tecnologia tendo em conta as vantagens que a sua adoção traz para as operações e para o negócio”, afirma Tiago Kullberg, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa. “Estas organizações devem inspirar-se no que é feito pelas que têm liderado esta revolução tecnológica e lucrado com ela para ganharem terreno e vantagem competitiva”.

A incapacidade de adotar e rentabilizar a IA Generativa é atribuída, sobretudo, à falta de compreensão sobre como dar os primeiros passos, às dúvidas quanto às aplicações mais impactantes para cada setor e quanto às estratégias específicas a adotar para uma implementação bem-sucedida desta tecnologia, indica o inquérito a mais de 150 executivos seniores de 10 setores a nível global.

Apesar das dificuldades na sua adoção, a IA Generativa tem estado no radar das lideranças, com cerca de dois terços (65%) dos executivos seniores inquiridos a indicar que esta tecnologia tem o maior potencial disruptivo dos próximos cinco anos, sendo que um terço já aumentou os investimentos nesta área. As soluções de IA Generativa ajudam na produtividade dos colaboradores, que pode aumentar de 10% a 20%, e esta tecnologia pode ser utilizada, a longo prazo, para remodelar funções ou criar novos modelos de negócio.

O marketing, as vendas e as operações com clientes, e a investigação e desenvolvimento tecnológico são os dois grupos onde existe maior potencial para criar valor com a IA Generativa, sendo apontados por 70% e 50% dos executivos, respetivamente. Nas empresas que apostam nesta tecnologia, cerca de 60% das iniciativas que nela assentam reduzem os custos e 40% aumentam as receitas.

O estudo revela ainda os principais fatores que distinguem as empresas que já lucram com a utilização da IA Generativa das restantes. Primeiramente, uma ligação clara ao desempenho empresarial, com a adaptação explícita dos projetos de IA Generativa e a concentração num pequeno número de aplicações específicas com potencial para acrescentar um valor significativo quando expandidas. Em segundo lugar, a aposta em infraestruturas tecnológicas modernas, que permite que as empresas desenvolvam novos serviços alimentados por IA Generativa assentes em modelos de base, e trabalhem sem as limitações de programadores externos. Depois, a forte capacidade de armazenamento, gestão e análise de dados, que é fundamental, uma vez que os modelos serão mais fortes quanto melhor a qualidade dos dados que os alimentam. Além disso, nestes 10% de empresas que estão a capitalizar a IA Generativa existe um apoio por parte da liderança, através da capacitação dos gestores, que têm uma compreensão profunda do impacto da tecnologia no setor e procuram assegurar que a organização a aproveite para gerar valor. Finalmente, estas organizações desenvolvem diretrizes e políticas claras para garantir que se seguem os princípios da IA responsável, assegurando a proteção da empresa.  
Quatro passos que as empresas devem dar para introduzir a IA Generativa
As empresas que ainda não adotaram a IA Generativa devem investir na sua introdução para poderem beneficiar dela e competir com os 10% que já dominam e lucram com esta tecnologia. A BCG destaca quatro passos que devem ser seguidos por este segmento:

  1. Transformar os líderes em atores informados, procurando que se cultivem sobre o valor da IA Generativa e pressionando as organizações a adotar a tecnologia. É importante que esta curiosidade parta do topo para impulsionar a adoção de toda a equipa, definindo metas de utilização e acompanhando o seu progresso;
  2. Começar com um pequeno número de aplicações, aproveitando o facto de as mais relevantes por setor já serem conhecidas. As organizações devem escolher aquelas que melhor se aplicam às suas necessidades, apostar no mínimo viável para as desenvolver e, quando já as conseguirem dominar, diversificar o leque de modo a acrescentar maior valor ao negócio;
  3. Aproveitar parceiros externos no início, confiando em plataformas de IA Generativa já desenvolvidas e prontas a utilizar, o que lhes permite adaptar-se à evolução do mercado, implementar soluções mais rapidamente e avançar nesta área;
  4. Adaptar a liderança às necessidades dos projetos de IA Generativa. Em muitas organizações, a liderança dos principais projetos tecnológicos está pouco desenvolvida e, sem a devida atenção, os projetos-piloto podem falhar. Para o impedir, as empresas devem criar uma liderança personalizada para os projetos de IA Generativa, facilitando decisões e intervenções rápidas para manter o progresso, garantindo as funcionalidades necessárias. Assim, as empresas podem continuar a aperfeiçoar o seu modelo de liderança e, posteriormente, adotar um conjunto mais vasto de aplicações.

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