Os computadores clássicos processam informação através de bits, que assumem valores de 0 ou 1. Já os computadores quânticos utilizam qubits, capazes de representar múltiplos estados simultaneamente graças à superposição. Este fenómeno permite que problemas complexos, que levariam supercomputadores séculos para resolver, sejam tratados em minutos. Recentemente, o chip Willow do Google demonstrou resolver cálculos que demorariam septilhões de anos em máquinas convencionais em apenas cinco minutos — um marco histórico na ciência. Por mais fascinante que isso pareça, há um lado sombrio: os métodos que hoje protegem as nossas informações — desde passwords bancárias a transações de criptomoedas — estão sob ameaça.
O “Q Day”, termo utilizado para descrever o momento em que os computadores quânticos terão capacidade para quebrar os sistemas de encriptação atuais, podem colocar a segurança digital em risco e isso inclui o RSA e outros algorítmos que sustentam a segurança digital moderna. Instituições financeiras, sistemas governamentais e até as nossas comunicações diárias estão baseadas nestes métodos. Quando este dia chegar, dados criptografados poderão ser descodificados em massa e, infelizmente, alguns grupos criminosos já adotaram a prática de “colher agora, decifrar depois”, acumulando informações atuais com o objetivo de poder explorá-las no futuro.
Mas, temos boas notícias nesta corrida para o pós-quântico, é que algumas grandes corporações tecnológicas como por exemplo a IBM têm liderado a transição para sistemas de criptografia pós-quântica, desenvolvendo algorítmos projetados para resistir aos ataques, apesar de saber que a implementação global desses sistemas é lenta e dispendiosa, o que poderá deixar muitos setores vulneráveis, como por exemplo, o mercado das criptomoedas, avaliado em biliões de dólares e que certamente poderá ser um dos setores mais afetados dessa nova era. O Bitcoin, que utiliza o algoritmo SHA-256, é particularmente suscetível a ataques quânticos. Investigadores sugerem que computadores quânticos avançados poderiam comprometer chaves privadas, o que permitira o acesso não autorizado a carteiras digitais.
Contudo, nem todas as criptomoedas estão igualmente em risco. Vitalik Buterin, cofundador do Ethereum, defende que pequenas alterações no protocolo podem tornar a blockchain mais resistente. Além disso, novas criptomoedas estão a surgir com foco na segurança pós-quântica, criando um campo de batalha tecnológico que determinará o futuro do mercado.
A corrida tecnológica também é uma batalha pela supremacia geopolítica entre Estados Unidos e China. A disputa entre os gigantes da economia mundial pelo domínio quântico vai muito além da tecnologia. Um exemplo emblemático foi a criação do Quantum Network Joint Research Center na China, que conecta várias cidades com redes seguras à base de tecnologia quântica. Este avanço contrasta com os Estados Unidos, onde empresas privadas, como Google e IBM, lideram o desenvolvimento com fortes investimentos governamentais em iniciativas como o National Quantum Initiative Act. Ambos os países reconhecem que dominar esta tecnologia poderá garantir vantagens estratégicas não apenas na economia e ciências, mas também na segurança e espionagem. O progresso chinês em redes quânticas destaca-se na aplicação militar e na proteção contra ciberataques, enquanto os EUA apostam na criação de supercomputadores quânticos universais.
E agora? Como consumidores, o que podemos fazer?
Embora a computação quântica ainda esteja em desenvolvimento, o impacto já está a ser sentido. Bancos, governos e empresas de tecnologia estão a acelerar a transição para métodos de segurança mais robustos, mas os consumidores também têm um papel a desempenhar. Educar-se sobre os riscos e exigir mais transparência sobre as medidas de segurança podem fazer a diferença. Além disso, para aqueles envolvidos em criptomoedas, é prudente estar atento às mudanças tecnológicas e considerar soluções que ofereçam maior segurança, pois os computadores quânticos não são apenas um marco na ciência, são uma revolução com impactos profundos na forma como vivemos e nos protegemos. A segurança digital e o mercado financeiro estão na linha da frente desta mudança e por isso o desafio não é apenas tecnológico, mas essencialmente social e estratégico. À medida que avançamos para esta nova era, a pergunta que devemos fazer não é “se”, mas “quando” estaremos prontos para lidar com o impacto inevitável e se verdadeiramente estaremos preparados.