A “Estratégia Digital Nacional” é um marco na transformação digital de Portugal, apresentando um roteiro ambicioso para posicionar o país como líder europeu em inovação, inclusão e sustentabilidade no ambiente digital. Contudo, para que os objetivos delineados sejam alcançados, é crucial refletir sobre os desafios e as oportunidades que este plano apresenta.
Em primeiro lugar, é necessário ter uma visão central clara e inspiradora. Promover o digital como uma força democratizadora e facilitadora da vida quotidiana é uma meta que pode transformar profundamente a relação entre cidadãos, empresas e o Estado. No entanto, para que isso se concretize, será necessário superar barreiras históricas, como a baixa literacia digital e as desigualdades de acesso à tecnologia, especialmente em regiões de baixa densidade populacional.
As pessoas têm de estar no centro da transformação. Um dos pilares mais relevantes da estratégia é a capacitação digital da população. Embora tenham existido avanços significativos, dados recentes mostram que apenas 56% dos portugueses possuem competências digitais básicas. A meta de atingir 80% até 2030 é ambiciosa e necessária. Para isso, programas como o “Currículo das Competências Digitais” e o “Programa Nacional das Raparigas nas STEM” desempenharão um papel crucial, promovendo a inclusão e reduzindo as disparidades de gênero em áreas tecnológicas.
No âmbito empresarial, a estratégia reconhece a importância de apoiar as Pequenas e Médias Empresas (PME) na sua transformação digital. Com apenas 54% das PME portuguesas apresentando um nível básico de intensidade digital em 2023, a meta de 90% até 2030 exige um esforço coordenado. Iniciativas como a “Jornada Digital para as PME” e a promoção da adoção de ferramentas de Inteligência Artificial são essenciais para tornar Portugal mais competitivo e preparado para o futuro.
A digitalização do setor público é outro ponto forte da estratégia. A promessa de disponibilizar todos os serviços públicos passíveis de digitalização até 2030 é um compromisso que pode revolucionar a relação entre os cidadãos e o Estado. Entretanto, a inclusão digital deve ser uma prioridade para evitar que grupos vulneráveis fiquem à margem deste progresso.
A dimensão das infraestruturas reflete o potencial de Portugal em expandir a sua cobertura 5G e promover a adoção de serviços na cloud. Alcançar 100% de cobertura 5G e garantir que 75% das empresas utilizem computação em cloud até 2030 são metas que, se atingidas, colocarão o país na vanguarda da modernização digital.
Mas apesar do otimismo, é importante destacar que a concretização desta estratégia requer um financiamento sustentado, porque a implementação das iniciativas propostas requer um investimento significativo e uma gestão financeira eficiente.
É necessário igualmente assegurar uma inclusão digital para garantir que as zonas rurais e populações vulneráveis não sejam deixadas para trás.
Por fim, é também essencial assegurar-se uma colaboração multissetorial entre empresas, universidades, sociedade civil e administração pública para alcançar o sucesso.
Em suma, a “Estratégia Digital Nacional” tem o potencial de transformar Portugal numa sociedade mais próspera, inclusiva e inovadora. No entanto, o sucesso dependerá de uma execução eficiente, inclusiva e transparente, que coloque as pessoas no centro do progresso. É uma oportunidade única para o país, que não deve ser desperdiçada.
Luís Lemos é Porto & Lisbon Branch Director da Ricoh Portugal