A presidência de Donald Trump está a redefinir a política económica dos Estados Unidos e a desafiar o status quo global. O discurso nacionalista e centrado na defesa dos interesses económicos exclusivos dos norte-americanos, mostra uma abordagem protecionista que contrasta fortemente com a tradição liberal predominante na economia mundial desde o final do século XX.
Trump mostrou que o lema “America First” afinal não era “só um sound byte”. O recém-assinado memorando que estabelece o “Plano Justo e Recíproco”, que visa “corrigir desequilíbrios comerciais e práticas desleais por parte de parceiros comerciais estrangeiros”, já está a obrigar as multinacionais a rever as suas cadeias de abastecimento, o que pode aumentar os custos de produção e gerar instabilidade nos mercados financeiros.
Trump continua a impor tarifas sobre uma vasta gama de produtos importados, especialmente provenientes da China, e mais recentemente dos seus aliados naturais, como o canada e europa, dando início a uma guerra comercial que afetou as cadeias globais de produção. As tarifas sobre o aço, o alumínio e os produtos tecnológicos visavam reduzir o défice comercial dos EUA, estimular a produção interna e proteger indústrias estratégicas.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e os EUA, que durante décadas, foram um dos principais promotores do liberalismo e da desregulação para estimular o crescimento económico global, surge agora com um discurso que representa um recuo face a essa abordagem. Ou será que não? Os ânimos estão exaltados, mas esta posição de Trump é entendida por muitos.
Para os defensores do liberalismo, a estratégia de Trump distorce os mercados e cria um ambiente de incerteza económica. Os críticos do liberalismo argumentam que este favoreceu a desindustrialização dos EUA, e permitiu que a produção migrasse para países com menores custos laborais, resultando no encerramento de fábricas e no desemprego em várias regiões.
O novo protecionismo parece querer reverter tudo isto e promover uma política de “reindustrialização”, mas há várias questões em cima da mesa:
- Será que pode mesmo reverter décadas de realocação produtiva e avanço tecnológico?
- Continuarão as empresas americanas a ir buscar mão de obra mais barata fora dos EUA?
- Existem riscos de um isolacionismo económico?
- A retração dos EUA no comércio global poderia abrir caminho para a China expandir ainda mais a sua influência económica e política?
Esta é uma guerra onde já nem os aliados históricos dos EUA estão a salvo e são obrigados a repensar as suas estratégias. As relações comerciais entre os EUA e a União Europeia estão tensas, a guerra comercial vai desestabilizar as cadeias globais de produção e penalizar o equilíbrio dos mercados financeiros.
Mas à parte das ideologias, políticas e consequências, este confronto entre o novo protecionismo de Trump e o liberalismo económico obriga-nos a refletir sobre uma questão fundamental da economia global contemporânea: os efeitos da globalização e o equilíbrio entre abertura económica e proteção da indústria nacional.
O que parece certo é que o mundo pós-Trump já não é o mesmo e que empresas, investidores e governos precisam de se adaptar a um jogo comercial onde as regras estão longe de ser definitivas é muito preocupante o vento que vem dos EUA, porque, como sabemos, quando a económica dos EUA apanha uma constipação, a da Europa apanha uma gripe.
Paulo Veiga é CEO da EAD.