Thierry Breton, comissário europeu do Mercado Interno, apresentou hoje a sua demissão após uma série de divergências com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. A saída de Breton ocorre numa fase crítica, em plena reta final das negociações para a constituição do novo colégio de comissários que deverá acompanhar Von der Leyen no seu segundo mandato.
Segundo uma carta que Breton partilhou na rede social X (antigo Twitter), apesar de ter sido inicialmente escolhido por França para continuar no seu cargo no novo executivo comunitário, Ursula von der Leyen terá solicitado a França que retirasse o seu nome. A decisão, que teria sido tomada por “razões pessoais” nunca discutidas diretamente com Breton, foi acompanhada pela promessa de uma “pasta mais influente” para França no futuro colégio de comissários.
Face a esta mudança, Breton sentiu-se obrigado a apresentar a sua demissão, sublinhando que já não poderia continuar a exercer as suas funções. “Ao longo dos últimos cinco anos, esforcei-me incansavelmente por defender e promover o bem comum europeu, acima dos interesses nacionais e partidários, e foi uma honra”, afirmou na missiva, ao mesmo tempo que criticava a “liderança questionável” de Von der Leyen.
Impacto na formação da nova Comissão Europeia
A demissão de Breton surge num momento delicado para Ursula von der Leyen, que está a concluir as negociações para a composição da nova Comissão Europeia. A substituição do candidato francês poderá causar novos atrasos na apresentação da equipa, cuja divulgação estava inicialmente prevista para a semana passada, mas foi adiada para esta terça-feira, dia 17 de setembro. Fontes europeias já haviam indicado que este atraso se devia, em parte, às tentativas de Von der Leyen de alcançar a paridade de género no colégio de comissários, um dos seus objetivos declarados.
A mudança de Thierry Breton também acontece no contexto de outras alterações, como a substituição do candidato esloveno por uma candidata feminina. A paridade de género tem sido uma questão sensível durante estas negociações, com Von der Leyen a pressionar vários Estados-membros, incluindo a Eslovénia e a Roménia, para propor mais mulheres. Atualmente, 11 dos 28 candidatos são mulheres, mas este número poderá aumentar à medida que os países, incluindo França, revejam as suas nomeações.
Thierry Breton enquanto comissário
Thierry Breton desempenhou um papel crucial no desenvolvimento e na implementação de políticas estratégicas no mercado digital e industrial europeu durante os últimos cinco anos. Entre os seus principais feitos destacam-se:
Estratégia Digital Europeia: Breton foi um dos principais defensores da soberania digital europeia, promovendo o desenvolvimento de infraestruturas digitais robustas e a criação de regulamentações mais rígidas sobre o controlo de dados.
Regulamentação das Grandes Tecnológicas: Sob sua liderança, a Comissão Europeia reforçou o escrutínio sobre as grandes empresas tecnológicas, introduzindo o “Digital Markets Act” e o “Digital Services Act”, duas legislações fundamentais para regular o mercado digital e assegurar maior transparência e concorrência justa.
Indústria Europeia e Recuperação Pós-COVID-19: Breton foi uma figura central nos esforços de recuperação económica pós-pandemia, impulsionando iniciativas para reforçar a resiliência das cadeias de abastecimento industriais e garantir a autonomia estratégica da Europa em setores críticos, como o das tecnologias emergentes e das matérias-primas.
Gestão da Crise dos Semicondutores: Durante o seu mandato, desempenhou um papel fundamental na formulação da “European Chips Act”, uma iniciativa destinada a aumentar a capacidade de produção de semicondutores na Europa e reduzir a dependência de fornecedores externos.
Com informação Lusa