Thierry Breton, o comissário “Digital”, demite-se

A saída de Breton ocorre numa fase crítica, em plena reta final das negociações para a constituição do novo colégio de comissários que deverá acompanhar Von der Leyen no seu segundo mandato.
16 de Setembro, 2024
Thierry Breton

Thierry Breton, comissário europeu do Mercado Interno, apresentou hoje a sua demissão após uma série de divergências com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. A saída de Breton ocorre numa fase crítica, em plena reta final das negociações para a constituição do novo colégio de comissários que deverá acompanhar Von der Leyen no seu segundo mandato.

Segundo uma carta que Breton partilhou na rede social X (antigo Twitter), apesar de ter sido inicialmente escolhido por França para continuar no seu cargo no novo executivo comunitário, Ursula von der Leyen terá solicitado a França que retirasse o seu nome. A decisão, que teria sido tomada por “razões pessoais” nunca discutidas diretamente com Breton, foi acompanhada pela promessa de uma “pasta mais influente” para França no futuro colégio de comissários.

Face a esta mudança, Breton sentiu-se obrigado a apresentar a sua demissão, sublinhando que já não poderia continuar a exercer as suas funções. “Ao longo dos últimos cinco anos, esforcei-me incansavelmente por defender e promover o bem comum europeu, acima dos interesses nacionais e partidários, e foi uma honra”, afirmou na missiva, ao mesmo tempo que criticava a “liderança questionável” de Von der Leyen.

Impacto na formação da nova Comissão Europeia

A demissão de Breton surge num momento delicado para Ursula von der Leyen, que está a concluir as negociações para a composição da nova Comissão Europeia. A substituição do candidato francês poderá causar novos atrasos na apresentação da equipa, cuja divulgação estava inicialmente prevista para a semana passada, mas foi adiada para esta terça-feira, dia 17 de setembro. Fontes europeias já haviam indicado que este atraso se devia, em parte, às tentativas de Von der Leyen de alcançar a paridade de género no colégio de comissários, um dos seus objetivos declarados.

A mudança de Thierry Breton também acontece no contexto de outras alterações, como a substituição do candidato esloveno por uma candidata feminina. A paridade de género tem sido uma questão sensível durante estas negociações, com Von der Leyen a pressionar vários Estados-membros, incluindo a Eslovénia e a Roménia, para propor mais mulheres. Atualmente, 11 dos 28 candidatos são mulheres, mas este número poderá aumentar à medida que os países, incluindo França, revejam as suas nomeações.

Thierry Breton enquanto comissário

Thierry Breton desempenhou um papel crucial no desenvolvimento e na implementação de políticas estratégicas no mercado digital e industrial europeu durante os últimos cinco anos. Entre os seus principais feitos destacam-se:

Estratégia Digital Europeia: Breton foi um dos principais defensores da soberania digital europeia, promovendo o desenvolvimento de infraestruturas digitais robustas e a criação de regulamentações mais rígidas sobre o controlo de dados.

Regulamentação das Grandes Tecnológicas: Sob sua liderança, a Comissão Europeia reforçou o escrutínio sobre as grandes empresas tecnológicas, introduzindo o “Digital Markets Act” e o “Digital Services Act”, duas legislações fundamentais para regular o mercado digital e assegurar maior transparência e concorrência justa.

Indústria Europeia e Recuperação Pós-COVID-19: Breton foi uma figura central nos esforços de recuperação económica pós-pandemia, impulsionando iniciativas para reforçar a resiliência das cadeias de abastecimento industriais e garantir a autonomia estratégica da Europa em setores críticos, como o das tecnologias emergentes e das matérias-primas.

Gestão da Crise dos Semicondutores: Durante o seu mandato, desempenhou um papel fundamental na formulação da “European Chips Act”, uma iniciativa destinada a aumentar a capacidade de produção de semicondutores na Europa e reduzir a dependência de fornecedores externos.

Com informação Lusa

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