As plataformas de e-commerce Shein e Temu, conhecidas pelas suas ofertas a preços ultra baixos, estão a expandir rapidamente a sua presença no mercado global de brinquedos. Com milhões de consumidores em busca de pechinchas durante a temporada de compras natalícias, estas empresas chinesas estão a atrair um número crescente de compradores na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, a sua ascensão meteórica levanta preocupações significativas sobre a proliferação de produtos falsificados, incluindo brinquedos potencialmente inseguros, e as implicações para os consumidores e fabricantes tradicionais.
Brinquedos a preços de saldo: uma nova aposta estratégica
Historicamente associadas a roupas e acessórios baratos, a Shein e a Temu têm vindo a diversificar o seu portefólio. Segundo um porta-voz da Shein, citado pela Reuters, os brinquedos são agora uma das categorias com maior crescimento na plataforma, com vendas a registarem aumentos percentuais de dois dígitos ano após ano. Da mesma forma, a Temu relatou um aumento nas pesquisas de brinquedos, apontando para uma procura crescente.
Esta mudança estratégica ocorre num mercado altamente lucrativo: só em 2023, as vendas globais de brinquedos totalizaram 108,7 mil milhões de dólares, de acordo com a Reuters. Grandes retalhistas como Amazon, Walmart e Target continuam a dominar o segmento, mas a quota de consumidores norte-americanos que planeiam comprar presentes na Temu aumentou para 13% este ano, face a 9% em 2023.
Riscos de falsificações e segurança
Apesar do crescimento impressionante, estas plataformas enfrentam críticas crescentes sobre a presença de produtos falsificados. Empresas como a Mattel e a Spin Master relataram a venda de “dupes” – imitações de brinquedos populares – em ambas as plataformas. Estes produtos, muitas vezes rotulados como “autênticos”, podem não cumprir os padrões de qualidade e segurança, incluindo a presença de peças pequenas que representam riscos de asfixia para crianças.
Isaac Larian, CEO da MGA Entertainment, fabricante das populares bonecas L.O.L. Surprise!, citado pela Reuters, expressou preocupação com a proliferação de cópias de brinquedos da sua empresa., destacou que estas falsificações podem incluir etiquetas de idade inadequadas e não serem submetidas a testes rigorosos de segurança.
A Shein e a Temu afirmam que adotam medidas para combater a violação de propriedade intelectual. Ambas as empresas afirmam ter sistemas para monitorizar e remover listagens suspeitas. Recentemente, a Temu removeu produtos semelhantes ao jogo Uno da Mattel após questionamentos e colocou a Spin Master num sistema de monitorização proativa. Contudo, a resposta reativa das plataformas nem sempre é suficiente para evitar que os produtos entrem no mercado.
Um apelo aos consumidores mais jovens e com rendimentos mais baixos
Grande parte do sucesso destas plataformas reside no seu apelo a consumidores com rendimentos inferiores a 50.000 dólares anuais, que enfrentam pressões económicas crescentes. Dados do Bank of America indicam que mais consumidores de baixa renda estão a recorrer às compras online para encontrar ofertas, uma tendência refletida tanto nos EUA como na Europa.
Segundo a Reuters, na Europa, cerca de 39% dos consumidores adquiriram brinquedos ou jogos na Shein, Temu ou AliExpress em 2024. Entre os jovens de 18 a 34 anos, essa percentagem sobe para 60%, sublinhando o impacto destas plataformas nas escolhas das gerações mais novas.
Impacto nos fabricantes tradicionais e no mercado global
Empresas como a Popmarket, distribuidora de brinquedos Funko e Hasbro, têm aproveitado as oportunidades para vender nas plataformas chinesas, atraídas por comissões iniciais reduzidas. Contudo, alguns fabricantes, como a Fat Brain Toys, hesitam em aderir a estas plataformas, receosos de comprometer a qualidade ou a perceção de valor das suas marcas.
Além disso, a proliferação de produtos falsificados pode enfraquecer as vendas dos fabricantes tradicionais em plataformas estabelecidas como Amazon e Walmart, ao mesmo tempo que coloca em risco a confiança dos consumidores.
O futuro do mercado de brinquedos online
A ascensão da Shein e da Temu no mercado de brinquedos representa uma oportunidade e um desafio. Embora estas plataformas democratizem o acesso a brinquedos acessíveis, levantam questões importantes sobre padrões de segurança, propriedade intelectual e a sustentabilidade de um modelo de negócios baseado em preços ultra baixos.
Com os consumidores a privilegiar cada vez mais o custo em detrimento da qualidade, o mercado global de brinquedos enfrenta uma transformação que poderá redefinir o equilíbrio entre inovação, acessibilidade e segurança nos próximos anos. Para os fabricantes tradicionais e plataformas de e-commerce, o desafio será encontrar formas de competir num mercado onde a pressão pelo preço mais baixo nunca foi tão intensa.