Será que compensa gastar demasiado na cloud?

Os custos com a cloud estão a ultrapassar largamente as previsões da maioria das organizações. Ainda assim, a confiança dos CIO na cloud como solução mais económica permanece intacta — mesmo quando os orçamentos estouram. A explicação para este aparente paradoxo está no efeito Jevons: quanto mais eficiente é o recurso (neste caso, a cloud), maior tende a ser o seu consumo.
16 de Abril, 2025

Estudos recentes indicam que, 83% dos CIO afirmam estar a gastar mais do que o previsto em serviços cloud, e quase metade reporta derrapagens superiores a 26%. Apenas 2% estão a gastar menos do que esperavam. A principal origem desta escalada? Projetos de inteligência artificial e a crescente autonomia dos programadores no uso de serviços cloud, muitas vezes sem conhecimento real do seu custo.

Apesar deste aumento, oito em cada dez CIOs continuam a considerar a cloud uma alternativa mais barata do que manter workloads on-premises. A agilidade na inovação, a escalabilidade e a rapidez na implementação de novos serviços continuam a pesar mais do que as faturas inflacionadas. Mas esta confiança não impede uma revisão tática da forma como se gere o consumo.

O aumento exponencial de projetos de IA e o consumo intensivo de recursos computacionais — como GPUs para modelos de machine learning — são hoje os principais responsáveis pelos custos inesperados. No caso da empresa americana ,Pmfm.ai, por exemplo, o gasto trimestral com cloud subiu 25%, com 90% desse custo associado à criação de modelos de IA mais complexos. A procura por instâncias dedicadas também está a crescer.

Além disso, a falta de literacia financeira dos programadores sobre os serviços que usam está a tornar-se uma vulnerabilidade crítica, os programadores têm acesso facilitado a centenas de serviços cloud — muitos dos quais com custos elevados — mas poucos estão conscientes dos impactos orçamentais. O resultado: soluções rápidas em desenvolvimento, mas dispendiosas para o negócio.

A repatriação de workloads para infraestruturas próprias continua fora da equação. Os CIO parecem aceitar que a cloud, mesmo mais cara do que o previsto, é inevitável. “Não há muito que possamos fazer quanto a isso”, admite Aditya Saxena, fundador da Pmfm.ai, em declarações à CIO, reforçando uma resignação pragmática: a cloud é o único caminho viável para responder às exigências de escala, agilidade e inovação.

Face ao aumento de custos, as organizações estão a aplicar medidas de contenção: otimização de workloads, uso de ferramentas de gestão de custos, negociação com fornecedores, auditorias e práticas FinOps são estratégias em crescimento. No entanto, nenhuma delas resolve o problema isoladamente.

A educação dos programadores para o custo dos serviços cloud surge como uma área críticae frequentemente negligenciada. A abordagem DevOps tem de evoluir para incluir a eficiência financeira como pilar central.

O crescimento da despesa com cloud não é uma falha estratégica, mas sim o sintoma natural da sua adoção massiva e da crescente sofisticação tecnológica das empresas. A cloud continua a ser o motor da inovação digital — mas, como qualquer motor, precisa de manutenção rigorosa. Para os CIO, o desafio não é abandonar a cloud, mas garantir que a cultura interna e as práticas operacionais estão alinhadas com uma utilização responsável e sustentável deste recurso.

A travessia pela era da cloud continua — mas é hora de conduzir com mais controlo.

Opinião