A Samsung, gigante da tecnologia sul-coreana, enfrenta um momento difícil ao comunicar que os seus lucros no terceiro trimestre ficarão aquém das expectativas do mercado, uma situação que levou a empresa a emitir um raro pedido de desculpas. Com a empresa a lutar para se posicionar no competitivo mercado de chips de inteligência artificial (IA), a sua capacidade de acompanhar rivais como a Nvidia está em causa, agravando os desafios de uma recuperação num setor que se encontra em transformação acelerada.
Lucro abaixo das previsões
A Samsung estimou um lucro operacional de 9,1 biliões de won (cerca de 6,78 mil milhões de dólares) para o trimestre que terminou a 30 de setembro, um número inferior aos 10,3 biliões de won esperados por analistas de mercado. Embora o lucro tenha registado uma recuperação significativa em relação aos 2,43 biliões de won no mesmo período do ano anterior, os resultados mostram uma descida em relação aos 10,44 biliões de won do trimestre anterior.
Esta quebra nos lucros sublinha as dificuldades da Samsung em capitalizar a crescente procura por chips de alta performance, especialmente os utilizados em servidores de IA. “Os resultados são um choque quando comparados com as previsões iniciais dos analistas”, afirmou Lee Min-hee, analista da BNK Investment & Securities, em declarações divulgadas pela Reuters, “Não vejo uma melhoria nos lucros no próximo trimestre”, acrescentou, sublinhando a posição desvantajosa da Samsung em relação à SK Hynix, que tem dominado o fornecimento de chips de memória de alta largura de banda (HBM) à Nvidia, líder no mercado de IA.
Atrasos no fornecimento de chips de IA
Um dos principais pontos fracos apontados no desempenho da Samsung foi o atraso no fornecimento dos seus chips de IA a um cliente importante, cuja identidade não foi revelada. A empresa havia planeado iniciar a produção em massa dos seus chips HBM3E entre julho e setembro, mas o arranque das vendas foi adiado. Este atraso contrasta com o ritmo acelerado da concorrente SK Hynix, que já está a fornecer estes componentes cruciais para a Nvidia, num momento em que a IA está a impulsionar a recuperação do mercado de semicondutores após o abrandamento provocado pela pandemia.
Além dos desafios no segmento dos chips de IA, a Samsung também enfrenta uma pressão crescente no fornecimento de chips mais convencionais. A crescente capacidade de produção dos fabricantes chineses, em combinação com ajustes de inventário por parte de alguns clientes do setor móvel, afetou negativamente os ganhos no segmento de semicondutores da empresa.
Dependência dos chips tradicionais e impacto do mercado chinês
A Samsung, que já foi líder incontestada no mercado de memória, está agora numa posição de maior vulnerabilidade, em parte devido à sua dependência de chips tradicionais, cujas margens de lucro são menores. Esta exposição ao mercado chinês, onde as tensões geopolíticas e a concorrência local aumentam, tem prejudicado ainda mais o desempenho da empresa. Com a desaceleração da procura global por smartphones e PCs, os analistas temem que a Samsung possa perder terreno num mercado crucial para o futuro da tecnologia.
Apesar da Samsung manter uma posição de destaque como o maior fabricante mundial de chips de memória, smartphones e televisores, o seu atraso no segmento de chips de IA — uma área de elevada margem de lucro — tem gerado preocupações sobre a sua competitividade. “Criámos preocupações sobre a nossa competitividade tecnológica, com alguns a falarem de uma crise na Samsung”, admitiu Young Hyun Jun, vice-presidente da divisão de soluções de dispositivos da empresa. Apesar deste cenário adverso, Jun comprometeu-se a transformar o desafio numa oportunidade, prometendo focar-se no fortalecimento da competitividade tecnológica a longo prazo.
Problemas na divisão de fabricação de chips por contrato
Outro foco de preocupação para a Samsung reside na sua divisão de fabricação de chips por contrato, que continua a enfrentar dificuldades financeiras. Esta unidade, responsável pelo desenvolvimento de chips personalizados para empresas como a Nvidia e a Apple, está a perder terreno face à líder do setor, a TSMC, o que tem limitado o seu crescimento num segmento em expansão.
A Samsung já implementou medidas drásticas para enfrentar a chamada “crise dos chips”, incluindo a substituição do chefe da sua divisão de semicondutores em maio e o corte de até 30% do seu pessoal em divisões no exterior. Ainda assim, a empresa enfrenta uma tarefa hercúlea para recuperar o seu papel de protagonista num mercado cada vez mais competitivo.
O futuro da Samsung no mercado de IA
Enquanto o mercado de chips de IA continua a crescer a um ritmo impressionante, com empresas como a Micron a reportarem receitas recorde devido à crescente procura, a Samsung luta para acompanhar esta tendência. A empresa encontra-se numa encruzilhada, com decisões importantes por tomar sobre o seu futuro neste setor estratégico.
Os resultados detalhados do terceiro trimestre serão divulgados no dia 31 de outubro e, até lá, os investidores e analistas estarão atentos às próximas medidas da empresa para se reposicionar no mercado de chips de IA. A promessa de focar-se na competitividade tecnológica a longo prazo será suficiente para restaurar a confiança no futuro da Samsung?
A Samsung enfrenta um momento crítico na sua trajetória como líder tecnológica. Os desafios no mercado de chips de IA, combinados com a crescente concorrência chinesa, colocam a empresa numa posição delicada. À medida que tenta recuperar o terreno perdido, o futuro da Samsung dependerá da sua capacidade de inovar e de voltar a afirmar-se no competitivo e dinâmico setor dos semicondutores.
Com informação Reuters