João Miguel Mesquita
A ascensão da inteligência artificial (IA) está a transformar radicalmente o mercado de trabalho em tecnologia, e a Salesforce posiciona-se na vanguarda dessa transição. Com a introdução da plataforma Agentforce, a empresa liderada por Marc Benioff planeia reduzir a dependência de desenvolvimento interno, enquanto reforça as equipas comerciais para impulsionar a adoção dos seus novos produtos baseados em IA.
A reestruturação e o impacto na força de trabalho
Segundo informações divulgadas pela Bloomberg, a Salesforce planeia cortar cerca de 1.000 postos de trabalho para reinvestir noutras áreas, essencialmente na sua equipa comercial. Este movimento reflete a mudança estratégica da empresa: em vez de apostar na expansão das suas equipas de desenvolvimento, a Salesforce confia na IA para aumentar a eficiência e acelerar o ciclo de inovação. Em dezembro de 2024, Benioff afirmou que a produtividade das equipas de desenvolvimento tinha aumentado mais de 30% devido à automação impulsionada por Agentforce, reduzindo assim a necessidade de novos programadores.
Contudo, não se trata apenas da eliminação de postos de trabalho. Os funcionários afetados terão a possibilidade de se candidatar a outras funções dentro da empresa, uma estratégia que visa mitigar o impacto social da reestruturação e alinhar a força de trabalho com as novas necessidades da empresa.
A força comercial como novo pilar
A decisão de reduzir o investimento em desenvolvimento interno contrasta com o reforço da equipa comercial. Benioff sublinha que, para capitalizar as capacidades da IA, é essencial que os clientes compreendam o valor e as aplicações das novas ferramentas. Para tal, a empresa pretende fortalecer a sua equipa de vendas com profissionais altamente treinados em soluções de IA.
Este reposicionamento reflete uma estratégia mais ampla na indústria. A Salesforce não está isolada neste movimento: a SAP também anunciou um programa de reestruturação que pode afetar até 10.000 postos de trabalho. No entanto, ao contrário da Salesforce, que expande a sua força comercial, a SAP optou por cortes precisamente nesta área. Estas abordagens contrastantes revelam as diferentes prioridades e apostas de cada empresa no futuro da IA.
Um futuro dominado pela IA
A decisão da Salesforce de reduzir a contratação de programadores levanta questões sobre o impacto a longo prazo da IA no emprego no setor tecnológico. Se a automação já pode substituir parte do trabalho de desenvolvimento e suporte, é possível que outras empresas sigam o exemplo da Salesforce, dando prioridade às vendas e consultoria em detrimento da engenharia de software tradicional.
A Salesforce está, assim, a redefinir as regras do jogo. A grande questão é se este movimento levará a uma otimização sustentável ou se criará novas vulnerabilidades. O equilíbrio entre automação e valor humano será um dos grandes desafios que a Salesforce e a indústria tecnológica enfrentarão na próxima década.
