Robôs correm meia-maratona lado a lado com humanos em Pequim

No passado sábado, 12 de abril, a zona de Yizhuang, em Pequim, foi palco de um evento inédito: 21 robôs humanoides correram lado a lado com milhares de atletas humanos numa meia-maratona. Mais do que uma exibição de velocidade, foi uma demonstração de engenharia e ambição tecnológica da China.
19 de Abril, 2025
Foto: therunningweek.com

As máquinas, vindas de empresas como DroidVP e Noetix Robotics variaram em forma e tamanho: desde modelos com menos de 1,2 metros até outros que se aproximavam dos 1,8 metros. Alguns apresentavam traços quase humanos, com feições femininas e expressões programadas como piscadelas e sorrisos. No entanto, por mais avançados que parecessem, a sua participação exigiu suporte constante de técnicos — alguns até tiveram de os segurar fisicamente ao longo do percurso.

A estrela da prova foi o Tiangong Ultra, um robô do Centro de Inovação em Robótica Humanoide de Pequim, que completou os 21 km em 2 horas e 40 minutos. Um feito notável para um robô, mas ainda distante do tempo de 1h02m do vencedor humano. A empresa responsável é parcialmente detida pelo Estado e inclui participações da Xiaomi e da UBTech, dois pesos pesados do setor tecnológico chinês.

Segundo Tang Jian, diretor técnico do centro, o sucesso do Tiangong Ultra, citado pela Reuters, deveu-se a um algoritmo que imita a biomecânica da corrida humana e ao design das suas pernas longas. O robô precisou de apenas três trocas de bateria durante a prova. “Não quero vangloriar-me, mas creio que nenhuma empresa ocidental atingiu este nível desportivo com robôs”, afirmou Tang, à Reuters.

Apesar do tom triunfalista das autoridades chinesas, nem todos os robôs brilharam. Alguns tropeçaram mal começou a prova; um deles caiu logo na partida e demorou minutos a levantar-se. Outro embateu contra uma barreira, levando o seu operador ao chão.

Para os responsáveis locais, a corrida foi mais semelhante a uma competição de carros de corrida do que a uma simples maratona. As máquinas necessitam de equipas de navegação, engenharia e manutenção em tempo real — longe da autonomia esperada de robôs inteligentes. E, mesmo assim, alguns tiveram dificuldades básicas.

A aposta chinesa em robótica faz parte de um esforço mais amplo para reposicionar a economia em torno de tecnologias avançadas. O país vê nos robôs humanoides um novo motor potencial de crescimento económico. Mas nem todos estão convencidos.

Alan Fern, professor de inteligência artificial e robótica na Universidade Estatal do Oregon, disse em declarações a Reuters, que “O software que permite correr já foi desenvolvido há mais de cinco anos. Isto são demonstrações interessantes, mas não representam avanços em termos de trabalho útil ou inteligência.”

A corrida de Yizhuang pode ter sido uma boa jogada de relações públicas e um palco para mostrar a vitalidade do setor robótico chinês. Mas como medidor real de progresso tecnológico ou viabilidade industrial, deixa mais questões do que respostas. A utilidade prática destes robôs — para além da sua capacidade de correr, dançar ou acenar — continua, por agora, por provar.

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