Com o desenrolar de uma década repleta de incertezas — desde a pandemia que perturbou as cadeias de abastecimento globais até às tensões geopolíticas e desafios económicos crescentes —, a indústria de manufatura enfrenta agora um imperativo tecnológico inadiável. Segundo o último relatório “Trends in Manufacturing” da Salesforce, 85% das empresas industriais reconhecem que a modernização das operações é fundamental para garantir competitividade.
Mas como estão estas empresas a agir para enfrentar os desafios e explorar as oportunidades proporcionadas pelas inovações tecnológicas? E quais são os obstáculos que ainda dificultam uma transformação eficaz?
Pressão pela modernização: Uma necessidade estratégica
O relatório da Salesforce destaca que quase todos os fabricantes (97%) estão a implementar mudanças estratégicas, e uma parcela considerável (26%) está a realizar reformas radicais nas operações diárias. O foco está em duas áreas principais: otimizar operações e expandir serviços pós-venda. Aqui, a inteligência artificial (IA) e os ativos conectados surgem como os grandes catalisadores.
Inteligência Artificial como descodificador: Quatro em cada cinco fabricantes já experimentaram a IA. Um em cada três afirma tê-la totalmente implementada. No entanto, a aplicação da IA vai além de melhorias incrementais. Está a transformar áreas como vendas, serviços e marketing, com usos que incluem desde a geração de conteúdo (casos de uso generativos) até previsões operacionais. A IA generativa, em particular, tem conquistado o setor, mesmo sendo uma tecnologia emergente.
Ativos conectados e infraestrutura de dados: Os sensores inteligentes e as redes de ativos conectados oferecem a possibilidade de monitorizar e melhorar a produção em tempo real. Apesar do potencial, 78% das equipas industriais ainda lutam com a integração de dados, e apenas uma minoria tem acesso completo às informações necessárias. Este desafio é crítico numa era em que a personalização e a rapidez são determinantes para a satisfação do cliente e a vantagem competitiva.
A era da cadeia de abastecimento reinventada
O setor aprendeu da forma mais difícil a importância de uma cadeia de abastecimento resiliente. Quase dois terços dos entrevistados ainda sentem os efeitos da disrupção pandémica, e a reestruturação global continua.
On-Shoring e Nearshoring em ascensão: Nos Estados Unidos, 61% dos fabricantes planeiam trazer mais produção para dentro de portas, uma estratégia para mitigar riscos e reduzir dependências internacionais. A mesma tendência observa-se na Europa, com investimentos em produção local para fortalecer a cadeia de valor.
Eficiência e resiliência: Apesar de 83% dos fabricantes terem investido na modernização da cadeia de abastecimento, muitos ainda estão aquém das expectativas de eficiência e gestão de custos. A transição para uma cadeia de abastecimento mais robusta requer não só tecnologia, mas uma mudança no planeamento estratégico e na colaboração internacional.
Investir na experiência do cliente e novos fluxos de receita
Com a transformação tecnológica, os fabricantes não estão apenas a melhorar a produção; estão também a redesenhar a forma como interagem com os clientes. Vendas e operações de pós-venda têm recebido prioridade máxima em termos de investimento.
Serviços personalizados e expansão de receitas: Aconectividade permite criar serviços de manutenção preditiva, ofertas personalizadas e modelos de subscrição. Estas estratégias não só aumentam a satisfação do cliente, como abrem novos fluxos de receita, fundamentais num ambiente de margens cada vez mais apertadas.
Prioridade no marketing e vendas: Mesmo com a modernização de operações, apenas 40% dos fabricantes conseguem atingir as metas comerciais estabelecidas. A agilidade, aqui, é vital. Os fabricantes que conseguem reagir rapidamente às forças do mercado são os que melhor capitalizam estas novas oportunidades.
Desafios inerentes à transformação digital
Nem tudo são facilidades nesta corrida tecnológica. Um dos maiores obstáculos continua a ser o talento humano. O envelhecimento da força de trabalho e a escassez de novos profissionais qualificados ameaçam a capacidade da indústria de absorver e implementar novas tecnologias.
Geração de dados e automação inteligente: À medida que os volumes de dados de produção aumentam — com um crescimento projetado de 22% entre 2023 e 2024 —, a capacidade de transformar esses dados em insights acionáveis será crucial. Os fabricantes que conseguirem dominar esta complexidade estarão na linha da frente.
Achyut Jajoo, SVP & GM de Manufacturing & Automotive na Salesforce, resume a situação: “A indústria transformadora tem de se tornar mais ágil, conectada e inteligente. Para lá chegar, os fabricantes devem ser capazes de tirar partido de todos os seus dados para potencializar novas ferramentas e capacidades de IA.”
O futuro: eficiência, inovação e resiliência
O setor industrial está a entrar numa nova era, onde a sobrevivência e o sucesso dependem de um equilíbrio entre inovação tecnológica e resiliência organizacional. A inteligência artificial, a produção inteligente e as cadeias de abastecimento locais são apenas o começo. O que está em jogo é a capacidade da indústria de se reinventar, enquanto se adapta a um cenário global cada vez mais complexo e competitivo.
A revolução já começou.