Por que é que as empresas devem reavaliar as suas estratégias de localização: o caso da Península Ibérica

Custos de produção, cadeias de abastecimento e capacidades logísticas, acesso a talento ou fiscalidade atrativa: existem muitos motivos para reavaliar a estratégia de localização de uma empresa.
17 de Outubro, 2024

Num mundo empresarial globalizado, uma presença geográfica eficiente e eficaz tem impacto na eficiência, nas receitas e na resiliência de uma empresa. Numa era digital, o posicionamento geográfico tornou-se ainda mais crítico, porque a velocidade da troca de dados entre os diferentes locais da empresa e as redes externas relevantes (por exemplo, cloud e aplicações) está dependente da ligação a infraestruturas digitais de alto desempenho.

Assim sendo, um elemento que não deve ser negligenciado na avaliação da estratégia de localização de uma empresa é a qualidade e a densidade da infraestrutura digital nas potenciais localizações. O crescimento contínuo dos novos centros digitais está a oferecer às empresas maiores opções de escolha para novas instalações, bem como para as opções de redundância. Onde antes a escolha para as localizações das sedes se limitava a alguns centros históricos, começam a surgir novas localizações, demonstrando uma série de vantagens económicas, infraestruturais e geográficas que podem ter um impacto positivo não só na cadeia de abastecimento e na estratégia digital, mas também na sua sustentabilidade. Uma delas é a Península Ibérica.

Para as empresas europeias e para as empresas globais que procuram uma presença europeia, tem havido uma tendência para se congregarem nos grandes centros digitais históricos de Frankfurt, Londres, Amesterdão e Paris (os mercados FLAP) para obterem acesso aos ecossistemas digitais desses países. Um hub digital deste tipo reúne data centers, cloud e densidade de rede, combinados com os serviços de interligação de uma série de Internet Exchanges (IXs), para permitir condições ideais para o trabalho e a vida digital. Através da agregação de infraestruturas, o hub apoia as empresas no acesso às redes e serviços de que necessitam e com o melhor desempenho possível. Hoje, verificamos que centros digitais como Madrid, Lisboa e Barcelona oferecem não só os benefícios das suas próprias localizações, mas também o poder agregado de toda a Península Ibérica.

Conectividade otimizada para todo o mundo

Como demonstram, claramente, os estudos recentemente publicados pela DE-CIX “A Península Ibérica: Um mega hub regional de próxima geração” e “Portugal: um centro de interligação global, uma porta de entrada para a Europa, uma porta de entrada para o mundo”, a Península Ibérica pode ser considerada praticamente o centro do mundo digital. Situado nas margens do Atlântico e do Mediterrâneo, está repleto de infraestruturas de cabos submarinos que ligam os cinco continentes com uma latência imbatível. A península possui 35 sistemas internacionais de cabos submarinos e 20 estações de amarração de cabos (CLSs). As latências globais a partir de Lisboa atestam a centralidade, com uma latência de 16 milissegundos (ms) para Casablanca, 40ms para Lagos, 60ms para Washington DC, 60ms para Fortaleza, 70ms para Dubai e 140ms para Singapura. Isto permite a otimização dos fluxos de tráfego globais, estando a Península Ibérica bem situada como uma via alternativa para o tráfego internacional de dados norte-sul, sul-sul e este-oeste.

Vantagens empresariais da Península Ibérica

Para além do seu papel nos fluxos globais de dados, a Península Ibérica é um mercado interessante por si só, com uma população de perto de 60 milhões e níveis de topo na implantação do 5G para apoiar casos de utilização modernos. A península ibérica é a casa de um mercado de centros de dados distribuídos que compreende mais de 100 centros de dados, estando muitos mais planeados, com uma conectividade terrestre que atravessa a Península Ibérica e a liga ao resto da Europa. Um setor de educação saudável garante uma cadeia de novos talentos para apoiar a procura insaciável global de trabalhadores qualificados, e o clima temperado e o seu estilo de vida contribuem para a sua retenção. A península ibérica alberga uma extensa rede de comboios de alta velocidade, bem como vários portos marítimos, e o Aeroporto Madrid-Barajas tem capacidade para receber até 70 milhões de passageiros por ano. É um megacentro regional – não apenas para fluxos de dados, mas para todas as necessidades empresariais.

Os fornecedores de serviços Cloud já compreenderam, há muito, a atratividade da Península Ibérica, com investimentos enormes a serem canalizados para a região ao longo dos últimos anos e com anúncios de investimentos multibilionários novamente em 2024. E se olharmos apenas para Madrid, podemos ver o porquê: Madrid é a sede da maioria das grandes empresas espanholas, com 65% das multinacionais espanholas a terem a sua base central na cidade, juntamente com mais de 7.000 empresas estrangeiras. A cidade é uma das cinco principais cidades na Europa com as sedes mais operacionais de empresas multinacionais da Fortune Global 500. Madrid ocupa também o quinto lugar na Europa entre as cidades que lideram em termos de produção económica, diversidade e de potencial de crescimento, tornando- a num hub cativante para negócios e investimentos. Desde 2016, Madrid registou um crescimento assinalável de 23,24% no seu PIB, atingindo 261,7 mil milhões de euros em 2023.

O mega hub regional da Península Ibérica

O que há na Península Ibérica que a torna tão singular? Não só tem centralidade global para cabos submarinos, como também possui infraestruturas terrestres altamente distribuídas. Juntamente com os centros de Madrid, Lisboa e Barcelona, ​​​​outros mercados de infraestruturas que também desempenham o seu próprio papel na formação do mega hub regional ibérico incluem Bilbau, Valência, Málaga, a região de Aragão, o Porto e Sines. As forças combinadas deste cluster dinâmico de hubs e mercados de infraestruturas significam que a Península Ibérica deverá estar no topo da lista de todas as empresas que procuram um novo local para sedes e filiais. Com cerca de 17ms de latência de Madrid a Paris, 14ms de Barcelona a Roma e 18ms de Barcelona a Genebra, e cerca de 30ms para destinos na Alemanha, segundo https://wondernetwork.com/pings, a Península Ibérica também pode funcionar estrategicamente para os operadores de rede melhorarem a resiliência da conetividade para a Europa Central e do Sul. Aqui, uma localização na Península Ibérica pode complementar localizações nos mercados FLAP para garantir o mais elevado nível de resiliência.

A melhor conectividade com redes de aplicações empresariais e Cloud

A península é também a casa de um mercado forte de interligação distribuída. Um total de 13 IX – a maioria deles em Madrid, Lisboa e Barcelona – permitem a otimização dos fluxos de tráfego e a interligação direta com redes locais, regionais e internacionais, ao mesmo tempo que proporcionam oportunidades para a crescente procura de redundância ao nível de IX . Os Números de Sistemas Autónomos (ASN) agregados ligados a estes IX têm crescido rapidamente desde 2016, crescendo cerca de 1200% e refletem a importância cada vez maior da região para os operadores de rede.

O ecossistema interligado de IXs da DE-CIX na Península Ibérica, bem como em Marselha, no sul de França, proporciona as bases para uma conectividade excelente em toda a região. Os IXs da empresa no sul da Europa disponibilizam uma interligação contínua através do mega hub regional e através dos IXs da DE-CIX no centro e norte da Europa, por via do Atlântico, para os seus IXs norte-americanos, bem como do sul para África e do leste para o Médio Oriente e as IX’s operadas pela DE-CIX. Estes IX permitem às empresas o melhor desempenho de conectividade a regiões locais de cloud e ra edes de aplicações, bem como a fornecedores de serviços Cloud e operadores de rede ainda não presentes na Península Ibérica.

Como pode a Península Ibérica apoiar estratégias de sustentabilidade

A região também oferece oportunidades abundantes para alimentar centros de dados com energia renovável, em grande parte proveniente da produção de energia hídrica, fotovoltaica e eólica. Espanha e Portugal são líderes na produção de energia regenerativa, e uma série de operadores de centros de dados e fornecedores Cloud já estão a aproveitar as vantagens climáticas para alimentar os seus centros de dados. Foram assinados contratos de compra de energia (PPAs) por vários fornecedores em Espanha e Portugal para alimentar os seus data centers com energia 100% renovável. A cidade de Sines, por exemplo, está a testemunhar a construção daquele que está previsto ser o maior complexo de data centers de energias renováveis ​​​​da Europa, o Start Campus SINES. Além disso, os principais players Cloud presentes na Península Ibérica estão a adquirir energia renovável na península. Vemos um grande potencial para a Península Ibérica se tornar num hub de IA livre de carbono para a Europa, capitalizando o espaço abundante, o custo relativamente baixo dos terrenos e as capacidades de produção de energia renovável.

As empresas estão a capitalizar os benefícios da Península Ibérica

Em suma, as empresas estão a mudar-se para a Península Ibérica, capitalizando os benefícios que a Península Ibérica tem para oferecer. A Península Ibérica é globalmente única nas suas infraestruturas e vantagens geográficas. Não é simplesmente uma massa de terra que faz fronteira com o Atlântico e o Mediterrâneo, é cluster interligado de hubs e mercados de infraestruturas individuais, centrado em torno do forte centro digital de Madrid. Para as empresas que procuram obter maior eficiência, controlar os seus fluxos globais de dados e garantir a resiliência da conectividade, a Península Ibérica deve ter um lugar de destaque na lista de locais-chave nas estratégias de localização europeias e globais.

Ivo Ivanov é CEO and Chair of the Board da DE-CIX Group AG

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