A reativação de centrais nucleares como a de Three Mile Island, nos Estados Unidos, enfrenta desafios de regulamentação, logísticos e ambientais que dificultam a adoção imediata desta fonte de energia.
A crescente necessidade energética impulsionada pela expansão da Inteligência Artificial (IA) coloca em evidência a necessidade de soluções inovadoras e sustentáveis. À medida que as empresas tecnológicas, como a Microsoft, enfrentam um aumento sem precedentes no consumo energético para alimentar os seus Data Centers, a energia nuclear emerge como uma possível resposta. No entanto, este caminho está longe de ser isento de obstáculos.
De acordo com Reuters, as infraestruturas energéticas dos EUA poderão aumentar a sua capacidade em cerca de 2,4% a 2,7% até ao final da década, um incremento modesto face à previsão de que o consumo dos centros de dados irá mais do que duplicar até 2030, representando cerca de 9% da eletricidade total do país. Este desfasamento sublinha a urgência de encontrar fontes de energia estáveis e de baixo carbono, capazes de sustentar o rápido crescimento da IA generativa, uma tecnologia altamente intensiva em termos de poder computacional e, consequentemente, de eletricidade.
A Microsoft, em parceria com a Constellation Energy, aposta na reativação da central nuclear de Three Mile Island, nos Estados Unidos, encerrada desde 2019, como uma resposta possível. O projeto de 1,6 mil milhões de dólares prevê o reinício da Unidade 1 da planta até 2028, com o objetivo de suprir as necessidades energéticas dos seus centros de dados na região. Este movimento insere-se numa tendência mais ampla, na qual gigantes tecnológicas procuram alianças com fornecedores de energia nuclear. A Amazon, por exemplo, celebrou um acordo com a Talen Energy para operar um centro de dados adjacente a outra central nuclear na Pensilvânia.
Contudo, a transição para a energia nuclear como solução imediata enfrenta desafios substanciais. Por um lado, há o complexo quadro regulatório que governa o setor nuclear, conhecido pela sua rigorosa supervisão devido às questões de segurança e ao histórico de acidentes, como o que ocorreu em 1979 na própria Three Mile Island. Este evento, apesar de ter envolvido a Unidade 2, que não será reativada, continua a pesar no imaginário público e a alimentar a oposição local. Além disso, questões relacionadas com o impacto ambiental, como o consumo de água necessário para o arrefecimento dos reatores, levantam preocupações adicionais junto das autoridades.
Do ponto de vista logístico, as dificuldades na cadeia de abastecimento, exacerbadas pelas sanções impostas a fornecedores de urânio enriquecido, nomeadamente à Rússia após a invasão da Ucrânia, são um entrave significativo. Estas sanções criam escassez de materiais essenciais, complicando ainda mais os esforços para restabelecer o funcionamento de centrais nucleares inativas.
Assim, enquanto a energia nuclear oferece uma via promissora para enfrentar a crescente necessidade energética da IA, os desafios que se colocam a este setor indicam que a sua implementação como solução de curto prazo será limitada. O caso de Three Mile Island ilustra as dificuldades envolvidas na revitalização de infraestruturas nucleares antigas, desde questões técnicas e de segurança até às exigências de aprovação regulatória e resistência local.
O cenário futuro da energia para IA parece depender não apenas da capacidade de superar estes obstáculos, mas também da necessidade de explorar um mix energético diversificado. A energia nuclear pode, eventualmente, desempenhar um papel crucial nesta equação, mas o caminho para a sua adoção massiva será lento e complexo, exigindo colaboração entre governos, empresas e reguladores. No entanto, com a urgência crescente de alcançar metas de descarbonização e a pressão sobre o sistema energético global, a exploração de todas as opções, incluindo a nuclear, torna-se cada vez mais inevitável.