No início de dezembro de 2024, a Intel anunciou o “retiro imediato” do seu CEO, Pat Gelsinger. Oficialmente, o executivo terá decidido reformar-se de forma voluntária, pondo fim a quase quatro anos à frente da empresa. Porém, esta versão da história levanta tantas dúvidas quanto algumas declarações de políticos em tempos de crise. Na realidade, tudo indica que Gelsinger terá sido persuadido pelo Conselho de Administração a deixar o cargo, após sucessivos fracassos na tentativa de revitalizar o outrora invencível colosso dos semicondutores.
Pat Gelsinger, que regressou à Intel em 2021 com um plano ambicioso para recuperar a liderança da empresa, viu-se encurralado entre duas opções:
- Reformar-se, protegendo a sua reputação; ou
- Ser demitido.
Uma crise estrutural, não individual
Embora a saída de Pat Gelsinger simbolize a tentativa da Intel de virar a página, é injusto atribuir-lhe a total responsabilidade pelo declínio da empresa. A decadência da Intel não é uma questão recente, mas o resultado de decisões estratégicas falhadas que remontam a décadas.
Desde 2007, quando o primeiro iPhone foi lançado sem um chip Intel, a empresa tem vindo a perder relevância em mercados cruciais. Apesar do interesse inicial de Steve Jobs em usar tecnologia da Intel, a fabricante não conseguiu assegurar o acordo. Este fracasso marcou o início de uma série de erros estratégicos:
- Aposta insuficiente na mobilidade: A Intel optou por priorizar os mercados dos PC e servidores, ignorando a explosão dos smartphones. Mesmo com linhas de chips como XScale e Atom, nunca conseguiu competir com players como Qualcomm e Samsung.
- Falta de modernização das fábricas: Esta miopia abriu espaço para que concorrentes como AMD e TSMC avançassem tecnologicamente, assumindo posições dominantes.
- Perda de clientes-chave: A Apple abandonou os chips Intel para os Macs em 2020, substituindo-os pelos seus próprios processadores ARM, um golpe que exacerbou o declínio da empresa.
- Revolução da IA: Enquanto Nvidia capitalizava a sua experiência em GPUs para liderar o mercado de IA, a Intel ficou irremediavelmente para trás.
Um legado de desafios
Desde que assumiu o comando, o valor das ações da Intel caiu mais de 60%, e o terceiro trimestre de 2024 trouxe o maior prejuízo líquido da história da empresa: 16,6 mil milhões de dólares. Para agravar, em dezembro, a Intel foi retirada do índice Dow Jones, um lugar que ocupava há 25 anos.
Este conjunto de reveses parece ter esgotado a paciência do Conselho de Administração, levando à substituição de Gelsinger por uma liderança interina enquanto se procura um novo CEO. Contudo, a falta de um sucessor previamente definido levanta questões sobre o planeamento estratégico da empresa.
Futuro sombrio
A Intel enfrenta agora uma encruzilhada histórica. Sem uma transformação radical, o caminho mais provável parece ser um declínio contínuo. No atual ambiente competitivo, onde a inovação é essencial, o modelo de negócio da Intel pode revelar-se insustentável.
Enquanto isso, o legado de Andy Grove, o líder visionário que levou a Intel à glória, parece cada vez mais distante. A pergunta que muitos fazem agora não é quem será o próximo CEO, mas se a Intel poderá, algum dia, recuperar o seu brilho.
Com informações Computerworld