Segundo fontes próximas informaram a Reuters, a empresa pretende transformar-se numa “for-profit benefit corporation”, uma entidade lucrativa com uma missão social, deixando assim de ser controlada exclusivamente pelo seu conselho de administração “non-profit”. Esta mudança poderá também ter implicações na gestão dos riscos associados à IA e no modo como a empresa perspetiva a sua missão de longo prazo.
Fundada em 2015 como uma companhia “non-profit”, a OpenAI sempre se destacou pelo seu compromisso com o desenvolvimento de inteligência artificial que seja “segura e amplamente benéfica”. No entanto, com o crescimento exponencial da empresa, especialmente após o lançamento do ChatGPT, em 2022, que rapidamente conquistou mais de 200 milhões de utilizadores ativos por semana, a estrutura “non-profit” começou a ser um entrave para atrair investimentos mais robustos. Em 2019, a OpenAI criou uma subsidiária “for-profit”, a OpenAI LP, que permitiu angariar financiamento de gigantes como a Microsoft.
Agora, ao dar um passo adicional para se reestruturar como uma “benefit corporation”, a OpenAI procura eliminar o teto nos retornos para os investidores, tornando-se uma entidade ainda mais atrativa para grandes investidores. A avaliação da empresa, que era de 14 mil milhões de dólares em 2021, poderá disparar para 150 mil milhões de dólares após esta reestruturação, num novo modelo de dívida convertível que está a ser discutido com fundos como o Thrive Capital e a Apple.
Sam Altman, diretor executivo da OpenAI, receberá pela primeira vez uma participação acionista na empresa lucrativa, algo que até agora havia recusado devido à necessidade de manter uma maioria de diretores desinteressados no conselho. Altman, que já é um bilionário graças a outros investimentos, sempre afirmou que a sua motivação para liderar a OpenAI não era financeira, mas sim o seu amor pelo trabalho e pela missão da empresa. No entanto, este novo modelo de governança abre portas para que Altman e outros líderes tenham um maior interesse financeiro direto no sucesso da empresa.
Implicações para a segurança da IA
Esta transição de uma estrutura controlada por uma entidade “non-profit” para uma “benefit corporation” está a gerar preocupações entre os especialistas em segurança da inteligência artificial. A estrutura original foi desenhada para garantir que a OpenAI mantivesse o seu compromisso com o desenvolvimento de uma IA que beneficiasse a sociedade e que mitigasse os riscos potenciais de uma inteligência artificial geral (AGI), um conceito que descreve uma IA com capacidades iguais ou superiores às do ser humano.
No entanto, a dissolução recente da equipa de “superalignment”, que era responsável por investigar os riscos a longo prazo da IA, levanta questões sobre como a OpenAI irá garantir a responsabilidade social e a segurança nas suas inovações. O desaparecimento desta equipa foi visto como um sinal de que a empresa está a priorizar o crescimento e a inovação, possivelmente em detrimento da segurança a longo prazo.
A nova estrutura corporativa da OpenAI deverá seguir um modelo semelhante ao de outras empresas concorrentes, como a Anthropic e a xAI de Elon Musk, que também operam como benefit corporations. Estas entidades lucrativas destacam-se por equilibrar objetivos financeiros com responsabilidade social e sustentabilidade, um modelo que a OpenAI tentará replicar na sua nova fase.
Mudanças na liderança
Esta reestruturação também ocorre num momento de mudanças internas significativas na liderança da empresa. Mira Murati, a diretora de tecnologia de longa data, anunciou a sua saída repentina, e Greg Brockman, presidente da OpenAI, está em licença. Estas mudanças de liderança, juntamente com a reestruturação empresarial, indicam que a OpenAI está a atravessar um período de transformação profunda, tanto a nível estratégico como operacional.
A transição da OpenAI para uma “profit benefit corporation” poderá redefinir o seu papel no competitivo setor da inteligência artificial. Embora a mudança seja geralmente vista de forma positiva pelos investidores, que já injetaram milhares de milhões de dólares na empresa, há preocupações sobre se a OpenAI continuará a ser fiel ao seu objetivo original de desenvolver uma IA segura e amplamente benéfica.
A grande questão que se coloca é como a empresa irá equilibrar a pressão para gerar lucros com a sua responsabilidade ética. Com o mercado de IA a crescer rapidamente, e com as expectativas a aumentar para a OpenAI e outras empresas no setor, a nova fase da empresa promete ser um marco decisivo para o futuro da inteligência artificial.
A OpenAI está a iniciar uma mudança significativa que não só altera a sua estrutura corporativa como também coloca novas questões sobre a governança e segurança da IA. À medida que o mundo observa, as decisões que tomar nos próximos meses poderão moldar o futuro da inteligência artificial e o seu impacto na sociedade.