O mercado de smartphones em África: A luta pela acessibilidade

Apesar do marco nas vendas, o custo dos smartphones continua a ser proibitivo para grandes segmentos da população africana.
14 de Agosto, 2024

A recente revelação de que as vendas de smartphones ultrapassaram as de telemóveis tradicionais em África pela primeira vez no início deste ano marca um ponto de viragem significativo no mercado de telecomunicações do continente. No entanto, este avanço esconde uma realidade complexa: a acessibilidade continua a ser uma barreira substancial para a adoção generalizada de smartphones em várias regiões africanas.

O Custo elevado dos smartphones: Uma barreira persistente

Apesar do marco nas vendas, o custo dos smartphones continua a ser proibitivo para grandes segmentos da população africana. Como destacado por altos executivos dos operadores MTN Group e Vodacom Group, mesmo os modelos mais básicos de smartphones permanecem fora do alcance de muitos consumidores devido aos elevados preços. De acordo com a IDC, o preço médio de um smartphone de nível ultra baixo situou-se em 71 dólares no primeiro trimestre de 2023. Em contraste, um simples telemóvel 2G pode ser adquirido por cerca de 6 dólares, evidenciando uma disparidade significativa que limita a transição para dispositivos mais avançados.

A pressão sobre os preços é exacerbada por uma série de fatores, incluindo a alta tributação em alguns mercados e a escassez global de chips, resultante das disrupções causadas pela pandemia de Covid-19. Estes fatores não só inflacionaram os preços dos smartphones, como também restringiram a disponibilidade de modelos de entrada, especialmente nas áreas mais carenciadas.

Esforços para reduzir custos: Iniciativas e colaborações

Para mitigar estas dificuldades, têm sido implementadas várias iniciativas, desde a produção local de dispositivos até esquemas de financiamento que tornam os smartphones mais acessíveis. A recém-formada “Handset Affordability Coalition”, que inclui entidades como a GSMA, o Banco Mundial, a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e vários operadores móveis, é um exemplo dos esforços conjuntos para enfrentar este desafio.

Operadores como a MTN estão a trabalhar com parceiros de fabrico para reduzir ainda mais os custos, com o objetivo de oferecer smartphones de entrada por cerca de 30 dólares. Segundo Enzo Scarcella, diretor de consumo da MTN, esta redução de preço poderia duplicar as taxas de adoção de smartphones, tornando a tecnologia mais acessível a milhões de africanos.

O Papel crucial dos impostos

No entanto, as políticas governamentais e a estrutura fiscal em muitos países africanos continuam a ser obstáculos significativos. Em alguns mercados, os impostos sobre a importação de dispositivos e outras taxas podem representar até 50% do preço final de um smartphone. Além disso, a escassez de dólares americanos e as flutuações cambiais dificultam ainda mais a importação e a produção local de smartphones.

Tacchino, da Vodacom, destaca que, em alguns países, as prioridades governamentais na alocação de dólares são direcionadas para setores como alimentos e medicamentos, relegando os smartphones para segundo plano. Esta situação limita o acesso a dispositivos e, consequentemente, à Internet móvel, que é essencial para o desenvolvimento económico e social.

Financiamento e mercado de Smartphones usados

Com os custos iniciais a constituírem um obstáculo significativo, o financiamento de aparelhos está a emergir como uma solução viável para colocar smartphones nas mãos dos consumidores. Empresas como a M-Kopa estão a liderar este movimento, permitindo que os utilizadores adquiram smartphones através de pagamentos em prestações. Este modelo tem-se mostrado eficaz em países como o Quénia e o Uganda, e está a ganhar tração em outras partes do continente.

Além disso, o mercado de smartphones usados apresenta um potencial ainda inexplorado. Tacchino sugere que a recolha e renovação de smartphones de entrada usados em mercados desenvolvidos poderiam ajudar a preencher a lacuna de acessibilidade em África. No entanto, para que esta solução tenha um impacto significativo, seria necessário criar uma cadeia de abastecimento eficiente e focada em dispositivos Android de baixo custo.

O que se espera

Apesar dos desafios, o futuro do mercado de smartphones em África é promissor. A crescente penetração da Internet móvel e a gradual redução dos custos dos dispositivos estão a abrir novas oportunidades para milhões de africanos. No entanto, para que esta transição seja bem-sucedida, será crucial abordar as barreiras fiscais, melhorar a distribuição e fomentar a inovação no financiamento de telemóveis.

A evolução contínua do mercado de smartphones em África tem o potencial de catalisar um desenvolvimento económico mais amplo, ao permitir que mais pessoas acedam à Internet e beneficiem das oportunidades digitais. Contudo, para que este potencial se concretize, será necessária uma colaboração estreita entre governos, operadores e outros stakeholders para superar os desafios persistentes e garantir que a revolução digital atinja todas as camadas da população.

Com informação Mobile World Live

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