As recentes tarifas globais impostas ao comércio de equipamentos tecnológicos estão a provocar uma reviravolta nas estratégias de investimento das equipas de TI. Os Chief Information Officers (CIO), tradicionalmente mestres da adaptação, estão agora a navegar um terreno particularmente volátil: orçamentos apertados, cadeias de abastecimento frágeis e aumentos de custos súbitos.
A previsão de impacto negativo nos preços de infraestrutura e serviços — especialmente hardware e serviços geridos — já se materializou em cortes de capital, adiamento de projetos e revisão de estratégias. Segundo a IDC, o crescimento global dos gastos em TI pode cair para apenas 5% este ano, refletindo uma travagem brusca induzida pelas tarifas. A instabilidade económica global só agrava este cenário.
Num setor em que lentamente ainda se digeria os efeitos da pandemia, os CIO enfrentam agora uma nova vaga de disrupção. Nos EUA existem empresas que já estão reestruturar projetos para mitigar a subida de preços, comprando equipamentos em massa antes dos aumentos. A decisão é: antecipar compras, concentrar investimentos e adiar execuções. É uma estratégia reativa, mas inevitável num ambiente onde os preços sobem antes mesmo de se compreender o verdadeiro impacto geopolítico.
Estamos então perante uma ameaça à transformação digital? A ironia é evidente: no momento em que as organizações mais precisam de acelerar a modernização — cloud, IA, automação — são forçadas a desacelerar. Muitos CIO estão a suspender projetos de modernização, como migrações para cloud ou upgrades de CRM, e a procurar alternativas mais acessíveis. A prioridade passou de inovação para contenção. A consequência mais preocupante? O risco de atraso estrutural nos investimentos críticos em IA e digitalização.
A Forrester alerta para o risco de os custos inflacionados “explodirem os orçamentos” e obrigarem à reavaliação de toda a carteira de projetos. A recomendação: proteger iniciativas ligadas à inteligência artificial e procurar cortes em desperdícios, como subscrições inativas ou serviços de cloud subutilizados.
Estando perante um cenário de contenção, o corte de custos pode chegar à força de trabalho. Embora os CIO estejam, para já, a evitar despedimentos diretos, alguns consideram reduzir contratados ou reestruturar equipas para manter margem orçamental. A longo prazo, isto levanta dúvidas sobre a capacidade de manter e desenvolver equipas técnicas numa altura crítica para a maturação digital.
A saúde, por exemplo, é um setor onde atrasos em TI rapidamente se transformam em desafios à prestação de cuidados. Num setor onde a fiabilidade tecnológica é vital, a margem de manobra para adiar projetos é mínima.
Lições da pandemia, oportunidades perdidas
Algumas organizações tiraram lições da pandemia e tornaram-se mais proativas na gestão de fornecedores e stocks. Mas mesmo as mais preparadas enfrentam hoje um dilema: ou investem já, num ambiente incerto, ou arriscam escassez e custos mais elevados amanhã. Ambas as opções são onerosas. E o verdadeiro risco pode ser a paralisia: congelar decisões, adiar tudo, e ver concorrentes mais ágeis ganhar terreno.
As tarifas não afetam apenas o preço de um router ou servidor. Estas redefinem os mapas de fornecimento, reestruturam relações comerciais e impõem um novo realismo aos líderes tecnológicos. A visão de “fazer mais com menos” transforma-se, agora, em “fazer o essencial, com o que houver”.
As tarifas de Trump são mais do que uma medida política — são um fator transformador que ameaça desalinhar o ritmo da transformação digital em todo o mundo. As decisões que hoje se tomam nas salas de TI — antecipar compras, adiar cloud, cortar fornecedores — podem definir não só os resultados de curto prazo, mas o posicionamento estratégico das empresas nos próximos anos.
Enquanto isso, os CIO continuam a fazer malabarismos com orçamentos, riscos e expectativas. Mas há limites para a resiliência. E o custo real destas tarifas pode não ser medido em dólares, mas em inovação perdida.