Quando iniciámos a atividade letiva no ano passado, ninguém esperava que a meio do semestre as “regras do jogo” se alterassem. E assim foi, em meados de janeiro de 2023 surgiu de forma acessível a todos o ChatGPT, uma Inteligência Artificial (IA) desenvolvida pela start-up OpenAI que rapidamente foi adotada por milhões de utilizadores, incluindo a comunidade académica.
Mas o que é o ChatGPT? Não é mais do que uma interface digital de conversação linguística, baseado em um dos ramos da IA a que designamos Large Language Models (LLM) ou Inteligência Artificial Generativa (IAG). Estes modelos são complexos e densos, requerem uma enorme quantidade de dados de diversas fontes, como texto, vídeo, som e imagens.
O ChatGPT surpreendeu a comunidade académica e rapidamente diversas universidades portuguesas iniciaram um debate interno e público sobre o impacto destas tecnologias na ação pedagógica e de investigação. Como docente do ensino superior, não só me envolvi nestes debates, como também submergi no mundo destas tecnologias generativas. Acompanhei algumas discussões promovidas por universidades e centros de investigação em áreas das ciências sociais e humanas, gestão e ciência de dados e na maioria desses encontros concluí que não iremos “fechar os olhos” à tecnologia uma vez que os nossos alunos também não os fecham. Contudo, mesmo com algumas partilhas de experiências académicas, ainda não existe um quadro de referência pedagógico sistemático para integrar a IAG na academia.
A título de exemplo um professor poderá enfrentar dificuldades em avaliar um trabalho do aluno quando este recorreu ao ChatGPT para redigir o trabalho. Não está só em questão o plágio académico, mas também o esforço pedagógico do professor em ensinar, motivar e orientar o aluno para que este seja mais autónomo nas suas decisões profissionais e pessoais. Assim sendo, acredito que estas tecnologias generativas devem ser utilizadas de forma eficiente ao longo dos programas pedagógicos como ferramentas de pesquisa e de melhoria da capacidade crítica e escrita.
Como professor, utilizei ferramentas de geração de imagens, tal como o Midjourney ou DALL-E, para desenvolver conteúdos com alunos de marketing digital. Utilizei, igualmente, o ChatGPT para criar cenários hipotéticos de consumo, com o objetivo de os alunos desenvolverem capacidades técnicas de análise de conteúdo. São dois exemplos de práticas pedagógicas aceites na generalidade pelos alunos.
Depois de integrar a IAG nas minhas aulas, o interesse académico e científico conduziu-me a iniciar uma pesquisa, questionando os alunos sobre a aceitação destas tecnologias, como o ChatGPT, na sua vida académica. Os resultados preliminares são interessantes, numa amostra de pouco mais de 100 alunos, em média todos concordaram fortemente que num futuro próximo a IA estará presente na sua vida pessoal e profissional. Relativamente ao contexto académico, os alunos preferem o ChatGPT como um motor de busca e explorador dos mais variados temas.
As tecnologias de Inteligência Artificial Generativa vieram para ficar e virão a ser adotadas, celeremente, pelos estudantes e professores. Assim sendo, as universidades e suas lideranças devem introduzir nas suas ofertas formativas e nas práticas pedagógicas estas tecnologias. Para alcançar este objetivo, a estratégia deve assentar em três pilares: 1) Formação e sensibilização de docentes; 2) Introdução e integração de IAG nas Unidades Curriculares; 3) Desenvolvimento de princípios éticos e regras académicas para o uso de IAG.
PS: este artigo foi escrito totalmente por um humano seguindo o novo acordo ortográfico.
Ricardo Abreu é Docente Universitário