Os CEO da Vodafone (Margherita Della Valle), Orange (Christel Heydemann) e Deutsche Telekom (Tim Höttges), bem como o presidente e CEO da Telefónica (Marc Murtra) coincidiram e partilharam o palco numa das keynotes do primeiro dia do Mobile World Congress. Fizeram-no para debater um dos temas quentes deste congresso: o futuro do desenvolvimento tecnológico “made in Europe”.
Os quatro concordaram com a necessidade de um maior investimento na implantação de redes e na procura de economias de escala que rentabilizem esses investimentos, apontando o elevado grau de fragmentação do velho continente em comparação com outras regiões do mundo, o que resulta na coexistência de múltiplos reguladores e num ambiente mais complexo para a competitividade. Por outro lado, argumentaram que, embora por vezes haja uma perceção de atraso, existe um know-how consolidado para expandir a conectividade e aproveitar as novas oportunidades tecnológicas.
O 5G foi um dos principais focos do debate. Alguns dos participantes recordaram que a Europa está menos avançada do que os Estados Unidos ou a China em termos de cobertura 5G na sua versão mais completa. O investimento na região não atinge os níveis de outros mercados, o que dificulta que as redes europeias atinjam o mesmo ritmo de atualizações.
De acordo com a discussão, a procura de serviços está a crescer e a indústria considera urgente acelerar a implantação de redes de quinta geração para não gerar dependências digitais com fornecedores fora do continente.
Algumas vozes recordaram que, no seu conjunto, as empresas do setor ligam milhões de clientes e gastam anualmente uma grande quantidade de recursos em infraestruturas. No entanto, foi argumentado que o cenário atual desencoraja o investimento, uma vez que as empresas não veem uma compensação proporcional na sua avaliação de mercado à medida que os custos de implantação aumentam.
Os palestrantes também destacaram que, em ambientes como os EUA, menos concorrentes no segmento móvel e menos regulamentação contribuem para que a cobertura 5G ultrapasse 90%.
Para além das infraestruturas: o impulso da IA
O impacto da inteligência artificial foi outro ponto central. Os executivos presentes consideraram que a IA está a tornar-se uma tecnologia transversal que influenciará a automatização das redes e o atendimento ao cliente, bem como muitos processos internos.
Acrescentaram que a Europa não deve apenas concentrar-se em conseguir uma maior cobertura com o 5G, mas também tirar partido das oportunidades de inovação que a inteligência artificial oferecerá na extremidade da rede.
De acordo com os pontos de vista partilhados, o futuro da conectividade exigirá a atribuição eficiente de recursos entre a nuvem e os sistemas periféricos, e os operadores veem esta evolução como uma oportunidade para se posicionarem como integradores de soluções de IA. Foi também salientado que, embora a maior parte do investimento em inteligência artificial venha de outras regiões, a Europa tem os profissionais e as empresas capazes de competir se o ambiente regulamentar e de financiamento o permitir.
Necessidade de um ambiente de investimento favorável
Um caso citado como exemplo neste aspeto do investimento foi o do Reino Unido, onde uma fusão entre operadores deu origem a um novo plano de investimento na rede. Esta iniciativa foi vista como uma indicação de que as operações de consolidação podem gerar melhores condições para o financiamento de projetos de grande escala e para a promoção da inovação tecnológica.
Outro tema de destaque mencionado durante a conferência foi a contribuição dos grandes fornecedores de serviços Internet, cujo tráfego representa uma parte significativa da carga da rede. A opinião expressa pelo setor baseou-se na conveniência de um modelo de colaboração que permita a estes gigantes digitais contribuir de forma mais clara para os custos de manutenção e modernização da infraestrutura, procurando aquilo que alguns descreveram como uma compensação mais equitativa.
Por último, os participantes concordaram que o ambiente atual significa que há menos capacidade para gerar projetos pan-europeus de grande escala e sublinharam que existe uma vontade clara de investir e alavancar a base tecnológica da Europa, mas a complexidade regulamentar em cada país complica o aparecimento de grandes grupos e o investimento a longo prazo.
Reportagem Digital Inside em Barcelona