O Women in Tech do Web Summit oferece uma visão detalhada sobre as lutas e oportunidades que marcam a experiência das mulheres no setor da tecnologia em 2024. Embora as mulheres tenham alcançado avanços notáveis, o relatório sublinha que ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a verdadeira igualdade. A disparidade salarial, a dificuldade em obter financiamento para startups e a pressão para equilibrar vida pessoal e profissional continuam a ser realidades incontornáveis.
Barreiras estruturais
De acordo com o relatório, quase um terço das mulheres inquiridas (29,6%) identifica a falta de financiamento como um dos maiores obstáculos ao lançamento de negócios próprios, refletindo uma tendência global. Em 2023, dados do World Economic Forum indicaram que startups fundadas exclusivamente por mulheres receberam apenas 1,8% do financiamento de capital de risco na Europa, e 2% nos EUA. No Médio Oriente e Norte de África (MENA), o valor foi ainda mais baixo, apenas 0,47%.
Este é um dos maiores desafios enfrentados por empreendedoras no setor tecnológico, especialmente porque as startups lideradas por homens continuam a atrair a maior parte do investimento. Mesmo com a crescente visibilidade das mulheres em cargos de liderança — com mais de 68% das empresas a ter pelo menos uma mulher em posição de C-level, segundo o relatório — a desigualdade no acesso a financiamento reflete as barreiras institucionais que persistem.
Desigualdade salarial e sexismo: Um problema sistémico
Mais de metade das mulheres entrevistadas (51%) afirma sentir-se injustamente remunerada em comparação com os seus colegas masculinos, um dado que se mantém inalterado nos últimos anos. Além disso, 75% das mulheres sentem a necessidade de trabalhar mais do que os homens para serem reconhecidas no seu local de trabalho, o que exacerba a sensação de imposter syndrome, uma questão recorrente entre as mulheres no setor tecnológico.
A prevalência do sexismo no local de trabalho é outra questão crítica. Quase 51% das inquiridas relataram ter sofrido algum tipo de discriminação de género. Este número, que não mudou significativamente desde a última edição do relatório, reflete a dificuldade em mudar comportamentos enraizados, mesmo num setor que se orgulha de ser inovador e progressista.
Equilíbrio entre carreira e vida pessoal: Um fardo crescente
Outro dado revelador é o aumento da pressão para escolher entre carreira e família. Quase metade das inquiridas (49,1%) relatou sentir esta pressão, um aumento de 7% em relação ao ano anterior. A falta de redes de apoio adequadas, como políticas de licença parental mais robustas ou soluções de cuidados infantis, são apontadas como barreiras que impedem as mulheres de participar plenamente no mercado de trabalho.
Uma das respondentes ilustrou bem esta dificuldade, afirmando: “Sem apoio eficaz para o cuidado infantil, torna-se mais desafiante para as mulheres que querem ter uma família participarem plenamente na força de trabalho.” Este sentimento está amplamente difundido e reflete uma das maiores preocupações das mulheres que tentam equilibrar as responsabilidades profissionais com as familiares.
Oportunidades e otimismo
Apesar dos desafios, há sinais encorajadores de mudança. O relatório mostra que 76% das mulheres inquiridas sentem-se capacitadas para ocupar posições de liderança, um indicador de que a confiança nas suas capacidades está a aumentar. Além disso, 68% das participantes veem com otimismo o impacto da inteligência artificial (IA) e da automação na promoção da equidade de género.
Há uma crescente crença de que a IA pode desempenhar um papel crucial na eliminação de preconceitos inconscientes e na expansão das oportunidades para as mulheres no local de trabalho. O uso responsável da IA, de acordo com a consultora PWC, pode melhorar a gestão de talentos, aumentar a diversidade e reduzir desigualdades, desde que sejam estabelecidos mecanismos éticos para evitar a perpetuação de vieses de género.
Um Movimento global para a mudança
O relatório Women in Tech do Web Summit destaca que, apesar dos avanços no número de mulheres em startups e cargos de liderança, a sensação de sub-representação e subfinanciamento ainda é prevalente. A necessidade de mudança é clara, com 56% das mulheres a afirmar que a indústria tecnológica não está a fazer o suficiente para combater a desigualdade de género, e 69% a manifestarem insatisfação com os esforços dos seus governos.
No entanto, o relatório também sublinha o crescente movimento de mulheres a assumir papéis de liderança no setor tecnológico. Eventos como o Web Summit têm desempenhado um papel fundamental na promoção da diversidade, com o número de startups fundadas por mulheres a aumentar significativamente. Este ano, 1.000 das 3.000 startups presentes no evento são lideradas por mulheres, um marco que reflete a resiliência e determinação das mulheres em se destacarem num ambiente predominantemente masculino.
Carolyn Quinlan, VP da comunidade do Web Summit, sintetizou bem a dualidade do momento atual: “É frustrante que questões como sexismo, salário desigual e equilíbrio entre trabalho e vida continuem a surgir, mas também sinto esperança. Mais mulheres estão a liderar e a trazer as suas startups para eventos como o Web Summit.”
O Women in Tech report de 2024 revela um setor em transição, onde as mulheres continuam a enfrentar obstáculos sistémicos, mas também a conquistar espaço. O aumento da participação feminina no Web Summit e em outros eventos globais é um sinal de que a mudança está em curso, ainda que lenta. O futuro da tecnologia será moldado pela capacidade de o setor abraçar a diversidade e encontrar soluções para os desafios de equidade de género que permanecem por resolver.