O relatório ENISA Threat Landscape 2024 elenca os principais tipos de ameaças que merecem destaque pela ocorrência ao longo do tempo, disseminação e impacto das consequências de concretização. Neste leque, a engenharia social é um dos vetores de ataque referenciado. Se aliarmos esta técnica largamente utilizada ao advento da Inteligência Artificial, onde os atacantes têm ao seu dispor uma ferramenta de auxílio para a produção de conteúdo e mensagens fraudulentas, a concretização de um maior número de ciberataques acontecerem, escalam.
A aposta das organizações em cibersegurança e da propulsão em sensibilizar, formar e treinar os seus colaboradores, com vista à adoção de comportamentos ajustados e responsivos a possíveis tentativas de ciberataques, pode deparar-se com a questão de motivação e disponibilidade dos mesmos para o cumprimento do plano formativo delineado.
Esta ação, sendo bidirecional, implica, por um lado, que o colaborador compreenda o propósito de participar ativamente no plano formativo implementado pela organização e, por outro, que a organização desenhe objetivos de aprendizagem claros, com metas definidas e tenha, ainda, contemplado nesse plano, tempo dedicado para a concretização do mesmo, para que o colaborador possa percorrer o seu trilho de aprendizagem com o compromisso necessário que a tarefa assim o exige.
Esperam-se, assim, benefícios para ambas as partes. As organizações, ao investirem e estimularem os seus colaboradores a serem coadjuvantes na defesa e proteção da informação organizacional, proporcionam um ambiente integrativo e de envolvência coletiva em que cada colaborador é parte dos objetivos e estratégia de cibersegurança implementada na organização.
Com agendas profissionais exigentes, a necessária disponibilidade para a formação corporativa pode opor-se a cursos de longa duração ou formação presencial. O microlearning revela-se, então, uma abordagem e estratégia pedagógica a contemplar no plano formativo das organizações.
O termo microlearning, como refere Carla Torgerson (2021), no capítulo What is microlearning? Origin, definitions, and applications, do livro Microlearning in the digital age, não está, ainda, adequadamente definido e, apesar dos profissionais da área concordarem que microlearning é curto, o quão curto possa ser não está estabilizado, sendo ainda um tópico em debate.
Podemos, contudo, considerar que microlearning são pequenos momentos de aprendizagem, e se juntarmos esta estratégia pedagógica à formação digital, as possibilidades são consideráveis.
O microlearning ao ser desenhado para um ambiente online traz a mais-valia de apresentar os conteúdos sob variados produtos digitais, confluindo para alcançar as diversas preferências de aprendizagem dos formandos. Acresce o facto de ser estruturado, acessível, consistente e uniforme para todos os colaboradores, possibilitando o acesso à mesma informação por todos os participantes.
Se implementado num LMS – sistema de gestão de aprendizagem -, é possível gerir as inscrições e o percurso do formando, extrair métricas, estruturar os cursos, produzir atividades, publicar conteúdo e testar conhecimentos. Os produtos digitais podem ficar disponíveis pelo tempo definido pela organização e o seu acesso pode ser feito em qualquer horário ou dia da semana. Esta flexibilidade temporal é um fator positivo apontado por muitos formandos. Todavia, tal flexibilidade não deve ser entendida como a realização de tarefas profissionais e formativas em simultâneo.
O microlearning ao ser de curta duração, consegue prender a atenção e motivar o formando a concluir o tema. O seu consumo rápido facilita a assimilação e o processamento da informação, reduz a sobrecarga cognitiva e possibilita a aquisição gradual dos conteúdos propostos. Estas características trazem outros benefícios, como o facto de se alcançar um maior número de participantes pela melhor acomodação de tempo nas agendas profissionais, facilitando uma cadência formativa sobre o tema da cibersegurança na organização.
Em suma, o microlearning é um método poderoso e envolvente, nomeadamente, para o processo de onboarding e para formação contínua. Ele favorece, ainda, a possibilidade de se explorar diversos temas para se selecionar os que têm maior relevância para as funções do colaborador e aprofundá-los através de cursos com uma carga horária superior. As potencialidades e as vantagens são vastas.
Cláudia Gomes é Digital Learning Developer na VisionWare Academy