Em 2023, os mercados de capitais globais registaram um desempenho notável, refletido num crescimento do retorno médio acionista para 12% ao ano, comparativamente aos 7% verificados entre 2018 e 2022. Esta tendência positiva é destacada no “2024 Value Creators Rankings” da Boston Consulting Group (BCG), que analisou o desempenho de 2.355 empresas de 35 setores entre 2019 e 2023.
O setor tecnológico tem sido o principal motor deste crescimento, com a indústria de desenvolvimento de hardware a liderar a criação de valor, apresentando um retorno médio anual de 27%. Além disso, a indústria de software e a indústria de componentes elétricos também se destacaram, ocupando a 5ª e 9ª posições, respetivamente, com retornos médios anuais de 18% e 15%.
Para Pedro Pereira, Managing Director e Senior Partner da BCG em Lisboa, “os resultados revelam um forte crescimento do setor tecnológico, mas também demonstram a capacidade dos setores industriais tradicionais em alcançar um desempenho excecional em termos de criação de valor. Neste contexto, é importante que as empresas implementem estratégias coesas, que permitam a identificação de mercados promissores e o investimento em inovação.”
De facto, a análise da BCG sublinha a relevância contínua das indústrias tradicionais. O setor mineiro, por exemplo, gerou um retorno médio anual de 20%, posicionando-se em segundo lugar no ranking. A indústria de materiais de construção e a de maquinaria seguiram de perto, ocupando o terceiro e quarto lugares com retornos anuais de 19% e 18%, respetivamente.
Apesar do sucesso geral, alguns setores enfrentaram desafios. A indústria farmacêutica e a de tecnologia médica registaram quebras significativas, com a primeira a cair para o 18º lugar e a segunda para o 24º, uma descida acentuada face às posições de destaque que ocupavam no ano anterior. Esta diminuição pode ser atribuída à estabilização do setor da saúde no período pós-pandémico, tornando-o menos atrativo para os investidores.
Regionalmente, as empresas da Ásia-Pacífico continuam a dominar a criação de valor, ocupando 51 das 100 primeiras posições globais e 39% das dez primeiras por setor. As empresas norte-americanas também mostraram um desempenho robusto, subindo para 38 posições no top 100, em comparação com as 27 posições de 2023. Em contraste, as empresas europeias mantêm-se sub-representadas, assegurando apenas 9 das 100 principais posições e 13% das dez primeiras por setor, apesar de constituírem 20% da amostra analisada.
Para manter ou melhorar os níveis de criação de valor e de TSR (Total Shareholder Return), a BCG recomenda que as empresas invistam em inovação, especialmente em IA e soluções de sustentabilidade. Além disso, é essencial uma gestão eficiente dos custos e um planeamento estratégico robusto. A BCG sublinha a importância de comunicar claramente estas estratégias para atrair investimento e manter a competitividade no mercado.
Este relatório da BCG destaca a resiliência e adaptabilidade das empresas perante um cenário global desafiante, evidenciando a importância de estratégias inovadoras e de um enfoque contínuo na criação de valor a longo prazo.