Longe da vista, longe da eficácia

Uma investigação conduzida por Gregory Northcraft, professor da University of Illinois, revela que ao invés de fortalecer as equipas, o uso intensivo de ferramentas de teletrabalho pode prejudicar a confiança entre colegas.
4 de Outubro, 2024

A comunicação digital, em particular através de e-mails e videoconferências, é vista como uma ferramenta crucial no ambiente de trabalho moderno, permitindo ganhos de eficiência e redução de custos operacionais. No entanto, uma nova investigação conduzida por Gregory Northcraft, professor da University of Illinois, revela uma preocupante realidade: ao invés de fortalecer as equipas, o uso intensivo destas tecnologias pode prejudicar a confiança entre colegas, um elemento fundamental para o sucesso colaborativo.

Segundo o investigador, especializado em liderança executiva, a interação face a face continua a ser insubstituível na construção de relações de confiança dentro das equipas. A ausência dessa componente humana nas interações via e-mail e videoconferência inibe a criação de laços, resultando numa erosão da coesão e, consequentemente, na diminuição da eficácia da equipa.

A importância da confiança no trabalho em equipa

Os resultados do estudo indicam que, para garantir o sucesso na colaboração de projetos, a confiança entre os membros da equipa é essencial. Quando os colegas se encontram pessoalmente, o nível de confiança é substancialmente mais elevado, o que, segundo o professor universitário, fomenta um sentido acrescido de responsabilidade individual e coletiva. Quando essa confiança está ausente, os colaboradores tendem a abordar as suas tarefas de forma mais descomprometida, o que, a médio e longo prazo, compromete a produtividade e a eficácia do grupo.

Para testar a sua teoria, Gregory Northcraft dividiu um grupo de estudantes em dois: uma parte interagiu presencialmente, enquanto a outra se limitou a comunicar por e-mail e videoconferências. Os resultados foram esclarecedores. Os grupos que se encontraram pessoalmente reportaram um maior nível de confiança entre os membros e obtiveram melhores resultados nos projetos. Em contraste, os que recorreram apenas a meios digitais revelaram níveis mais baixos de confiança e um desempenho inferior.

Estas conclusões sublinham a necessidade urgente de as empresas reconsiderarem o uso excessivo das tecnologias de comunicação digital no ambiente de trabalho. Embora e-mails e videoconferências tenham inegáveis vantagens em termos de eficiência, o seu impacto negativo na qualidade das interações humanas não pode ser ignorado.

Northcraft sugere que, em vez de se depender exclusivamente das tecnologias, as empresas deveriam procurar equilibrar os métodos digitais com interações presenciais. Este compromisso permitiria tirar partido da eficiência das tecnologias, sem prejudicar a confiança e a coesão da equipa.

O estudo de Northcraft lança ainda luz sobre o preço oculto da dependência excessiva de ferramentas digitais. Num mundo empresarial cada vez mais pressionado por prazos e metas de produtividade, o tempo economizado com e-mails pode ser tentador. No entanto, à medida que as relações de trabalho se tornam cada vez mais impessoais, a coesão das equipas e a eficácia global podem ser comprometidas, levando ao fracasso de projetos e à insatisfação dos colaboradores.

Assim, a principal mensagem do estudo é clara: as empresas devem adotar uma abordagem mais equilibrada na sua comunicação interna. A eficiência não pode ser alcançada à custa das relações humanas. E, à medida que o mundo do trabalho continua a evoluir, é crucial que os líderes empresariais reconheçam a importância de cultivar a confiança e a colaboração efetiva, investindo nas pessoas tanto quanto nas tecnologias.

Com o teletrabalho e as equipas distribuídas a tornarem-se uma constante, este estudo é um alerta oportuno para gestores e líderes de equipas: a comunicação digital pode ser uma ferramenta poderosa, mas o sucesso da colaboração depende, antes de mais, da qualidade das relações humanas.

Com informação CIO

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