O setor da gestão de ativos globais registou um crescimento significativo de 12% em 2023, atingindo os 118,7 mil milhões de dólares em ativos sob gestão, de acordo com o mais recente estudo da Boston Consulting Group (BCG), intitulado “Global Asset Management 2024: AI and the Next Wave of Transformation”. Este crescimento representa uma recuperação robusta face à queda de 9% observada em 2022. Contudo, esta aparente recuperação esconde uma realidade menos animadora: os lucros do setor caíram 8,1%, à medida que o aumento das receitas foi praticamente inexistente (+0,2%), enquanto os custos subiram 4,3%.
A discrepância entre o crescimento dos ativos e a rentabilidade real revela um setor sob pressão. A Europa, em particular, demonstrou um crescimento abaixo da média global, fixando-se nos 8%, um valor modesto comparado com os impressionantes 16% observados na América do Norte e os 15% no Japão e Austrália. Outras regiões, como a América Latina e o Médio Oriente e África, também superaram a Europa, com aumentos de 13% nos ativos sob gestão.
Desafios estruturais no horizonte europeu
Pedro Pereira, Managing Director e Senior Partner da BCG em Lisboa, destaca que, apesar do aumento nos ativos sob gestão, o setor enfrenta desafios substanciais que estão a comprometer a sua rentabilidade. “O crescimento dos custos operacionais, aliado à carência de produtos inovadores e diferenciados, está a pressionar as margens de lucro das gestoras de ativos. Além disso, a crescente preferência por fundos passivos, que tendem a ter taxas de gestão mais baixas, está a agravar esta pressão sobre as receitas”.
De facto, a priorização de fundos passivos tem sido uma tendência notável nos últimos anos, particularmente na Europa, onde os investidores se têm afastado de fundos de gestão ativa devido ao seu desempenho inconsistente e custos mais elevados. A aceleração desta tendência coloca as gestoras de ativos sob uma pressão crescente para se reinventarem, com uma maior necessidade de inovação nos produtos que oferecem e uma gestão mais eficiente dos custos.
A IA como catalisador de transformação
Num cenário de desafios estruturais, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma potencial solução transformadora. De acordo com o estudo da BCG, 72% dos gestores de ativos acreditam que a IA terá um impacto significativo ou mesmo transformador no setor. A aplicação de IA, particularmente a Inteligência Artificial Generativa, promete não apenas aumentar a produtividade, mas também permitir uma personalização sem precedentes dos produtos e serviços oferecidos aos clientes.
“Uma das grandes oportunidades que a IA oferece é a capacidade de criar soluções personalizadas que respondam de forma mais eficaz às necessidades específicas dos investidores, ao mesmo tempo que melhora a eficiência operacional das gestoras”, afirma Pedro Pereira. Além disso, a IA pode abrir novas oportunidades em mercados privados, um segmento que tem sido cada vez mais explorado pelas gestoras de ativos em busca de rendimentos superiores.
Contudo, a adoção de IA não será uma panaceia automática. As empresas terão de investir significativamente em tecnologia e, crucialmente, na formação e adaptação das suas equipas, para tirar pleno partido das novas ferramentas. Aqueles que conseguirem integrar eficazmente a IA nos seus processos poderão não apenas resistir às pressões atuais, mas também emergir como líderes num setor em transformação.
O futuro da gestão de ativos
O estudo da BCG sublinha a importância de um investimento estratégico em tecnologia e inovação como forma de responder aos desafios crescentes no setor da gestão de ativos. Num ambiente onde o crescimento dos ativos não se traduz automaticamente em maiores lucros, a capacidade de inovar e de diferenciar será cada vez mais crucial.
O futuro da gestão de ativos, particularmente na Europa, dependerá da capacidade das empresas para adaptarem os seus modelos de negócio a esta nova realidade. A IA oferece uma das melhores vias para essa transformação, mas o sucesso exigirá uma visão clara e uma execução disciplinada. Neste contexto, o ano de 2024 poderá ser um ponto de viragem para muitas gestoras de ativos que se encontram numa encruzilhada entre a estagnação e a inovação.