O mercado reagiu com cauteloso otimismo, impulsionando as ações em 3,8% nas transações pós-fecho, ainda longe de reverter a queda de 60% acumulada no último ano.
O desempenho da empresa no último trimestre ficou marcado não apenas pelos números financeiros, mas também pela incerteza em relação à sua liderança. A recente saída de Pat Gelsinger da presidência deixou a companhia sob a gestão interina de dois co-CEO, enquanto o conselho de administração procura um novo comandante para redefinir o rumo da outrora dominante fabricante de chips.
Desafios estruturais e a corrida pela IA
A Intel tem encontrado dificuldades em capitalizar a explosão da procura por chips de inteligência artificial, um segmento amplamente dominado pela Nvidia. Durante a conferência com investidores, Michelle Johnston Holthaus, co-CEO interina, anunciou a decisão de descontinuar o projeto Falcon Shores, um processador gráfico (GPU) que a empresa pretendia introduzir no mercado de IA. A Intel pretende agora utilizar o Falcon Shores apenas para testes internos, canalizando os seus esforços para futuros produtos destinados a data centers.
A previsão de receitas da empresa para o primeiro trimestre de 2025 situa-se entre 11,7 e 12,7 mil milhões de dólares, abaixo da estimativa média de analistas de 12,87 mil milhões de dólares. Este desempenho reflete uma procura moderada pelos tradicionais processadores para servidores, enquanto as empresas priorizam investimentos em chips especializados para IA.
Custos Operacionais
David Zinsner, co-CEO interino e CFO, atribuiu a previsão conservadora para o próximo trimestre a uma “sazonalidade normal” e ao receio de tarifas adicionais sob a administração do ex-presidente Donald Trump, que podem ter levado clientes a antecipar compras para evitar custos acrescidos.
David Zinsner reforçou ainda que a empresa pretende conter as suas despesas operacionais em torno de $17,5 mil milhões em 2025. Esta medida surge num contexto em que a Intel tem investido pesadamente na transição para um modelo de fabricação por contrato (foundry), tentando competir com gigantes como a TSMC. A estratégia, apesar de promissora a longo prazo, levanta dúvidas sobre o impacto na liquidez da empresa.
Resultados do quarto trimestre
A Intel registou uma queda de 7% nas receitas do quarto trimestre, para 14,26 mil milhões de dólares, superando as projeções de 13,81 mil milhões de dólares. Parte desse resultado foi impulsionado por subsídios do governo dos EUA, via CHIPS Act, um reflexo da importância estratégica da Intel para a indústria tecnológica americana.
No entanto, a empresa continua a perder quota de mercado para a AMD nos segmentos de PC e servidores, uma tendência que os analistas acreditam que persistirá em 2025. O mercado de PC, o maior para a Intel em termos de receitas, registou um crescimento modesto no ano passado, frustrando expectativas de uma recuperação mais robusta.
Enquanto o conselho de administração da Intel procura um novo CEO, investidores aguardam por uma direção estratégica mais clara. “A ausência de um novo líder pode ampliar a incerteza entre os investidores, uma vez que a estabilidade da gestão é crucial para a execução de planos de reestruturação”, afirmou Michael Schulman, diretor de investimentos da Running Point Capital, à Reuters
O futuro da Intel dependerá não apenas da sua capacidade de inovar, mas também de uma liderança firme que possa restaurar a confiança dos investidores e posicionar a empresa para competir de igual para igual na nova era da computação centrada na IA.
Com informação Reuters