IA: Quando é chinês é sempre mais barato, mas desta vez não é “fake” e é eficaz

É consensual entre os gigantes tecnológicos que a inteligência artificial (IA) de ponta exigia investimentos massivos em infraestrutura e poder de computação. No entanto, a startup chinesa DeepSeek está a virar esta narrativa de cabeça para baixo, provocando dúvidas sobre os gastos bilionários das Big Tech.
28 de Janeiro, 2025

Fundada em 2023, a DeepSeek afirma ter desenvolvido o seu modelo de IA, o V3, num prazo de apenas dois meses e com um orçamento inferior a 6 milhões de dólares, utilizando os chips H800 da Nvidia – menos avançados que os preferidos pelos líderes do setor. O impacto foi imediato: uma aplicação alimentada pelo modelo V3 tornou-se a aplicação mais descarregada no iPhone nos Estados Unidos, esta segunda-feira.

A ousadia da startup está a desafiar o pressuposto de que a escalabilidade da IA depende de investimentos colossais. A empresa alega que os seus modelos rivalizam ou até superam os das grandes empresas americanas, mas por uma fração do custo.

Uma ameaça para as gigantes

Esta novidade fez termer Wall Street. As ações da Nvidia caíram 16%, a Microsoft registou uma queda de 3,8% e a TSMC viu o seu valor descer 14%. O impacto estende-se além dos mercados financeiros: a revelação coloca em xeque os gastos estimados em 250 mil milhões de dólares que os gigantes americanos planeiam investir em infraestrutura de IA este ano.

“A DeepSeek realmente construiu algo comparável à OpenAI por 5 milhões de dólares? Claro que não”, disse Stacy Rasgon, analista da Bernstein, à Reuters. “Mas os preços apresentados pela DeepSeek esmagam qualquer coisa oferecida pela concorrência.”

O anlista destaca que a startup oferece os seus modelos até 40 vezes mais baratos do que os produtos comparáveis da OpenAI. Isto pode dar início a uma guerra de preços, forçando empresas como a OpenAI, que já enfrenta custos operacionais elevados, a repensar as suas estratégias.

Serão as tensões geopolíticas uma barreira?

Nem tudo é simples. Analistas apontam que as empresas americanas poderão hesitar em adotar tecnologias chinesas devido às tensões geopolíticas sentre os EUA e a China, além de preocupações com a privacidade e a segurança dos dados. A DeepSeek, por exemplo, armazena informações dos utilizadores em servidores localizados na China, algo que pode ser um obstáculo para a sua adoção no Ocidente.

Especialistas afirmam que os avanços da DeepSeek podem acabar por beneficiar as grandes empresas de tecnologia. “Se a DeepSeek descobriu um modelo de processamento mais eficiente, podem contar que os incumbentes adotem as mesmas técnicas”, disse Mark Malek, diretor de investimentos da SiebertNXT, à Reuters.

O futuro das Big Tech

Com a publicação dos resultados das gigantes tecnológicas nas próximas semanas, os analistas esperam declarações dos executivos sobre as estratégias futuras. Angelo Zino, analista da CFRA, prevê que as empresas continuarão a defender a necessidade de maior poder de computação, especialmente com a transição para formas mais avançadas de IA, como agentes autónomos e robôs.

O surgimento da DeepSeek vai forçar a uma reavaliação do ritmo e da direção dos investimentos. “A pergunta agora é se o ritmo atual de gastos e atualizações tecnológicas é realmente necessário”, conclui Zino, em declarações a Reuters

Enquanto a indústria se ajusta, uma coisa é clara: a revolução da IA não será apenas uma questão de poder computacional, mas de eficiência e estratégia. E a DeepSeek, com o seu modelo, trouxe uma nova variável para a equação.

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