Huawei Mate 70: Entre o prestígio e os desafios do mercado Chinês

A Huawei tem as ferramentas e o mercado de origem para continuar a competir, mas a pergunta que paira é se conseguirá reinventar-se novamente antes que a concorrência tome a dianteira.
29 de Novembro, 2024

A Huawei, outrora líder incontestável no mercado de smartphones, continua a lutar para consolidar o seu regresso à ribalta com o lançamento do Mate 70. Apesar de o dispositivo ser anunciado como o mais poderoso da série Mate, analistas sugerem que o entusiasmo dos consumidores chineses está a esmorecer, levantando questões sobre a capacidade da empresa de manter o ritmo de crescimento num mercado altamente competitivo.

Queda na empolgação do consumidor

Num relatório recente, a corretora Jefferies, citada pela Reuters, apontou para um declínio significativo no interesse público pelo Mate 70, baseado numa análise da frequência de avaliações e discussões online desde o seu lançamento. “Há muito menos entusiasmo”, afirmaram os analistas, sugerindo que as projeções iniciais de vendas para a Huawei em 2024 – cerca de 48 milhões de unidades – enfrentam agora riscos de revisão em baixa.

O desempenho anterior da Huawei reforça esta preocupação. O Mate 60, lançado no ano passado como um marco no regresso da marca ao segmento de smartphones premium, registou 12 a 13 milhões de unidades vendidas, aquém dos estimativos iniciais de 15 a 16 milhões. De forma semelhante, o Pura 70, outro modelo apresentado em abril, conseguiu vender apenas 5 milhões de unidades até agora.

Um desafio técnico e de mercado

A narrativa de superação tecnológica que acompanhou o Mate 60 – especialmente com a produção local de um chip avançado, contornando sanções norte-americanas – impulsionou a perceção da marca e o orgulho nacional na China. Contudo, o Mate 70 não conseguiu reproduzir este impacto. Analistas e consumidores apontam melhorias limitadas face ao modelo anterior, enquanto persistem desafios relacionados com o desempenho e os níveis de produção.

A escassez do Mate 60 nos primeiros meses após o lançamento foi uma dor de cabeça significativa para a Huawei, e a Jefferies antecipa que problemas semelhantes possam surgir para o Mate 70, dados os estrangulamentos na produção de chips.

Perspetivas contraditórias para o Mate 70

Ainda assim, Toby Zhu, analista da Canalys, citado pela Reuters, adota uma perspetiva mais equilibrada. Embora reconheça que a reação morna dos consumidores seja inevitável após o impacto inicial do regresso da Huawei, Zhu prevê que o Mate 70 poderá registar um ligeiro aumento nas vendas em relação ao Mate 60, graças à melhoria na capacidade de produção de dispositivos de topo.

A Huawei mantém-se resiliente, ocupando a posição de segundo maior fornecedor de smartphones na China no terceiro trimestre de 2024, com mais de 10 milhões de unidades entregues por quatro trimestres consecutivos. Este é um progresso significativo face aos 4,1 milhões de unidades despachadas no segundo trimestre de 2022, sinalizando uma recuperação notável, ainda que desigual.

O Futuro da Huawei no segmento premium

Embora a Huawei continue a beneficiar de um forte apoio no mercado interno, alimentado por sentimentos patrióticos e pela perceção de avanços tecnológicos, o declínio no entusiasmo pelo Mate 70 destaca a dificuldade de sustentar o interesse dos consumidores num mercado onde a inovação incremental não é suficiente para capturar a atenção.

Com marcas como a Apple a aproveitar esta dinâmica, a Huawei enfrenta o duplo desafio de expandir a sua presença no segmento premium e melhorar a sua capacidade de inovação tecnológica. O Mate 70 pode não ser o blockbuster que muitos esperavam, mas serve como um lembrete de que, no mundo dos smartphones, o sucesso depende tanto da narrativa como da substância.

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