Guerra no mercado de chips faz mossa em fabricantes asiáticas apesar dos seus resultados positivos

Entre os maiores prejudicados, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co (TSMC), o maior fabricante de chips do mundo, perdeu cerca de 2 biliões de dólares em valor de mercado apenas nos últimos dois dias.
18 de Julho, 2024

As ações das empresas de tecnologia na Ásia sofreram um duro golpe na passad quinta-feira, refletindo uma forte venda observada em Wall Street. Esta onda de desvalorização foi desencadeada por notícias de que os Estados Unidos estão a considerar restrições mais rigorosas às exportações de tecnologia avançada de semicondutores para a China.

Entre os maiores prejudicados, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co (TSMC), o maior fabricante de chips do mundo, perdeu cerca de 2 biliões de dólares em valor de mercado apenas nos últimos dois dias. A TSMC, embora a empresa tenha divulgado hoje os seus resultados do último trimestre com uma subida de 36%, melhor que o previsto, enfrentou uma dupla adversidade esta semana, com as notícias sobre as restrições impostas pelos EUA, bem como os comentários do candidato presidencial republicano Donald Trump sugerindo que Taiwan deveria pagar aos EUA pela sua defesa.

Na passada quinta-feira, as ações da TSMC caíram mais de 3%, acompanhadas por outras grandes empresas tecnológicas. Entre elas, destacam-se os principais fabricantes de chips da Coreia do Sul, Samsung Electronics e SK Hynix, com quedas de 1,85% e 4,1%, respetivamente. Já a Tokyo Electron do Japão sofreu uma desvalorização superior a 8%.

O Global X Asia Semiconductor ETF, um fundo de investimento que segue o desempenho das empresas de semicondutores na Ásia, caiu 2,7%, reduzindo os ganhos acumulados no ano para 13,5%.

A Bloomberg News divulgou durante as horas de negociação asiáticas na quarta-feira que a administração do presidente Joe Biden está a ponderar uma medida conhecida como regra do produto estrangeiro direto. Esta regra permitiria ao governo dos EUA impedir a venda de produtos fabricados com tecnologia americana, o que poderia afetar empresas como a Tokyo Electron e a neerlandesa ASML.

Os American Depository Receipts da TSMC caíram 8% na quarta-feira. No seu relatório de lucros do primeiro trimestre, a TSMC informou que 69% da sua receita provém de clientes na América do Norte, enquanto apenas 9% vem da China.

O protecionismo de Washington em relação à indústria de semicondutores, considerada estrategicamente importante para a competição com a China, tem gerado preocupações crescentes entre os investidores. “Parece que os fatores macro e geopolíticos desempenharam um papel mais importante do que os fatores fundamentais”, afirmou Kang Jin-hyeok, analista da Shinhan Securities em Seul, à Reuters. Kang referia-se aos recentes resultados robustos divulgados pela Samsung e pela ASML, mas notou que as fortes vendas desta última à China a tornam um alvo das propostas de restrições dos EUA.

A China foi responsável por cerca de 49% das vendas de lithography system da ASML no segundo trimestre, representando cerca de 20% da sua carteira de encomendas. As ações da ASML caíram mais de 10% na quarta-feira, apesar da previsão de ganhos no segundo trimestre mostrar um aumento nas reservas vinculadas à inteligência artificial.

A administração Biden tem agido de forma agressiva para restringir o acesso chinês à tecnologia de chips de ponta, incluindo restrições abrangentes emitidas em outubro para limitar as exportações de processadores de IA projetados por empresas como a Nvidia. As últimas tensões nas relações sino-americanas aceleraram o que pareciam ser sinais iniciais de uma rotação dos investidores de ações de grandes empresas de tecnologia para ações de menor valor, sob a perspetiva de que taxas de juros mais baixas nos EUA beneficiariam empresas menores.

“O posicionamento tinha-se tornado muito extremo no espaço dos semicondutores/IA e os comentários sobre a redução das importações catalisaram um evento de redução dos riscos”, disse Jon Withaar, gestor de um fundo de cobertura de situações especiais na Ásia na Pictet Asset Management, à Reuters.

As ações tecnológicas tiveram um desempenho superior este ano devido ao boom global da IA, com o Nasdaq a subir 20% e o S&P 500 a ganhar 17%. Contudo, a venda em massa na Ásia na quinta-feira deixou as principais bolsas no vermelho, com o Nikkei de Tóquio a cair 2%, enquanto as ações em Taiwan desvalorizaram 2,3%. O índice de referência da Coreia do Sul, o KOSPI, caiu 1,34% e o índice tecnológico Hang Seng de Hong Kong perdeu 1,5%.

Com informações Reuters

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