GSMA ataca a UE por excesso de regulamentação

Marc Murtra, o novo Presidente do Conselho de Administração da Telefónica, faz a sua estreia na apresentação do Mobile World Congress, lembrando à UE que o excesso de regulamentação é um travão ao progresso do setor.
3 de Março, 2025
Marc Murtra, presidente da Telefónica

Marc Murtra, o novo Presidente do Conselho de Administração da Telefónica, faz a sua estreia na apresentação do Mobile World Congress, lembrando à UE que o excesso de regulamentação é um travão ao progresso do sector.

Este não é um tema novo para a GSMA, a associação mundial da indústria das telecomunicações, nem para o Mobile World Congress, mas hoje, na palestra principal, foi mais uma vez sublinhado: os operadores queixam-se do excesso de regulamentação imposto pela UE ao setor das telecomunicações.

Marc Murtra, o novo presidente da Telefónica, fez a sua estreia no evento de Barcelona. Curiosamente, a presidência da GSMA – pelo menos oficialmente – ainda está nas mãos de José María Álvarez-Pallete, o antecessor de Murtra, que não esteve presente nesta primeira sessão.

Ambiente em mudança com a desvantagem da hiper-regulação na Europa

Murtra explicou que a intensa evolução do setor das telecomunicações está a moldar um cenário global marcado pela procura de maior capacidade, a necessidade de investimento e a importância da inovação constante.

É neste contexto que identificou o excesso de regulamentação na UE como um desafio que o velho continente enfrenta em relação aos mercados asiático e americano.

Segundo Murtra, que lembrou que a Europa foi pioneira em tecnologias transformadoras como o GSM e o UMTS, as grandes empresas norte-americanas e asiáticas estão em vantagem em relação às suas congéneres europeias quando se trata de investir em tecnologias disruptivas, precisamente devido ao excesso de regulamentação, para além de um mercado fragmentado e de um retorno do investimento limitado. Tudo isto, segundo Murtra, pode agravar o risco de ficar para trás no domínio tecnológico.

Mais tarde, na mesma sessão, Sunil Bharti, presidente da Bharti Airtel, também apelou aos reguladores (não só europeus, mas de todo o mundo) para que flexibilizem a regulamentação e disponibilizem bandas de frequência de espetro a um preço acessível.

O pedido do novo CEO da Telefónica aos reguladores europeus não foi outro senão o de facilitar uma maior consolidação dos principais operadores de telecomunicações do velho continente, de forma a reforçar a autonomia europeia em matéria de inovação e tornar a economia mais produtiva.

Estima-se que, para atingir este objetivo, será necessário não só que as empresas redefinam a sua abordagem, mas também que a Comissão Europeia e os reguladores dos Estados-Membros adaptem as suas regulamentações.

Rumo a uma indústria global interligada

Mats Granryd, Diretor-Geral da GSMA, falou no mesmo discurso sobre a escala da infraestrutura de rede, com cerca de 6 milhões de torres e uma extensa rede com fios que liga quase 6 mil milhões de pessoas em todo o mundo, destacando a importância desta infraestrutura para o desenvolvimento digital, sublinhando que o espetro radioelétrico funciona como “oxigénio” essencial, permitindo a expansão dos serviços móveis.

Granryd referiu que a tecnologia 5G atingiu os 2 mil milhões de ligações e é considerada a mais rapidamente adoptada de todas as gerações de redes móveis. Ainda assim, ele observou que apenas 61 redes implantaram totalmente o 5G. De acordo com os dados, esta evolução poderá gerar até 4,7 biliões de dólares na economia global até 2030, embora o fosso entre o investimento e o retorno continue a ser um obstáculo para que o sector cresça tão fortemente como desejado.

Neste contexto, Granryd citou a oportunidade apresentada pelo Open Gateway, uma abordagem que abre a infraestrutura de rede através de APIs para impulsionar novos negócios. Atualmente, os operadores que cobrem quase 80 por cento das ligações móveis com tecnologia Open Gateway têm 52 redes comerciais que oferecem mais de 200 APIs, gerando receitas adicionais a curto prazo, reforçando a ideia de que esta iniciativa pode ajudar a equilibrar as margens estagnadas da indústria.

O CEO da GSMA também apontou a aplicação da IA como outra via para dinamizar as telecomunicações, com exemplos de algoritmos que processam grandes volumes de dados em tempo real para evitar fraudes ou melhorar a eficiência operacional.

O desafio de ligar os que não foram alcançados

Embora a cobertura móvel tenha evoluído e se tenha expandido nos últimos anos, estima-se que existam ainda 3,1 mil milhões de pessoas que não utilizam a conetividade, o que se deve a vários factores, como a acessibilidade dos dispositivos e das ligações ou as competências digitais.

Servir todas estas pessoas poderia acrescentar 3,5 biliões de dólares ao PIB mundial até 2030, de acordo com as estimativas referidas pela Granryd, e a ligação destes utilizadores é vista como um passo fundamental para aumentar o potencial de crescimento social e económico.

Reportagem Digital Inside em Barcelona 

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