Em Baku, a vibrante capital do Azerbaijão, a 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29) emerge como um marco decisivo na agenda climática global. Entre os anúncios de maior impacto, destaca-se a “Declaração sobre Ação Digital Verde” (“Green Digital Action”), apresentada em parceria pela União Internacional de Telecomunicações (ITU, sigla em inglês) e pela Presidência da COP29. Este ambicioso manifesto coloca a digitalização ao serviço da sustentabilidade ambiental, propondo uma transformação profunda nos alicerces do futuro digital.
Lançada no âmbito do primeiro Digitalisation Day de sempre numa COP, a declaração reúne mais de 1.000 governos, empresas, organizações da sociedade civil e instituições internacionais. Segundo Mukhtar Babayev, Ministro da Ecologia e Recursos Naturais do Azerbaijão e Presidente da COP29, a iniciativa visa “mobilizar tecnologias digitais para reduzir emissões, preparar comunidades para enfrentar mudanças climáticas e reforçar a resiliência global”.
“A Declaração de Ação Digital Verde define o compromisso coletivo de utilizar as tecnologias digitais de forma sustentável e com baixa intensidade de carbono para combater as alterações climáticas”, sublinhou Babayev. O documento apela à colaboração multissetorial e à inclusão digital como pilares para que ninguém – especialmente nas economias em desenvolvimento – fique para trás na transição climática.
Oportunidades e armadilhas da digitalização verde
A digitalização apresenta-se como uma ferramenta poderosa na luta contra as alterações climáticas. Tecnologias como inteligência artificial (IA) e big data permitem monitorizar fenómenos climáticos, prever desastres e otimizar recursos energéticos. Algoritmos de IA, por exemplo, já estão a melhorar a eficiência energética em centros de dados, reduzindo o impacto ambiental dessas infraestruturas críticas.
Contudo, a revolução digital traz consigo desafios significativos. O aumento da conectividade global eleva as necessidades energéticas e multiplica o volume de lixo eletrónico. Centros de dados – fundamentais para a economia digital – consomem vastas quantidades de energia e água para refrigeração e operação. Durante uma mesa-redonda de alto nível na COP29, especialistas discutiram soluções para equilibrar os benefícios e os custos ambientais da inovação digital, destacando a urgência de uma abordagem sustentável.
Infraestruturas digitais sustentáveis: o próximo passo
A Declaração de Ação Digital Verde transcende a simples mitigação de impactos climáticos. Enfatiza a necessidade de construir infraestruturas digitais sustentáveis e de reduzir a desigualdade digital. Isto inclui a expansão de ferramentas tecnológicas para alcançar comunidades remotas e vulneráveis, uma condição indispensável para resultados climáticos equitativos.
“Reduzir a pegada ambiental das tecnologias digitais e maximizar o seu potencial contra a crise climática são objetivos interdependentes,” afirmou Doreen Bogdan-Martin, Secretária-Geral da UIT. Para a UIT, a declaração é uma plataforma para alinhar a transformação digital com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2030, reforçando o compromisso de um futuro inclusivo e sustentável.
Tecnologia e sustentabilidade: aliados no limite de 1,5°C
A COP29 lança as bases de um novo paradigma onde tecnologia e sustentabilidade convergem. Ao adotar iniciativas como a Green Digital Action, a comunidade internacional reafirma o compromisso com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C. Este esforço global ilustra como a tecnologia pode ser tanto uma solução transformadora quanto um desafio operacional na batalha climática.
Com a COP30 já no horizonte, a mensagem da Declaração de Ação Digital Verde é inequívoca: o futuro digital deve ser verde, sustentável e acessível a todos. Este é o início de uma jornada que promete revolucionar não apenas como vivemos, mas também como cuidamos do planeta.
A Green Digital Action não é meramente um compromisso – é um apelo global à inovação, colaboração e ação imediata. Que esta seja a génese de uma era onde a tecnologia se afirme como um pilar inquestionável da sustentabilidade.