Gestão de Rotas: Confie na experiência do algoritmo

O planeamento de rotas com recurso a algoritmos e IA é hoje uma ferramenta essencial a qualquer empresa do setor dos transportes e logística, permitindo uma otimização de serviços, aumento de produtividade e satisfação do cliente.
13 de Agosto, 2024

“Estou aqui há 30 anos e quer dizer-me que vai fazer melhores rotas do que eu?”. Foi assim, desta forma simpática, que fui interpelada recentemente. Ora, gestão de rotas é mais do que, simplesmente, encontrar o caminho mais curto entre dois pontos. É mais do que ter o percurso menos oneroso. Poderia continuar, mas, enfim, nos dias que correm, é mais do que o que humanamente pode ser calculado.

Pensemos apenas numa pequena frota de 10 ou 20 veículos a fazer recolhas e entregas numa zona urbana, com janelas horárias espartanas, a terem de entrar em áreas de circulação limitada e ainda evitar zonas congestionadas ou de obras temporárias. Temos uma pequeníssima, mas evidente amostra de que a tarefa pode ser sobre-humana.

Portanto, nem eu, nem nenhum especialista em gestão de rotas consegue garantir o melhor percurso para cada uma daquelas viaturas, com todos os potenciais pontos de toque, entre recolhas e entregas. Apenas a tecnologia. Somente algoritmos bem oleados o permitem fazer com a maior eficácia possível.

Um investimento que não é escamoteável. Verdade, mas unicamente o software possibilita a automatização do processo, contribuindo para a otimização do transporte/rotas e para a redução do custo logístico e impacto ambiental, razões pelas quais estava na empresa, quando fui simpaticamente interpelada pelo senhor com três décadas de experiência, que citei de início.

Para termos uma ideia da complexidade da otimização de rotas, fatores como o número de viragens à esquerda (a evitar, por demorarem mais que as à direita), interseções ao longo da rota, condições da estrada, identificar a viatura mais próxima do local, no momento de uma nova recolha, ou o tráfego esperado àquela hora do dia, estão para lá do humanamente possível, particularmente se pensarmos que cada viatura terá o seu plano de entregas e recolhas individualizado.

O planeamento de rotas com recurso a algoritmos e IA é hoje uma ferramenta essencial a qualquer empresa do setor dos transportes e logística, permitindo uma otimização de serviços, aumento de produtividade e satisfação do cliente, agilização de processos, acréscimo de segurança, poupança de recursos, como combustíveis, manutenção, portagens e, no limite, até mesmo evitando o investimento na próxima nova viatura da frota.

A gestão de rotas não é uma solução isolada. Integra com outros softwares de gestão, como ERP ou CRM, e liga motoristas com equipas comerciais, armazéns, clientes e outros stakeholders do processo, contribuindo para uma visão integrada do negócio e um escrutínio e visibilidade como nunca antes foi possível, mesmo que com três décadas de conhecimento empírico acumulado.

De sublinhar que não considero que devamos ser geridos e nos deixemos levar por um ‘matrix’. Defendo, aliás, que a intervenção humana é crítica e diferenciadora. Contudo, para o nível de complexidade e elevado número de operações integradas com as quais as empresas de distribuição e logística se deparam nos dias de hoje, teremos de dar espaço aos algoritmos, ponteando-a com a razoabilidade que carateriza a intervenção humana.

Sara Monte e Freitas é Partner na Monte e Freitas | ERA Group

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