Férias prolongadas com IA

Não se trata de uma fantasia distante, mas de uma realidade tornada possível pela evolução de agentes de IA avançados, como, por exemplo, o projeto Cicero da Meta ou o AutoGen da Microsoft.
26 de Agosto, 2024

Imagine um mundo onde o conceito tradicional de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é radicalmente redefinido. Neste futuro, os colaboradores das organizações  não são apenas encorajados a tirar férias – são praticamente obrigados a fazê-lo. Porquê?  Porque o seu trabalho é totalmente coberto por agentes LLM, poderosos colaboradores de Inteligência Artificial (IA) que lidam perfeitamente com tarefas, projetos e até processos de tomada de decisões enquanto a força de trabalho humana está fora a gozar férias prolongadas.

Este cenário pode parecer uma fantasia utópica, mas está a tornar-se rapidamente uma realidade tangível à medida que os agentes LLM avançam. Estes agentes, alimentados por modelos de linguagem massivos, podem compreender, raciocinar e adaptar-se a diferentes tipos de tarefas, o que os torna inestimáveis no local de trabalho moderno. Ao contrário dos sistemas de IA do passado, que estavam limitados a funções específicas e estreitamente definidas, os agentes LLM podem navegar em fluxos de trabalho complexos, gerir interações dinâmicas e até aprender com os resultados das suas ações para melhorar ao longo do tempo.

Não se trata de uma fantasia distante, mas de uma realidade tornada possível pela evolução de agentes de IA avançados, como, por exemplo, o projeto Cicero da Meta ou o AutoGen da Microsoft. Cicero exemplifica a vanguarda do que os agentes de IA podem alcançar. Demonstrou um desempenho ao nível humano em ambientes complexos, como o jogo de estratégia Diplomacy[1], onde não só negociou com outros jogadores, como também planeou estrategicamente e se adaptou com base em intenções inferidas. O sucesso do Cicero neste ambiente altamente competitivo sublinha o seu potencial para lidar com tarefas complexas que requerem tanto cooperação como competição, competências altamente valiosas em muitos cenários de trabalho.

Por outro lado, o AutoGen da Microsoft oferece uma visão diferente, mas igualmente convincente, do futuro. Disponivel em código aberto permite aos programadores criarem aplicações LLM complexas, colocando vários agentes de IA a conversar e colaborem entre si [2]. A flexibilidade do AutoGen permite uma vasta gama de aplicações, desde da codificação passando pela otimização da cadeia de abastecimento até ao entretenimento. Permite que a IA assuma funções que tradicionalmente exigiam intervenção humana, libertando assim tempo para que os colaboradores das organizações se concentrem em actividades mais criativas e estratégicas.

No futuro que imaginamos, por exemplo, uma equipa de marketing pode fazer um retiro de um mês, sabendo que os seus agentes de IA alimentados por LLM estão a gerir tudo, desde a criação de conteúdos apelativos à análise das tendências do mercado e à elaboração de estratégias para campanhas futuras. Quando regressam, descobrem que não só o seu trabalho foi mantido, como também prosperou, com novas perspectivas e estratégias prontas a serem implementadas.

Esta transformação, embora excitante, também nos coloca desafios. A integração de agentes de IA tão avançados na força de trabalho suscita preocupações quanto à deslocação de postos de trabalho. No entanto, em vez de substituírem os seres humanos, estes agentes de IA devem ser encarados como colaboradores, encarregando-se de tarefas mundanas e permitindo que os seres humanos se concentrem naquilo que fazem melhor: pensamento crítico, inteligência emocional e resolução criativa de problemas.

A educação e a formação serão cruciais neste novo cenário. Os colaboradores das organizações terão de aprender a colaborar eficazmente com os agentes de IA, orientando-os, interpretando os seus resultados e tirando partido das suas capacidades para melhorar as iniciativas lideradas por humanos. Ao fazê-lo, podemos garantir que a força de trabalho permanece capacitada e empenhada, mesmo quando a IA assume um papel mais proeminente enquanto estamos de férias.

Em conclusão, o futuro do trabalho não é sobre a IA substituir os humanos, mas sobre a IA melhorar as capacidades humanas. Com agentes LLM a liderar o caminho, estamos à beira de uma nova era, onde o trabalho é reimaginado, a produtividade é redefinida e as fronteiras entre trabalho e lazer esbatem-se, permitindo uma vida mais equilibrada e gratificante.


[1] webdiplomacy.net

[2] microsoft.com/en-us/research/project/autogen/

Ricardo Abreu é Docente universitário no IPAM Lisboa

Opinião