Enquanto o Ocidente prepara novas restrições às exportações tecnológicas da China, Pequim está a procurar novas oportunidades para expandir a sua influência económica em África. Esta semana, durante a nona Cimeira do Fórum de Cooperação China-África, que reúne em Pequim líderes de 50 países africanos, a China vai tentar posicionar-se como um fornecedor crucial de tecnologia verde, oferecendo veículos elétricos e painéis solares em troca de promessas renovadas de investimentos e empréstimos. No entanto, o sucesso desta estratégia dependerá da capacidade da China em convencer os líderes africanos, que têm as suas próprias exigências e expectativas.
Historicamente, a relação entre a China e África tem sido marcada por grandes investimentos em infraestruturas, como estradas, pontes e caminhos-de-ferro. Contudo, a nova abordagem da China, sinalizada por uma mudança nas suas prioridades, centra-se na exportação de tecnologias avançadas e ecológicas. Em vez de financiar megaprojetos, Pequim está agora a canalizar recursos para o desenvolvimento de parques solares, fábricas de veículos elétricos e infraestruturas de telecomunicações 5G em África.
Este realinhamento ocorre num momento em que a China enfrenta crescentes restrições comerciais do Ocidente. Para evitar o impacto destas sanções, Pequim está a tentar estabelecer mercados alternativos para as suas indústrias de energia verde, transferindo tecnologia e criando bases de produção em países emergentes. Contudo, esta mudança estratégica é acompanhada por uma redução nos empréstimos globais concedidos a África. Em 2023, a China concedeu apenas 4,2 mil milhões de dólares em empréstimos a países africanos, um montante significativamente inferior ao de anos anteriores.
Apesar das ofertas tentadoras de tecnologia verde, os líderes africanos que chegam a Pequim têm as suas próprias prioridades. Em particular, esperam que a China cumpra a promessa feita na cimeira de 2021 de comprar 300 mil milhões de dólares em bens africanos, uma meta que até agora ficou aquém das expectativas. Além disso, há uma crescente preocupação com o progresso de projetos de infraestruturas financiados pela China, como a ligação ferroviária na África Oriental, que permanecem inacabados.
Há também uma tensão subjacente relacionada com a dívida. Desde a última cimeira, vários países africanos, incluindo o Chade, Etiópia e Zâmbia, pediram a reestruturação das suas dívidas com a China. Este contexto torna improvável que Pequim se comprometa com novos financiamentos de grande escala. Em vez disso, a China poderá optar por promover transferências de tecnologia, oferecendo soluções sustentáveis que poderiam apoiar o desenvolvimento industrial africano sem comprometer ainda mais as finanças públicas dos países do continente.
A cimeira também deve ser vista no contexto da competição geopolítica crescente entre a China e o Ocidente em África. Nos últimos anos, os Estados Unidos, o Reino Unido e outros países têm intensificado os seus esforços diplomáticos e comerciais no continente, reconhecendo o seu potencial económico e a importância dos seus 54 votos na ONU. Apesar disso, a China continua a ser o maior credor e parceiro comercial de África, e as suas cimeiras, como a que agora se realiza, são eventos de grande importância para a definição das relações entre a China e África.
No entanto, o sucesso desta cimeira dependerá da capacidade da China em adaptar as suas ofertas às necessidades reais dos países africanos. À medida que a cimeira avançar, ficará claro se a nova abordagem da China, centrada na exportação de tecnologia verde, será suficiente para manter a sua posição dominante em África. Com líderes africanos cada vez mais exigentes e conscientes das suas necessidades e do seu poder de negociação, Pequim terá de equilibrar cuidadosamente as suas ofertas de investimento com as expectativas dos seus parceiros africanos. A resposta a estas questões poderá definir o futuro da cooperação entre a China e África, sendo determinante para a China manter a sua influência num continente cada vez mais disputado.