Exclusão da Huawei pode resultar num impacto negativo para os consumidores

Estudo da consultora EY revela impacto da Huawei na sociedade portuguesa e consequências de uma potencial exclusão do 5G.
9 de Setembro, 2024

Com duas décadas de presença em Portugal, a Huawei tem desempenhado um papel crucial na modernização das telecomunicações, desde a criação da primeira rede HSDPA em 2005 até à recente expansão da rede 5G. Segundo o estudo intitulado “The role of Huawei and its impact in Portuguese society”, o ecossistema da Huawei contribui anualmente com 718 milhões de euros para a economia portuguesa, dos quais 197 milhões representam Valor Acrescentado Bruto (VAB). Este impacto traduz-se também em 4 mil postos de trabalho diretos, indiretos e induzidos, uma contribuição significativa, correspondendo a aproximadamente 0,3% do PIB nacional.

O efeito multiplicador das operações da Huawei é muito importante: por cada euro gerado, o impacto na produção nacional é o dobro, e no emprego, é sete vezes maior. Estes números demonstram a profundidade da ligação da empresa à economia portuguesa e a sua relevância para o dinamismo do mercado de trabalho.

Os custos da exclusão

O estudo da EY alerta para os elevados custos de uma eventual exclusão da Huawei. A substituição dos equipamentos Huawei na rede 5G representaria um impacto financeiro substancial para Portugal, com um custo superior a mil milhões de euros. Este montante inclui 339 milhões de euros em investimentos de substituição e 193 milhões de euros em despesas adicionais necessárias para investimentos futuros. A consultora prevê que estes custos seriam, inevitavelmente, repassados aos consumidores, que enfrentariam um aumento estimado de 7% nas tarifas médias dos serviços 5G.

Adicionalmente, a exclusão da Huawei traria outro grande revés: o atraso na implementação plena da rede 5G em Portugal. A interrupção nas operações resultaria em perdas de produtividade estimadas em 282 milhões de euros, afetando negativamente as empresas e os cidadãos, que não poderiam usufruir dos benefícios da tecnologia de forma rápida e eficiente.

Outro fator relevante deste estudo é a possível concentração de fornecedores no mercado português caso a Huawei seja excluída. Esta diminuição da concorrência pode levar ao aumento dos preços e à redução da eficiência energética das redes, elementos cruciais para a competitividade da economia. Além disso, a menor concorrência pode comprometer a capacidade de Portugal em atrair investimento estrangeiro e em manter-se competitivo numa economia global que, cada vez mais, depende da digitalização.

A Huawei tem sido, ao longo dos últimos 20 anos, um dos principais motores da inovação tecnológica no país, e a sua ausência poderia prejudicar o desenvolvimento de setores estratégicos, como o da transição digital e energética.

A decisão sobre a exclusão da Huawei levanta questões críticas que vão além da cibersegurança. Embora a segurança das redes 5G seja uma prioridade legítima, os impactos económicos e tecnológicos de tal medida não podem ser ignorados. Hermano Rodrigues, principal da EY-Parthenon e coordenador do estudo, afirma que as conclusões deste trabalho factual são claras: “O impacto económico das atividades operacionais do ecossistema da Huawei corresponde aproximadamente a 0,3% do PIB nacional.

Por sua vez, Wu Hao, CEO da Huawei Portugal, destacou o compromisso da empresa com o desenvolvimento do talento nacional e a modernização digital de Portugal. A exclusão da Huawei poderia representar um revés significativo nestes esforços, ao limitar as oportunidades para o desenvolvimento tecnológico e o crescimento económico do país. A exclusão da Huawei do mercado português pode ter consequências profundas, não apenas para a competitividade do país, mas também para o custo e a velocidade de implementação das redes 5G. A decisão que está por vir deverá ponderar os benefícios económicos tangíveis do ecossistema da Huawei em Portugal, face às preocupações legítimas de segurança. Para Portugal, um dos maiores desafios será encontrar um equilíbrio que assegure tanto a segurança cibernética quanto a continuidade

Opinião