“Se a Europa quiser afirmar-se tecnologicamente, tem de criar as suas próprias soluções. E o open source pode — e deve — ser um pilar dessa estratégia”, afirmou Eduardo Taborda, que também integrou a direção da Associação das Empresas de Open Source Portuguesas.
A crítica é clara: o velho continente permanece refém das big tech norte-americanas e começa a ensaiar uma dependência crescente da tecnologia chinesa. Os sinais de mudança são tímidos. Na Alemanha, alguns municípios começam a adotar soluções como o LibreOffice, mas iniciativas isoladas não bastam para inverter o rumo. “Há uma espécie de letargia europeia, uma ideia de que só avançamos quando não há alternativa”, lamenta Eduardo Taborda.
A história da SYONE é, em parte, uma resposta a essa inércia. Fundada há 25 anos com vocação internacional, a empresa nasceu com um princípio simples: o mercado português, por si só, não chega. “Se isso já era verdade há duas décadas, hoje é ainda mais evidente. Quem quer crescer tem de pensar fora de portas desde o início.”
Hoje, a SYONE opera em vários mercados, com forte presença no norte da Europa. Trabalha sobretudo em soluções tecnológicas personalizadas, desde projetos de transformação digital até à implementação de infraestruturas complexas. “Não somos uma empresa de produto. O nosso valor está em resolver problemas concretos dos clientes.”
Ainda assim, nem todas as áreas de negócio geram o mesmo retorno. As margens mais apertadas estão nas subscrições de software — um território cada vez mais computorizado. “O que diferencia uma empresa é o valor que consegue acrescentar, não a licença que revende.”
Portugal tem talento. Falta escala.
Apesar dos constrangimentos estruturais, Eduardo Taborda acredita que Portugal tem o essencial para competir no mercado tecnológico: pessoas qualificadas. “O nosso maior ativo são os profissionais. O que falta é quantidade. Não temos mão-de-obra suficiente para escalar.”
A escassez de talento é hoje um dos maiores desafios da indústria, transversal a vários setores. A pandemia, ao acelerar o trabalho remoto, agravou essa pressão — facilitando a mobilidade, mas também aumentando a rotatividade. “A retenção de talento tornou-se crítica. A competição por perfis especializados é feroz.”
Mesmo assim, Eduardo Taborda mantém algum otimismo. Reconhece que a transformação digital em Portugal tem dado passos significativos e que o país tem capacidade técnica para fazer mais. Mas avisa: não basta ter vontade — é preciso agir antes que seja tarde. “Muitas vezes só investimos quando já não há alternativa. E quando isso acontece, o mercado já mudou.”