Europa continua dependente do gás fornecido pela Rússia

O estudo "O atribulado divórcio do gás russo na Europa", explora as complexidades e os riscos inerentes à diversificação energética do continente.
17 de Julho, 2024

Mais de dois anos após o início do conflito na Ucrânia, a Europa continua a enfrentar desafios significativos na redução da sua dependência energética da Rússia, revela um estudo recente elaborado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e pela Brookings Institution. Intitulado “O atribulado divórcio do gás russo na Europa”, o documento explora as complexidades e os riscos inerentes à diversificação energética do continente.

O estudo, co-autorado por Samantha Gross, especialista em política externa, energia e política climática, e Constanze Stelzenmüller, diretora do centro de estudos da Europa e dos EUA da Brookings, destaca que, apesar dos esforços para diversificar os fornecedores e aumentar a utilização de gás natural liquefeito (GNL), a Europa mantém uma forte dependência do gás importado. A transição, segundo as autoras, tem-se revelado não apenas cara, mas também fragmentada, com diferenças significativas nas condições de acesso à energia e nas políticas adotadas por diferentes regiões.

O relatório detalha como, antes do conflito ucraniano, mais de 40% do gás natural importado pela Europa provinha da Rússia, com alguns países dependendo quase exclusivamente do gigante russo para o seu aprovisionamento energético. Em 2023, este número reduziu-se para 14,8% do total de abastecimento de gás, mas o legado de dependência continua a pesar nas decisões políticas e económicas do continente.

A análise adverte que as respostas nacionais variadas à crise energética têm potencial para aprofundar as tensões políticas entre os estados-membros, enquanto políticas protecionistas e subsídios controversos colocam em risco a integridade do mercado único europeu. Além disso, a persistente “chantagem energética” por parte da Rússia e outros riscos geopolíticos globais, como a possível eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, ameaçam a estabilidade futura do fornecimento e da segurança energética europeia.

As questões levantadas pelo estudo são cruciais: como equilibrar os papéis dos mercados e dos governos na gestão da economia do gás, garantir a segurança do fornecimento e integrar as infraestruturas energéticas essenciais num contexto de interdependência e globalização? O estudo também questiona o papel que a União Europeia e a NATO deverão desempenhar na garantia da segurança energética e na mitigação das desigualdades regionais.

Este policy paper faz parte de uma série que irá abordar a transição energética da Europa até ao final de 2025, fornecendo um panorama abrangente das mudanças necessárias e dos desafios a serem superados na procura por uma autonomia energética sustentável. A continuação deste debate será crucial para definir o futuro energético e político da Europa num mundo cada vez mais incerto e interligado.

Com informações Lusa

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