Segundo a SIC Notícias, a seguir à comunicação do cancelamento, o IST foi confrontado com um inquérito que questionava diretamente se a instituição mantinha ligações com organizações terroristas, cartéis de droga, tráfico humano ou grupos que “promovem a imigração em massa”. Havia também perguntas sobre contactos com partidos comunistas, agendas climáticas e relações institucionais com países como China, Irão ou Rússia.
“O Técnico respondeu que não iria responder ao questionário porque não se adequava a uma instituição de ensino superior pública sujeita a escrutínio público e legal de um país democrático, membro da União Europeia”, disse à Lusa o presidente do IST, Rogério Colaço.
O “American Corner” no IST funcionava há mais de uma década, com financiamento anual na ordem dos 20 mil euros, promovendo atividades culturais e científicas abertas à comunidade académica.
Na noticia da SIC Notícias pode ler-se que omesmo questionário terá sido enviado a outras instituições com “espaços americanos”, incluindo a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). O diretor da FLUL, Hermenegildo Fernandes, confirmou o envio do inquérito e mostrou-se chocado com o seu conteúdo, que considerou de “uma dimensão de descaramento preocupante”. Também a FLUL optou por não responder, sublinhando que a sua orientação segue as diretrizes científicas nacionais e europeias.
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa reconheceu que o programa está previsto terminar em setembro, mas indicou estar a avaliar se avançará com uma nova candidatura.
As restantes universidades com “American Corners” — Porto, Aveiro e Açores — não prestaram declarações até ao momento.
Silêncio diplomático e dissonância institucional
A Embaixada dos EUA em Lisboa evitou comentar diretamente o cancelamento, mas sublinhou, por via da porta-voz Marie Blanchard, a importância dos “American Corners” como “demonstração do poder dos Estados Unidos como líder económico e de inovação”. A diplomacia americana em Portugal elogiou ainda o relacionamento com os seis espaços em funcionamento, mas não clarificou se novas medidas ou cortes estão em curso.
A Lusa tentou obter confirmação sobre se esta decisão se insere numa política mais ampla de revisão de financiamento a instituições académicas, como as promovidas durante a administração Trump, mas não obteve resposta.
Segundo o portal oficial da Embaixada, existem mais de 600 “American Corners” em mais de 140 países, instalados em universidades, bibliotecas e até centros comerciais. Em Portugal, todos os seis espaços funcionam em instituições do ensino superior público.
Este caso lança um alerta sobre a crescente politização da diplomacia cultural americana, com possíveis implicações para a autonomia das instituições anfitriãs. A introdução de critérios ideológicos — como perguntas sobre “ideologias de género” ou “relações com as Nações Unidas” — é vista por vários responsáveis académicos como um sinal de desconfiança injustificada e de interferência externa em estruturas científicas de países aliados.
Para o presidente do IST, a recusa em responder foi uma questão de princípio: “Não podemos aceitar um questionário que parte do pressuposto de que somos suspeitos de cumplicidade com atividades criminosas ou ideológicas incompatíveis com o nosso estatuto legal e democrático.”
Com informação SIC Notícias e Lusa