Empresas apostam na cibersegurança como alavanca de crescimento, revela estudo da Deloitte

A cibersegurança está a deixar de ser vista como um custo operacional para se afirmar como um motor de crescimento e confiança empresarial. Segundo o Global Future of Cyber Survey 2024, 85% das empresas já reconhecem que reforçar a proteção digital é decisivo para alcançar melhores resultados comerciais.
7 de Maio, 2025

A cibersegurança deixou de ser apenas uma função técnica dentro das organizações para se assumir como um pilar estratégico de criação de valor. Esta é a principal conclusão do Global Future of Cyber Survey 2024, da Deloitte, que auscultou cerca de 1200 líderes empresariais nas regiões das Américas, EMEA e Ásia-Pacífico. O estudo revela que 85% das empresas já reconhecem uma correlação direta entre o reforço das suas capacidades de cibersegurança e a obtenção de melhores resultados comerciais.

Com a volatilidade digital e as ameaças tecnológicas a escalar ininterruptamente, 86% das empresas afirmam estar a implementar medidas de cibersegurança com intensidade moderada ou elevada. Este compromisso crescente é sustentado por uma reconfiguração das prioridades corporativas, onde a proteção digital deixou de ser vista como custo para se tornar investimento.

Na Península Ibérica, a tendência não só acompanha como, em alguns casos, supera a média global. Em Portugal e Espanha, 88% das empresas realizam ações anuais de formação e sensibilização em cibersegurança para todos os colaboradores — um sinal claro de que a cultura organizacional está a assimilar os imperativos da proteção digital. Mais ainda, 78% já têm definidas visões estratégicas para o futuro da cibersegurança, com planos operacionais concretos para a sua execução.

Frederico Macias, Partner da Deloitte, aponta para a crescente maturidade do mercado: “A cibersegurança é atualmente um critério essencial para que as organizações sejam entendidas como confiáveis. A globalização da economia e o reforço da regulação, com destaque para a diretiva NIS2, estão a pressionar as empresas a elevar o seu grau de preparação”. Para Frederico Macias, os dados do estudo sugerem que o investimento em prevenção poderá ser o fator decisivo para evitar crises futuras.

O estudo também mostra que organizações com elevada maturidade cibernética têm, em média, 27 pontos percentuais a mais de probabilidade de alcançar os seus objetivos comerciais, quando comparadas com aquelas que ainda estão numa fase embrionária de maturidade digital. Os benefícios tangíveis são múltiplos: melhor deteção e resposta a ameaças, proteção da propriedade intelectual, ganhos de eficiência e maior agilidade operacional.

Mas os riscos continuam a ser substanciais. A perda de confiança na integridade tecnológica — que saltou do sexto para o primeiro lugar entre as maiores preocupações das empresas — é agora vista como mais crítica do que interrupções operacionais, danos reputacionais ou perdas de receitas. Em Portugal e Espanha, 51% das empresas reportaram entre seis a dez violações de cibersegurança no último ano, um número que atesta a persistência da vulnerabilidade digital.

Os cibercriminosos e terroristas são, para 42% dos líderes inquiridos, as principais ameaças, reforçando a necessidade de respostas sofisticadas. A inteligência artificial, cada vez mais utilizada para reforçar a cibersegurança — 39% das empresas já a integram de forma significativa — é simultaneamente um trunfo e uma preocupação. Cerca de um terço dos executivos mostra-se inquieto com os riscos emergentes da IA no contexto da segurança digital.

Neste cenário, os orçamentos acompanham a mudança de paradigma: 57% das empresas tencionam aumentar o investimento em cibersegurança nos próximos dois anos, e 58% planeiam integrar esses custos noutras rubricas estratégicas como a transformação digital, a infraestrutura cloud ou a modernização de TI.

O papel do Chief Information Security Officer (CISO) também ganha centralidade: um terço das empresas refere que o envolvimento deste executivo em decisões estratégicas aumentou significativamente no último ano. No entanto, persiste uma clivagem de perceção — 52% dos decisores confiam nas lideranças para gerir eficazmente a cibersegurança, mas apenas 34% dos profissionais da área partilham essa confiança.

Com as empresas cada vez mais digitais, a cibersegurança emerge como elemento diferenciador e condição sine qua non para o crescimento sustentado. O relatório da Deloitte confirma que, longe de ser apenas uma resposta ao risco, a segurança digital é já motor de performance, reputação e confiança.

Opinião