Por mais que os Estados Unidos sejam frequentemente um termómetro para as tendências globais no setor tecnológico, a realidade complexa do mercado de trabalho nas TI em 2025 revela tanto oportunidades quanto desafios. Apesar de os dados recentes apontarem para um crescimento positivo na empregabilidade tecnológica nos EUA, as mudanças estruturais no setor expõem fragilidades que a Europa faria bem em observar e antecipar.
O rescaldo de 2024: O melhor e o pior cenário
No final de 2024, o desemprego na área tecnológica dos EUA caiu para 2%, o valor mais baixo em mais de dois anos. Dados do US Bureau of Labor Statistics e da CompTIA indicam que o setor adicionou 7.000 novos empregos em dezembro, consolidando uma força de trabalho de quase 6,5 milhões. Este progresso foi acompanhado por um otimismo contido: o relatório da ManpowerGroup para o primeiro trimestre de 2025 prevê um crescimento de 2% na perspetiva líquida de emprego no setor tecnológico comparativamente ao ano anterior.
Contudo, a recuperação não foi homogénea. Áreas como a fabrico dos PC, semicondutores e componentes sofreram cortes significativos, com mais de 6.000 postos de trabalho eliminados apenas em dezembro. Estas discrepâncias refletem uma tendência que vai além do ciclo económico: a transformação digital está a reconfigurar as necessidades do mercado, valorizando cada vez mais competências flexíveis e adaptáveis.
O modelo Europeu em perspetiva
Na Europa, a situação do setor tecnológico é, em muitos casos, condicionada por fatores estruturais diferentes dos EUA, como a forte presença de regulamentações laborais e o apoio governamental à inovação. Contudo, estas características nem sempre são suficientes para imunizar o Velho Continente contra choques económicos globais. A pergunta inevitável é: como pode a Europa evitar uma situação semelhante à observada nos EUA, ou pelo menos mitigar os seus efeitos?
Uma resposta possível está na aposta em estratégias preventivas:
- Educação e Requalificação Contínuas: Assim como nos EUA, onde empregadores priorizam trabalhadores com competências adaptáveis, a Europa deve intensificar os seus programas de requalificação. O investimento em competências digitais – como inteligência artificial, cibersegurança e computação em cloud – pode reduzir a lacuna entre a oferta e a procura de talentos.
- Estímulos à Inovação Local: A aposta em startups tecnológicas e hubs de inovação tem sido uma pedra angular do crescimento tecnológico europeu. A criação de um ecossistema robusto e sustentado por parcerias público-privadas pode ajudar a mitigar os impactos de contratações mais lentas.
- Foco na Diversificação Setorial: Ao contrário do modelo dos EUA, frequentemente mais dependente de grandes corporações tecnológicas, a Europa pode fomentar uma abordagem mais diversificada, integrando a tecnologia em setores tradicionais como saúde, energia e agricultura.
Riscos de contágio e o papel da política monetária
Apesar das diferenças entre os mercados, a Europa não está imune aos desafios enfrentados nos EUA. Um aumento das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE), como resposta à inflação, provocada pelas constantes crises que a Europa atravessa, e se “adivinha” vir a atravessar, pode dificultar o acesso ao capital para startups e PMEs, replicando, em parte, os obstáculos económicos observados no outro lado do Atlântico. Tal cenário exige uma coordenação política eficaz que permita equilibrar o combate à inflação com o estímulo ao emprego.
A incerteza
Enquanto a incerteza económica persiste, uma coisa é clara: o setor tecnológico, tanto nos EUA quanto na Europa, está em transição. O especialista Ger Doyle, da ManpowerGroup, destaca que os empregadores norte-americanos estão focados em reter talentos estratégicos e ajustar-se a novas dinâmicas de mercado. A Europa, ao aprender com os acertos e erros deste modelo, pode posicionar-se como um polo de inovação e resiliência, liderando a nova era tecnológica global.
A chave para evitar os piores impactos do desemprego nas TI reside na capacidade de antecipar mudanças e investir no potencial humano. Tal como demonstram os números dos EUA, onde o desemprego entre os profissionais de TI caiu significativamente, é possível manter um setor dinâmico e promissor, mesmo em tempos difíceis. Para a Europa, o desafio é transformar as lições do Atlântico numa estratégia de longo prazo que priorize tanto o crescimento económico quanto a estabilidade social.