Dados & IA: Ano Novo, governação necessária!

A cada transição de ano, um dos temas mais focados está relacionado com as previsões tecnológicas, sendo certo que frequentemente surgem surpresas no decurso do tempo, como aconteceu com o hype da Inteligência Artificial Generativa, por exemplo, do ChatGPT.
22 de Janeiro, 2024

Em 2023, a Gartner previa que a IA Generativa iria atingir o plateau de produtividade em dois a cinco anos, e aquilo que se assistiu foi que o ChatGPT atingiu a marca de um milhão de utilizadores em apenas cinco dias, e o número de casos de uso com utilização de IA generativa tem crescido, de forma exponencial, em várias áreas, como o marketing, a saúde, a educação, a indústria, a administração pública!

Na Europa os dados revelam que dois terços das empresas já utilizam soluções baseadas em Inteligência Artificial nos seus sistemas centrais.

Esta é a segunda mais rápida adoção de uma tecnologia, só superada pelo Threads que em 2023 atingiu um milhão de utilizadores em uma hora!

Muito se tem falado sobre vários desafios deste “revolução” ainda não batizada, como a complexidade técnica, modelos de utilização, qualidade e confiabilidade, utilização ética e responsável, concorrência e regulação.

Só que este interesse e velocidade de adoção, num ano (2024) que será inequivocamente de democratização e produtização da IA, impõem-se vários temas ao nível da governação de dados e da utilização de IA em áreas críticas como a defesa, educação, saúde, finanças.

E que temas são estes? A governação e qualidade de dados, a segurança e proteção das fontes de dados, a utilização responsável e a regulação.

Mas, quais serão as consequências caso as organizações não tomem, por omissão ou decisão, de forma atempada em mãos a implementação rigorosa de uma estratégia de governação destas áreas?

Inevitavelmente serão confrontadas com o caos nas suas plataformas de dados, como no passado aconteceu com os assets de infraestrutura, com riscos elevados na disponibilidade e qualidade de dados, na segurança da utilização dos dados, nos riscos de compliance e de violação de regulamentos que estão a aparecer, como o EU IA Act.

A propósito de regulação, recentemente, Sam Altman, CEO da OpenAI, em conversa com Bill Gates no podcast “Unconfuse me”, referiu que face ao impacto esperado na sociedade e na correlação de forças dos países em termos geopolíticos, mais do que regulação regional/continental, será necessário uma entidade mundial que faça a regulação da IA, a exemplo do que acontece por exemplo na energia nuclear.

Estas constatações só reforçam a necessidade de investimento em governação de dados, pois estes são a fundação, o ingrediente, para que sejam produzidos sistemas inteligentes baseados em IA.

A governação de dados nas organizações permitirá que estas sejam bem-sucedidas em todas as suas plataformas analíticas, na utilização de IA ao nível da qualidade e das respostas dos seus modelos, e a cumprirem os pressupostos que vierem a ser plasmados na legislação.

Mas, então, quais são os pilares principais para que as organizações possam desenvolver programas estratégicos de governação de dados e de IA, depois de já terem sido obrigadas a cumprirem com o disposto no Regime Geral de Proteção de Dados?

Definir uma estratégia assente em três pilares: pessoas, processos, procedimentos e tecnologia.

Relativamente às pessoas, além da necessidade de perfis de competências específicos (ex: Data Manager, Data Steward, Data Owner), é necessário um alinhamento organizacional, uma vez que estes temas não devem ser “tutelados” pelas equipas que implementam e mantêm as plataformas de dados, mas também não podem ficar “circunscritos” a equipas de auditoria e controlo interno.

Os procedimentos estão relacionados com a adoção de práticas sustentáveis e exequíveis pela organização, para que não se tornem um fardo, incompleto, irrelevante, sem aderência prática à realidade do dia-a-dia, e sem valor acrescentado.

Já as tecnologias têm sido um dos principais busílis deste tema, pelo custo que representam, mas também pela dificuldade que é o suporte à multiplicidade de plataformas de dados que naturalmente existem nas organizações e que necessitam de ser mapeadas, inventariadas no nível lógico de dados e no rastreamento dos processos aplicados aos dados até que estes sejam exibidos num KPI, num dashboard estratégico ou tático.

É necessário, de facto e de forma premente, tomar este tema da governação como estratégico e crítico. Disto não restam dúvidas.

Hélder Quintela é Consultor de Data, Big Data & Analytics

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