Cosmos: O momento ChatGPT dos Robots e Carros Autónomos

A Nvidia está a transformar a forma como robôs e carros autónomos aprendem, com a sua nova plataforma Cosmos a prometer um “Momento ChatGPT” para a robótica. Ao combinar gémeos digitais hiper-realistas e modelos gerativos, a tecnologia permite treinar máquinas em milhares de cenários virtuais, mais rápido e sem os riscos do mundo real.
20 de Janeiro, 2025

Imagine um mundo onde robôs aprendem tão rápido quanto crianças entusiasmadas com um novo brinquedo ou carros autónomos que, em vez de cometerem erros no mundo real, se tornam peritos em evitar acidentes sem nunca saírem do ambiente virtual. Bem-vindos à nova era inaugurada pela Nvidia, onde a combinação de gémeos digitais, IA física e um conceito futurista chamado “World Foundation Models” (WFMs) promete revolucionar a robótica e os veículos autónomos.

Gémeos Digitais: Não é ficção científica

Os gémeos digitais não são novos, mas o que a Nvidia está a fazer com a sua plataforma Omniverse é algo digno de ficção científica. Imagine uma fábrica inteira recriada digitalmente com precisão milimétrica: cada máquina, cada peça, cada canto. Sensores IoT captam dados do mundo real e sincronizam o modelo virtual para que o digital seja uma cópia fiel do físico, até nas leis da física – gravidade, fricção, inércia, tudo incluído.

O resultado? Uma sandbox hiper-realista onde se podem treinar robôs sem a pressão de erros no mundo real. Onde os robôs aprendem a lidar com tarefas complexas, desde montar componentes até a desviar-se de obstáculos. Tudo isto antes sequer de colocarem uma pinça no chão de fábrica.

Cosmos: A arma secreta da Nvidia

Agora, se o Omniverse já era impressionante, o Cosmos é o turbo que a Nvidia adicionou. Esta plataforma introduz os tais World Foundation Models (WFM), que, na prática, são como uma versão IA do velho ditado “prática faz a perfeição”. Com os WFM, um programador pode pegar em 30 cenários de treino reais e transformá-los em 30.000.

Funciona assim: imagine que uma empresa captura vídeos do seu próprio armazém. Esses vídeos são introduzidos no Cosmos, que gera variações infinitas – mudanças de luz, obstáculos imprevistos, trabalhadores distraídos – tudo recriado com qualidade fotorrealista e física realista. Isto permite que os robôs treinem como se estivessem a viver a vida real, mas num universo digital.

O “Momento ChatGPT ” da Robótica

A Nvidia não hesita em afirmar que Cosmos representa para a robótica o que o GPT-3 significou para a linguagem: um salto quântico. Tal como os modelos de linguagem transformadores pegaram em anos de desenvolvimento e o aceleraram em meses, o Cosmos promete treinar robôs e carros autónomos numa fração do tempo e custo.

E há uma ironia deliciosa aqui: enquanto os grandes modelos de linguagem como o ChatGPT enfrentam uma escassez de dados humanos (sim, já esgotámos “basicamente toda a soma cumulativa do conhecimento humano”), a robótica nunca teve a sorte de dispor de dados prontos. Ensinar um robô a montar uma peça ou um carro autónomo a evitar um acidente sempre foi um processo lento e caro, porque tudo tem de ser feito no mundo físico. O Cosmos muda este paradigma ao criar, virtualmente, os dados necessários.

Carros autónomos mais seguros (com simulações mais doidas)

A formação de carros autónomos exemplifica perfeitamente o impacto potencial. Até agora, estes veículos eram treinados conduzindo nas ruas reais, com motoristas de segurança – um processo caro, moroso e, francamente, perigoso. Com o Cosmos, pode-se criar simulações onde os carros enfrentam cenários de pesadelo: desde cruzar-se com um urso a atravessar a estrada numa tempestade até desviar-se de uma bicicleta largada ao acaso.

Porque estou estupidamente entusiasmado? Porque ninguém se vai aleijar. Nenhum animal ou ciclista sai ferido, e os carros aprendem em velocidade recorde, como se estivessem a viver tudo aquilo milhares de vezes.

A imparável Nvidia

Se a Nvidia estiver certa, estamos prestes a testemunhar uma aceleração vertiginosa na adoção de robôs e veículos autónomos. No entanto, como acontece com qualquer revolução tecnológica, prever o impacto exato é um jogo de tolos.

Talvez daqui a cinco anos olhemos para trás e nos questionemos como alguma vez vivemos sem isto. Ou talvez nos debatamos com novas questões éticas e desafios de segurança. Uma coisa é certa: a robótica está a acelerar, e o Cosmos é o motor deste movimento.

Por agora, resta-nos apreciar a ironia de robôs e carros autónomos a aprenderem no “mundo virtual” para se tornarem melhores habitantes do “mundo real”. Afinal, quem diria que os maiores avanços na realidade começariam numa simulação?

Opinião