O Coimbra Invest Summit 2024, que decorreu nos passados dias 9, 10 e 11 de outubro no Convento São Francisco, demonstrou um crescimento notável em relação à edição anterior, confirmando a crescente importância de Coimbra no panorama nacional do empreendedorismo e inovação. No entanto, como diretor da inCoimbra – StartUp Hub e co-founder da alphaCoimbra, sinto-me no dever de analisar criticamente e de forma construtiva o evento e apontar caminhos possíveis para futuras edições.
É louvável o esforço do Município de Coimbra, em parceria com a Universidade de Coimbra, o Instituto Politécnico de Coimbra, o Instituto Pedro Nunes e o iParque, em promover este evento. A entrega do Mérito Empresarial a 167 empresas é um reconhecimento importante do trabalho desenvolvido pelas empresas do concelho, ainda que a dimensão numérica possa, por vezes, ofuscar a genuinidade da homenagem.
Os números do evento – 959 check-ins, 50 empresas, 30 startups, 12 embaixadas e 25 embaixadores da cidade – demonstram um claro crescimento em relação a 2023, com um maior envolvimento da comunidade local. A aposta na internacionalização é um passo crucial para a afirmação de Coimbra como um polo de atração de investimento.
A alphaCoimbra marcou presença com a plataforma de mapeamento do ecossistema, Coimbra Tech District, apresentando um aumento substancial no número de entidades registadas. Esta ferramenta, aberta e colaborativa, espelha a dinâmica do ecossistema de forma orgânica e fidedigna, consolidando-se como a sua voz.
Parcerias como a anunciada entre o Instituto Pedro Nunes e a ULS de Coimbra são exemplos do amadurecimento do ecossistema, demonstrando a capacidade de colaboração entre diferentes atores. É fundamental que estes sinais, felizmente há mais, sejam encarados como oportunidades de crescimento conjunto e não como ameaças.
A aposta nos clusters Tech e Health, já presentes em 2023, e a inclusão do cluster Space nesta edição demonstram a vontade de destacar setores chave para o desenvolvimento económico de Coimbra. O cluster Space surgiu como uma boa oportunidade de fazer convergir eventos e vontades, mas, acima de tudo, teve o condão de destacar o trabalho que vem sendo feito ao longo dos últimos anos com a ESA Business Incubation Centre (BIC) em Coimbra e em Portugal. A adição do cluster Turismo em 2025 é uma decisão acertada, reconhecendo a importância deste setor para a cidade e para a região.
É de enaltecer a iniciativa do Município de Coimbra em criar a Rede de Embaixadores de Coimbra, uma ideia que, aliás, já tinha sido preconizada pela alphaCoimbra no seu Manifesto, lançado em 2017. Acredito que esta rede, composta por figuras de renome com forte ligação à cidade, poderá contribuir significativamente para a promoção de Coimbra a nível nacional e internacional, divulgando os seus pontos fortes e atraindo investimento para a região. A entrega do Kit Embaixador, contendo elementos representativos da cultura local, é um gesto simbólico que reforça a identidade e o orgulho na cidade. Destaco a importância de integrar nesta rede mais representantes do ecossistema de inovação e empreendedorismo, garantindo que a mensagem de Coimbra como um polo de investimento tecnológico seja transmitida de forma eficaz.
Apesar da iniciativa louvável e da avaliação globalmente positiva do Coimbra Invest Summit, a realização de dois eventos com foco em investimento na mesma cidade e no mesmo ano – o Coimbra Invest Summit e o Startup Capital Summit – levanta, por uma questão de coerência, algumas preocupações. Se a proximidade do Startup Capital Summit e do SIM Conference, na mesma semana, já gerou ruído e questões sobre a estratégia da Startup Portugal, a duplicação de eventos com foco em investimento em Coimbra poderá ter consequências semelhantes. Para além de eventualmente saturar a comunidade local, a frequência e a proximidade temporal entre o Coimbra Invest Summit e o Startup Capital Summit poderá diluir a mensagem de cada evento e dificultar a atração de novos públicos, especialmente investidores internacionais.
Para futuras edições, defendo um maior foco na captação de investidores nacionais e internacionais – VCs, Business Angels, private equity, family offices e outros atores globais que fazem a diferença no acesso a capital. A atração e a presença destes players é fundamental para impulsionar o crescimento das startups e consolidar Coimbra como um hub de inovação de referência.
O Coimbra Invest Summit 2024 deu um passo importante na afirmação do ecossistema de Coimbra. Acredito que, com os ajustes necessários, este evento poderá tornar-se numa referência nacional e internacional no que toca a investimento e empreendedorismo.
Rui Nuno Castro é Fundador do projeto Student Keep