Paulo Rodrigues reconhece que a pandemia forçou um salto tecnológico massivo. “Fabricantes, distribuidores, parceiros e clientes finais enfrentaram um momento de reinvenção”, recorda. Esse impulso acelerou a democratização do acesso à tecnologia e criou um cenário onde a modernização não é apenas uma opção, mas uma necessidade para a competitividade global.
Contudo, o cenário atual não é isento de desafios. Empresas estabelecidas enfrentam dificuldades em acompanhar startups que já nascem com uma mentalidade digital, e a execução de fundos europeus, como o PRR, apresenta barreiras burocráticas significativas. “Os fundos estão lá, mas a velocidade de execução é lenta”, afirma Rodrigues, apontando que esta é uma característica comum nos países do sul da Europa.
A conversa aborda um tema sensível: a tendência de Portugal em adotar tardiamente novas tecnologias, comparativamente ao centro e norte da Europa. Para Paulo Rodrigues, esta disparidade não é cultural, mas económica. “Portugal é reconhecido como um país de adoção rápida de tecnologia. O problema está na capacidade financeira das empresas para investir.”
A nova regulamentação europeia, como o NIS 2 e o DORA, traz desafios adicionais para as pequenas e médias empresas. “Cumprir estas regulações implica investimentos significativos, e muitas empresas médias em Portugal simplesmente não têm essa capacidade sem apoio financeiro”, salienta.
V-Valley Portugal como facilitadora de soluções tecnológicas
No papel de distribuidora, a V-Valley Portugal posiciona-se como um conector entre mercados globais e necessidades locais. Paulo Rodrigues destaca a importância de adaptar soluções às realidades específicas de cada empresa, promovendo modelos flexíveis, como o de subscrição. “Este modelo permite às empresas crescer de forma sustentável, sem pressionar excessivamente as suas finanças”, explica.
A V-Valley Portugal procura trazer inovação de mercados internacionais para Portugal, permitindo que as empresas locais acedam a tecnologias de ponta que, de outra forma, poderiam estar fora do seu alcance.
Uma das questões mais prementes para o setor tecnológico em Portugal é a falta de talento qualificado. Apesar do esforço das universidades, o país continua a enfrentar dificuldades em reter os seus profissionais. “Formamos engenheiros de excelência, mas muitos acabam por procurar melhores condições no estrangeiro”, lamenta Rodrigues.
O custo de vida elevado nas grandes cidades portuguesas, aliado a salários desajustados, contribui para este fenómeno. “Precisamos de uma adequação salarial que reflita a realidade económica do país e permita às pessoas viver e prosperar aqui”, defende.
A conversa com Paulo Rodrigues revela um retrato complexo mas otimista do mercado tecnológico em Portugal. Com acesso a fundos europeus, soluções flexíveis e uma cultura empresarial cada vez mais consciente da necessidade de modernização, o país tem os ingredientes necessários para enfrentar os desafios da transformação digital.
No entanto, como enfatiza Paulo Rodrigues, o sucesso dependerá de uma execução eficaz e de um esforço conjunto para criar condições económicas que atraiam e retenham talento. “No final do dia, a tecnologia está disponível. O que precisamos é de criar um ambiente que permita às empresas e aos indivíduos tirar o máximo partido dela.”