Coffee Break com Manuel Dias, National Technology Officer da Microsoft Portugal

No episódio desta semana do Coffee Break da Digital Inside Portugal, Manuel Dias, National Technology Officer da Microsoft Portugal, analisou a evolução da inteligência artificial (IA) e da adoção da cloud no contexto empresarial e público, com um foco particular no mercado português. A conversa destacou os desafios e as oportunidades que moldam a trajetória tecnológica do país.
4 de Dezembro, 2024

Manuel Dias descreveu 2023 como o “ano da experimentação” em IA, com 2024 a marcar a transição para a integração e escalabilidade. Segundo o responsável da Microsoft, muitas empresas portuguesas passaram de protótipos para a adoção concreta de IA nos seus processos de negócio, um reflexo do que já se verifica globalmente. Apesar disso, a assimetria no tecido empresarial português, com uma forte presença de pequenas e médias empresas (PME), continua a criar barreiras à inovação.

Um estudo da Microsoft com a IDC revelou que 75% das empresas nacionais já utilizam IA generativa, enquanto os restantes 25% deverão aderir nos próximos dois anos. O desafio está em capacitar estas empresas, especialmente as PME, para tirar partido do potencial transformador da tecnologia.

No setor público, projetos pioneiros como os do Instituto dos Registos e Notariado (IRN) e da Agência para a Modernização Administrativa (AMA) mostraram o impacto da IA em áreas como o atendimento ao cidadão. No entanto, a necessidade de escalar estas soluções permanece. “Há avanços significativos, mas falta comunicação e visibilidade sobre os projetos implementados”, afirmou Manuel Dias.

A perceção de custos elevados associados a soluções cloud e IA foi um ponto abordado. Manuel Dias reconheceu que construir um business case sólido é essencial para justificar o investimento, realçando que os benefícios operacionais frequentemente ultrapassam os custos financeiros iniciais. Exemplos como o Copilot, que permite poupanças de até uma hora por colaborador por dia, ilustram o impacto positivo destas tecnologias no dia-a-dia das empresas.

O tema da literacia digital foi também debatido. Embora Portugal tenha avançado em termos de formação académica e técnica, a velocidade exponencial do progresso tecnológico cria um desfasamento. Iniciativas como a AI Business School, em colaboração com universidades e o setor público, visam colmatar este fosso, capacitando líderes e profissionais para integrar as ferramentas de IA nos seus contextos de trabalho.

A adoção da cloud em Portugal tem sido mais lenta no setor público do que no privado, devido a questões de soberania e segurança. Apesar disso, a Microsoft tem investido em parcerias locais e certificações que garantam o cumprimento de normas rigorosas de proteção de dados.

Manuel Dias destacou ainda os esforços da Microsoft para alinhar a expansão dos seus data centers com práticas sustentáveis. Investimentos em energia nuclear e hardware mais eficiente são parte da estratégia para mitigar o impacto ambiental da infraestrutura tecnológica.

Computação Quântica: O Futuro Próximo

Por fim, o futuro da computação quântica foi outro tema abordado. Manuel Dias revelou os avanços da Microsoft, como a virtualização de qubits lógicos para melhorar a estabilidade e eficiência dos sistemas quânticos. A empresa aposta em atingir, a breve prazo, marcos que permitirão aplicar a computação quântica em áreas como genómica, biologia e mudanças climáticas.

Nesta conversa com Manuel Dias fica claro que, apesar dos desafios, Portugal tem condições para estar na vanguarda da transformação tecnológica. No entanto, para acelerar a transição, será crucial apostar na capacitação, na comunicação dos casos de sucesso e na adoção de estratégias nacionais que coloquem tecnologias como a IA e a cloud no centro do desenvolvimento económico e social.