Manuel Dias descreveu 2023 como o “ano da experimentação” em IA, com 2024 a marcar a transição para a integração e escalabilidade. Segundo o responsável da Microsoft, muitas empresas portuguesas passaram de protótipos para a adoção concreta de IA nos seus processos de negócio, um reflexo do que já se verifica globalmente. Apesar disso, a assimetria no tecido empresarial português, com uma forte presença de pequenas e médias empresas (PME), continua a criar barreiras à inovação.
Um estudo da Microsoft com a IDC revelou que 75% das empresas nacionais já utilizam IA generativa, enquanto os restantes 25% deverão aderir nos próximos dois anos. O desafio está em capacitar estas empresas, especialmente as PME, para tirar partido do potencial transformador da tecnologia.
No setor público, projetos pioneiros como os do Instituto dos Registos e Notariado (IRN) e da Agência para a Modernização Administrativa (AMA) mostraram o impacto da IA em áreas como o atendimento ao cidadão. No entanto, a necessidade de escalar estas soluções permanece. “Há avanços significativos, mas falta comunicação e visibilidade sobre os projetos implementados”, afirmou Manuel Dias.
A perceção de custos elevados associados a soluções cloud e IA foi um ponto abordado. Manuel Dias reconheceu que construir um business case sólido é essencial para justificar o investimento, realçando que os benefícios operacionais frequentemente ultrapassam os custos financeiros iniciais. Exemplos como o Copilot, que permite poupanças de até uma hora por colaborador por dia, ilustram o impacto positivo destas tecnologias no dia-a-dia das empresas.
O tema da literacia digital foi também debatido. Embora Portugal tenha avançado em termos de formação académica e técnica, a velocidade exponencial do progresso tecnológico cria um desfasamento. Iniciativas como a AI Business School, em colaboração com universidades e o setor público, visam colmatar este fosso, capacitando líderes e profissionais para integrar as ferramentas de IA nos seus contextos de trabalho.
A adoção da cloud em Portugal tem sido mais lenta no setor público do que no privado, devido a questões de soberania e segurança. Apesar disso, a Microsoft tem investido em parcerias locais e certificações que garantam o cumprimento de normas rigorosas de proteção de dados.
Manuel Dias destacou ainda os esforços da Microsoft para alinhar a expansão dos seus data centers com práticas sustentáveis. Investimentos em energia nuclear e hardware mais eficiente são parte da estratégia para mitigar o impacto ambiental da infraestrutura tecnológica.
Computação Quântica: O Futuro Próximo
Por fim, o futuro da computação quântica foi outro tema abordado. Manuel Dias revelou os avanços da Microsoft, como a virtualização de qubits lógicos para melhorar a estabilidade e eficiência dos sistemas quânticos. A empresa aposta em atingir, a breve prazo, marcos que permitirão aplicar a computação quântica em áreas como genómica, biologia e mudanças climáticas.
Nesta conversa com Manuel Dias fica claro que, apesar dos desafios, Portugal tem condições para estar na vanguarda da transformação tecnológica. No entanto, para acelerar a transição, será crucial apostar na capacitação, na comunicação dos casos de sucesso e na adoção de estratégias nacionais que coloquem tecnologias como a IA e a cloud no centro do desenvolvimento económico e social.