De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o cancro é uma das principais causas de morte em todo o mundo. As últimas estimativas do IARC Global Cancer Observatory indicam que, em 2022, o cancro do pulmão foi o mais frequente a nível global, com 2,5 milhões de novos casos, o que representou 12,4% do total de novos diagnósticos de doenças oncológicas.
Em Portugal, esta é a quarta doença oncológica mais frequente, com aproximadamente 6 000 novos casos diagnosticados, anualmente. Nos homens, o cancro do pulmão é a principal causa de morte relacionada com neoplasia, enquanto que nas mulheres representa a terceira causa de morte. Nos últimos anos, tem-se vindo a verificar uma tendência crescente da doença, com cada vez mais casos de cancro do pulmão a surgirem anualmente, no nosso País.
É importante lembrar que a luta contra o cancro assenta, sobretudo, na prevenção primária e no diagnóstico precoce. No entanto, quando o tratamento inclui cirurgia, o sistema robótico da Vinci tem demonstrado ser um grande aliado das equipas médicas no combate ao cancro do pulmão.
Os principais procedimentos de cirurgia torácica assistidos por robótica são a cirurgia de resseção anatómica pulmonar, nomeadamente lobectomias e segmentectomias pulmonares, assim como cirurgia de ressecção de tumores do mediastino e timectomias. Em 2023, foram realizadas mais de 20 mil cirurgias robóticas com o sistema da Vinci em patologias oncológicas, na Península Ibérica. Destas intervenções, mais de 9,4% foram efetuadas em casos de cancro do pulmão.
A cirurgia robótica com o sistema da Vinci tem comprovado ser uma opção crescente no tratamento do cancro do pulmão, tendo em conta as suas inúmeras vantagens que ajudam os cirurgiões a realizarem procedimentos mais precisos e menos invasivos, com menor trauma para o paciente, redução de dor pós-operatória e recuperação mais rápida.
Mais poder aos cirurgiões na luta contra o cancro
Para João Maciel, especialista em cirurgia torácica do Hospital de Santa Marta – ULS São José, “a nossa equipa conta com quase 600 cirurgias torácicas realizadas anualmente e regista uma tendência inequívoca de crescimento. Quanto às intervenções que mais beneficiam de cirurgia com o sistema robótico da Vinci, destacam-se a patologia do mediastino, com indicação para timectomia alargada, e as doenças oncológicas pulmonares”. Sobre as principais vantagens da cirurgia assistida com o sistema robótico da Vinci nas doenças oncológicas do pulmão, o especialista salienta que “no cancro do pulmão é fundamental o esvaziamento mediastínico invasivo, que é, decididamente, facilitado pelo sistema robótico da Vinci. O fácil acesso ao mediastino permite uma dissecção mais exaustiva das estações ganglionares o que leva inevitavelmente a um esvaziamento ganglionar mais extenso”.
Ana Rita Costa, cirurgiã torácica robótica do Hospital de Santa Marta, da USL São José, acrescenta ainda que “no cancro do pulmão, cirurgias mais complexas como segmentectomias são possíveis e facilitadas com o sistema robótico, permitindo a dissecção e isolamento de estruturas vasculares mais distais, que seriam menos acessíveis por outras técnicas minimamente invasivas”. Quando questionados sobre resultados registados nos pacientes oncológicos intervencionados através de cirurgia robótica assistida com sistema da Vinci, ambos os especialistas concordam que “os doentes oncológicos submetidos a Robot-Assisted Thoracic Surgery (RATS) apresentam tempos de drenagem torácica mais curtos e, consecutivamente, internamentos hospitalares também mais reduzidos, quando comparados com doentes submetidos ao mesmo procedimento por outras abordagens”.
Sobre as expetativas face ao recurso à cirurgia torácica robótica com o sistema da Vinci, o João Maciel adiante que: “com a disponibilidade crescente da tecnologia robótica, acredito que o número de cirurgiões credenciados para esta abordagem vai aumentar nos próximos anos, o que vai consolidar a experiência técnica e levar a que cada vez mais doentes, e com patologias mais complexas, possam ser submetidos a cirurgia robótica”.
Já a Drª Ana Rita Costa assume que ”todas as ferramentas de que possamos dispor para dar aos nossos doentes uma resposta mais eficaz e eficiente, de acordo com a melhor prática clínica, são bem-vindas. A robótica é, indubitavelmente, uma tecnologia que os cirurgiões atuais devem acrescentar ao seu arsenal terapêutico, pois tudo indica que, quando devidamente utilizada e em doentes selecionados, tem benefício clínico”.
Cirurgia torácica com sistema robótico da Vinci
O sistema da Vinci permite efetuar cirurgia pulmonar através de pequenas incisões, aproximadamente do tamanho da ponta de um dedo. Com o sistema robótico da Vinci, o cirurgião senta-se numa consola, através da qual controla uma câmara e os pequenos instrumentos utilizados para realizar a cirurgia.
Os manípulos da consola transmitem os movimentos efetuados pelo cirurgião aos braços do robô e possibilitam uma rotação de 540º – mais do que a mão humana – o que permite uma maior amplitude de movimentos. A tecnologia de filtragem de tremores incorporada elimina movimentos involuntários e ajuda o cirurgião a manusear cada instrumento com maior rigor e precisão, com movimentos mais estáveis e delicados, fundamentais para operações em áreas complexas e sensíveis, como os pulmões.
A flexibilidade dos instrumentos robóticos permite alcançar e operar em áreas que podem ser difíceis de aceder com a cirurgia convencional, aumentando as opções de tratamento para tumores localizados em locais complexos.
O sistema proporciona ainda uma visão de 3D de alta definição, com ampliação até 10 vezes da área cirúrgica, o que permite uma visualização clara das estruturas anatómicas, para uma disseção mais precisa dos tecidos adjacentes ao tumor.
Estas características tornam o sistema robótico da Vinci uma opção eficaz e menos traumática para o tratamento cirúrgico do cancro do pulmão, dado que permite que os pacientes tenham uma recuperação mais rápida, menor dor e menos complicações pós-operatórias, como infeções ou problemas respiratórios.