Cirurgia robótica ajuda cirurgiões a combater cancro do pulmão 

Em Portugal, o cancro no pulmão é quarta doença oncológica mais frequente, com  aproximadamente 6 000 novos casos diagnosticados, anualmente.
1 de Agosto, 2024

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o cancro é uma das principais  causas de morte em todo o mundo. As últimas estimativas do IARC Global Cancer  Observatory indicam que, em 2022, o cancro do pulmão foi o mais frequente a nível  global, com 2,5 milhões de novos casos, o que representou 12,4% do total de novos  diagnósticos de doenças oncológicas.  

Em Portugal, esta é a quarta doença oncológica mais frequente, com  aproximadamente 6 000 novos casos diagnosticados, anualmente. Nos homens, o  cancro do pulmão é a principal causa de morte relacionada com neoplasia, enquanto  que nas mulheres representa a terceira causa de morte. Nos últimos anos, tem-se vindo  a verificar uma tendência crescente da doença, com cada vez mais casos de cancro  do pulmão a surgirem anualmente, no nosso País. 

É importante lembrar que a luta contra o cancro assenta, sobretudo, na prevenção  primária e no diagnóstico precoce. No entanto, quando o tratamento inclui cirurgia, o  sistema robótico da Vinci tem demonstrado ser um grande aliado das equipas médicas no combate ao cancro do pulmão. 

Os principais procedimentos de cirurgia torácica assistidos por robótica são a cirurgia  de resseção anatómica pulmonar, nomeadamente lobectomias e segmentectomias  pulmonares, assim como cirurgia de ressecção de tumores do mediastino e  timectomias. Em 2023, foram realizadas mais de 20 mil cirurgias robóticas com o sistema  da Vinci em patologias oncológicas, na Península Ibérica. Destas intervenções, mais de  9,4% foram efetuadas em casos de cancro do pulmão. 

A cirurgia robótica com o sistema da Vinci tem comprovado ser uma opção crescente  no tratamento do cancro do pulmão, tendo em conta as suas inúmeras vantagens que  ajudam os cirurgiões a realizarem procedimentos mais precisos e menos invasivos, com  menor trauma para o paciente, redução de dor pós-operatória e recuperação mais  rápida. 

Mais poder aos cirurgiões na luta contra o cancro 

Para João Maciel, especialista em cirurgia torácica do Hospital de Santa Marta – ULS São José, “a nossa equipa conta com quase 600 cirurgias torácicas realizadas anualmente e regista uma tendência inequívoca de  crescimento. Quanto às intervenções que mais beneficiam  de cirurgia com o sistema robótico da Vinci, destacam-se a patologia do mediastino, com indicação para timectomia alargada, e as doenças oncológicas  pulmonares”.  Sobre as principais vantagens da cirurgia assistida com o  sistema robótico da Vinci nas doenças oncológicas do  pulmão, o especialista salienta que “no cancro do pulmão é fundamental o esvaziamento mediastínico invasivo, que é, decididamente, facilitado pelo sistema robótico da Vinci. O fácil acesso ao  mediastino permite uma dissecção mais exaustiva das estações ganglionares o que  leva inevitavelmente a um esvaziamento ganglionar mais extenso”. 

Ana Rita Costa, cirurgiã torácica robótica do Hospital  de Santa Marta, da USL São José, acrescenta ainda que “no cancro do pulmão, cirurgias mais complexas como  segmentectomias são possíveis e facilitadas com o sistema robótico, permitindo a dissecção e isolamento de estruturas vasculares mais distais, que seriam menos acessíveis por  outras técnicas minimamente invasivas”. Quando questionados sobre resultados registados nos  pacientes oncológicos intervencionados através de cirurgia robótica assistida com sistema da Vinci, ambos os especialistas concordam que “os doentes oncológicos submetidos a Robot-Assisted Thoracic Surgery (RATS) apresentam tempos de drenagem torácica mais curtos e, consecutivamente,  internamentos hospitalares também mais reduzidos, quando comparados com doentes  submetidos ao mesmo procedimento por outras abordagens”

Sobre as expetativas face ao recurso à cirurgia torácica robótica com o sistema da  Vinci, o João Maciel adiante que: “com a disponibilidade crescente da tecnologia  robótica, acredito que o número de cirurgiões credenciados para esta abordagem vai  aumentar nos próximos anos, o que vai consolidar a experiência técnica e levar a que  cada vez mais doentes, e com patologias mais complexas, possam ser submetidos a  cirurgia robótica”

Já a Drª Ana Rita Costa assume que ”todas as ferramentas de que possamos dispor para  dar aos nossos doentes uma resposta mais eficaz e eficiente, de acordo com a melhor  prática clínica, são bem-vindas. A robótica é, indubitavelmente, uma tecnologia que  os cirurgiões atuais devem acrescentar ao seu arsenal terapêutico, pois tudo indica que,  quando devidamente utilizada e em doentes selecionados, tem benefício clínico”. 

Cirurgia torácica com sistema robótico da Vinci 

O sistema da Vinci permite efetuar cirurgia pulmonar através de pequenas incisões,  aproximadamente do tamanho da ponta de um dedo. Com o sistema robótico da  Vinci, o cirurgião senta-se numa consola, através da qual controla uma câmara e os  pequenos instrumentos utilizados para realizar a cirurgia

Os manípulos da consola transmitem os movimentos efetuados pelo cirurgião aos  braços do robô e possibilitam uma rotação de 540º – mais do que a mão humana – o  que permite uma maior amplitude de movimentos. A tecnologia de filtragem de  tremores incorporada elimina movimentos involuntários e ajuda o cirurgião a manusear cada instrumento com maior rigor e precisão, com movimentos mais estáveis e  delicados, fundamentais para operações em áreas complexas e sensíveis, como os  pulmões. 

A flexibilidade dos instrumentos robóticos permite alcançar e operar em áreas que  podem ser difíceis de aceder com a cirurgia convencional, aumentando as opções de  tratamento para tumores localizados em locais complexos

O sistema proporciona ainda uma visão de 3D de alta definição, com ampliação até  10 vezes da área cirúrgica, o que permite uma visualização clara das estruturas  anatómicas, para uma disseção mais precisa dos tecidos adjacentes ao tumor. 

Estas características tornam o sistema robótico da Vinci uma opção eficaz e menos  traumática para o tratamento cirúrgico do cancro do pulmão, dado que permite que  os pacientes tenham uma recuperação mais rápida, menor dor e menos complicações  pós-operatórias, como infeções ou problemas respiratórios.

Opinião